O 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, foi marcado por mobilizações em todo o estado. Na capital e nas principais cidades do interior, as mulheres foram às ruas em defesa de melhores condições de trabalho, a exemplo do fim da escala 6×1, por educação e em luta contra o feminicídio, racismo e fascismo.
Em Salvador, a marcha reuniu milhares de pessoas que seguiram em caminhada do Cristo ao Farol da Barra. Ao som da percussão da banda A Mulherada, que puxou o cortejo, diversos movimentos populares, entidades sindicais, trabalhadoras e estudantes ecoaram gritos de luta pela vida e direitos das mulheres.

Leninha Valente, presidenta da Central Única dos Trabalhadores da Bahia (CUT-Bahia), destaca a importância da autonomia financeira como uma pauta central das mobilizações.
“Temos diversos desafios, como a questão de combater a violência contra a mulher, que é uma pauta constante. Mas penso que o grito de liberdade que todas nós, mulheres, precisamos é ter dignidade, emprego e renda. Se a mulher tem a sua renda, ela vai buscando sua liberdade, sua autonomia. Então nossa luta é também para garantir a mulher no mercado de trabalho com salário digno”, aponta.
Já Raquel Nery, presidenta do Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub), salienta que, num contexto de avanço da extrema-direita, que se opõe aos direitos das mulheres, defender a educação também é uma bandeira de luta que precisa ser defendida.
“A gente entende que o caminho para superação das desigualdades passa pela educação. Então a nossa luta é também por uma educação de qualidade, em que mais mulheres cheguem na universidade, que possam construir suas carreiras, suas vidas, suas subjetividades emancipadas. E para que elas também construam um mundo melhor, com segurança, segurança inclusive ambiental, para nossas filhas e gerações que vierem depois. É um momento de mais união, mais organização e mais fortalecimento da luta”.
Avanço do conservadorismo
Outra questão apontada pelas mulheres são os retrocessos motivados, sobretudo, pelo crescimento do fundamentalismo religioso na sociedade. Sônia Mota, pastora da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Diretora Executiva da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), destaca que esse cenário, dentro e fora das igrejas, nos coloca em alerta.
“O avanço do conservadorismo e do fundamentalismo religioso nas pautas que interessam às mulheres tem sido, pra gente, de uma tristeza muito grande e nos faz ficar alertas de que precisamos estar o tempo todo na luta defendendo as nossas bandeiras e os nossos direitos. E tem também a questão da normatização dos nossos corpos. Temos vistos lideranças religiosas usarem os púlpitos das igrejas para normatizar os nossos corpos, retirar nossos direitos e muitas vezes até pra acirrar esse patriarcado que por muito tempo submeteu as mulheres aos seus caprichos e seus poderes” salienta.
A deputada estadual suplente Lucinha do MST (PT-BA) também destaca o protagonismo das mulheres na luta por justiça diante das tentativas de golpe de Estado lideradas pela extrema-direita após as eleições de 2022.
“Estamos em um momento ímpar agora pela não anistia de todos que violaram nossos direitos, os que prenderam o presidente Lula, golpearam a presidenta Dilma e querem voltar ao poder de novo. Então é muito importante essa demonstração de mulheres na rua para garantia de direitos e abertura de novas possibilidades”.

Interior do estado
Lucinha também destaca que as regionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Bahia se preparam para a Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra, que tem início na próxima terça (11) em todo o país. Em Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, as camponesas estiveram presentes na mobilização que aconteceu na Praça 9 de Novembro, no centro da cidade. Em meio a atividades culturais, as mulheres protestaram contra o racismo, fascismo e em defesa da democracia, por trabalho digno, legalização do aborto, reparação e Bem Viver.
Em Feira de Santana, a 110 km de Salvador, as mulheres foram às ruas no centro da cidade pelo fim do feminicídio, pelo direito à cidade e o Bem Viver. Monica Bitencourt, da coordenação municipal do Levante Popular da Juventude, destaca a importância das mulheres negras também estarem nas ruas.

“O 8 de março é um grito coletivo pela nossa luta e pelos nossos direitos. As mulheres negras, principalmente, carregam uma história de resistência que não pode ser apagada. Quando ocupamos as ruas, estamos dizendo que não vamos aceitar mais o silenciamento, a violência, desigualdade e opressão. Estar na rua é afirmar que temos força, que o futuro é nosso e que vamos continuar lutando por uma sociedade em que todas possam ser livres e respeitadas. É um momento de unir forças e exigir mudanças estruturais, lutar por saúde, educação, segurança e contra o racismo e a misoginia”, salienta a militante.