As celebrações do Dia Internacional da Mulher em 2025 guardam dois simbolismos especiais. Há 50 anos, em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o Ano Internacional da Mulher e oficializou o 8 de março como data da luta contra a desigualdade entre homens e mulheres
Além disso, as nações também comemoram agora o 30º aniversário da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, assinada em 1995. O documento, adotado por 189 países, estabelece uma base que incentiva nações a buscarem soluções para temas como saúde, paz, participação política, economia e eliminação da violência a partir de uma perspectiva de gênero.
A Editora Expressão Popular, em parceria com o Brasil de Fato, selecionou oito obras fundamentais para decifrar as raízes históricas, os desafios e as estratégias de resistência feminista no Brasil e no mundo. As recomendações vão da teoria marxista às vozes revolucionárias que moldaram a luta das mulheres.
Confira abaixo as nossas sugestões para o debate sobre o 8M, um marco de mobilização global contra a opressão de gênero e pela reflexão crítica sobre a urgência de igualdade, direitos e emancipação.
A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência – Elisabeth Souza-Lobo
Celebrando três décadas de sua primeira edição, este clássico da sociologia do trabalho desnaturaliza a divisão sexual do trabalho com artigos e ensaios teóricos do período em que Lobo estudou a região industrial do ABC paulista. A coletânea revela como as mulheres operárias desafiaram a hierarquia de gênero e atuaram nos sindicatos e no cotidiano fabril, oferecendo uma análise pioneira sobre a interseção entre classe e feminismo. A obra representa um legado indispensável para entender a resistência das trabalhadoras no capitalismo.
Eleanor Marx – uma vida – Rachel Holmes
Primeira biografia de Eleanor Marx publicada no Brasil, a obra desvenda a trajetória da filha caçula de Karl Marx, figura-chave para o feminismo socialista. Holmes destaca o ativismo internacionalista de Eleanor com uma escrita envolvente. O livro expressa a importância da vida de uma mulher que foi essencial para temas como a jornada de 8 horas e a proibição do trabalho infantil. Na história de coragem, que une herança intelectual e militância nas ruas, leitoras e leitores têm uma visão especial da personalidade que representou uma ponte entre a teoria marxista e a luta concreta pela emancipação das mulheres.
Gênero, patriarcado, violência – Heleieth Saffioti
Nas 160 páginas de texto incisivo, Saffioti desmonta a violência de gênero como mecanismo estrutural do capitalismo e prática naturalizada na sociedade. Com dados empíricos e rigor teórico, a autora desnuda a construção social da submissão de gênero e demonstra como o patriarcado se entrelaça à exploração de classe. Contundente, ela expressa a faceta cruel da normalização da opressão e, objetivamente, estabelece que a libertação das mulheres só virá com a superação do sistema capitalista.
Kollontai e a revolução: escritos sobre amor e luta – Alexandra Kollontai. Organizado por Annabelle Bonnett, Renata Moreira e Maísa Amaral
Esta antologia reúne 12 textos da revolucionária russa Alexandra Kollontai, que ousou repensar o amor, a família e a maternidade sob a ótica socialista. Escritos de 1907 a 1927, eles foram produzidos em pleno processo de luta de classes. Kollontai defendeu creches coletivas, divisão justa do trabalho doméstico divórcio e igualdade sexual em um período que tratava todos esses assuntos como tabu, mostrando que a libertação das mulheres é inseparável da transformação econômica. A obra é um convite às possibilidades de ação coletiva para construção de uma sociedade livre do terror da exploração.
Marxismo e a opressão às mulheres: rumo a uma teoria unitária – Lise Vogel
Publicado no Brasil quase 40 anos após sua primeira edição internacional, a obra da marxista estadunidense investiga a articulação entre reprodução social e acumulação capitalista. Vogel apresenta uma teoria unificada, vinculando o trabalho doméstico não remunerado diretamente à manutenção do sistema. Dialogando com Marx, Engels e feministas como Clara Zetkin, Eleanor Marx e Juliet Mitchell, a autora desvenda como o capitalismo instrumentaliza o corpo feminino e por que a luta anticapitalista deve ser, necessariamente, antipatriarcal.
A mulher na sociedade de classes: mito e realidade – Heleieth Saffioti
Mais uma sugestão de autoria da socióloga marxista, professora e militante feminista brasileira, esse clássico debate como raça, classe e sexo se combinam e formam a lógica perversa da opressão das mulheres na sociedade capitalista. Atual mesmo 50 anos após sua primeira edição, o livro demonstra que atributos biológicos são convertidos em desvantagens estruturais, reforçando hierarquias. Sua conclusão é mais um manifesto que comprova que a emancipação total exige o fim do capitalismo e a construção de um projeto socialista.
Origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres – Ana Isabel Álvarez González
Gonzáles investiga as narrativas sobre a criação do 8 de Março e desmistifica o mito que conecta a efeméride a um incêndio em uma fábrica na cidade estadunidense de Nova York (1911). Ela resgata a história das mulheres socialistas que, desde 1910, transformaram a data em símbolo de luta por direitos trabalhistas, voto e igualdade. Uma jornada pela memória das revolucionárias que colocaram o feminismo no centro da agenda anticapitalista.
A questão da mulher – De um ponto de vista socialista – Eleanor Marx e Edward Aveling
Escrito em 1886, este manifesto antecipou debates atuais: casamento como instituição opressora, educação sexual e autonomia econômica. A posição visionária de Eleanor Marx é um presente da obra, que convida à discussão sobre a construção do socialismo feito por mulheres e direcionado a elas. Mais de 130 anos após a publicação, temas como educação sexual, monogamia e prostituição seguem estigmatizados. A reflexão da obra continua atual e oferece elementos para um diálogo cada vez mais necessário. Vista como cerne do projeto socialista, a luta das mulheres é colocada na raiz da revolução.