Pouco mais de três meses após China e Brasil elevarem o nível de suas relações diplomáticas por decisão dos presidentes Xi Jinping e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a medida parece começar a dar os primeiros frutos. Isso porque aproximações econômicas e sociais vêm ocorrendo entre diversos setores dos dois países, como foi o caso da Conferência de Intercâmbio e Cooperação Econômica e Comercial entre a China e o Brasil.
Organizado pelo governo da província de Shandong e sediado em São Paulo, o evento reuniu nesta segunda-feira (10) empresários chineses e brasileiros de diferentes ramos, além de autoridades como o vice-governador de Shandong, Song Junji, e o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
O brasileiro foi um dos que enfatizou os acordos assinados por Xi e Lula durante a reunião de cúpula em Brasília que ocorreu em novembro do ano passado, afirmando que os dois países querem avançar em áreas de alimentos, industriais e mineração.
“Precisamos de atos concretos para fortalecer as boas relações diplomáticas e comerciais”, disse Fávaro, apelando também para a urgência do contexto regional e da cooperação no âmbito dos Brics.
“Tenho certeza que em momentos como esse de instabilidade geopolítica, o fortalecimento do Brics e do Sul Global e a fortalecimento da relação Brasil-China serão pontos sólidos para a estabilidade mundial”, disse. O vice-governador de Shandong também citou os acordos assinados por Xi e Lula no ano passado, que serviram para a criação da chamada Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil-China por Um Mundo Mais Justo e Um Planeta Mais Sustentável, um termo diplomático que simbolizou a elevação do status de relação entre os países.
Para Song Junji, é preciso “aprofundar a cooperação para a construção de um mundo mais justo e um planeta mais sustentável”.
“[Shandong é] uma das províncias costeiras mais desenvolvidas da China. E o presidente Xi nos deu a missão de ser a vanguarda nessa relação com o Brasil para um desenvolvimento sustentável e de alta qualidade”, afirmou.
Potencialidades
Se no âmbito diplomático os discursos parecem afinados, do ponto de vista econômico governo e setor privado tentam aproximações. Para a conferência vieram empresários dos mais distintos ramos para oferecer consultoria, tecnologia, infraestrutura, insumos e diversas manufaturas – e, em troca, buscar principalmente mercado e entender o funcionamento dos negócios brasileiros.
E recursos – industriais e financeiros – Shandong possui em abundância. A região é a 4ª província chinesa que mais exportou em 2024, e a 6ª que mais importou. De 2023 para 2024 a província cresceu 6% e passa por um processo de renovação industrial.
No último ano, o número de empresas de alta tecnologia ultrapassou 35 mil e as startups de tecnologia já são mais de 50 mil. Além disso, conta com 350 rotas marítimas, o maior volume de cargas da China, e por 26 anos consecutivos é a maior exportadora de produtos agrícolas do país.
Em 2023, a economia de Shandong alcançou um PIB de 9,2 trilhões de yuan (cerca de R$ 7 trilhões), tornando-se a terceira maior economia da China. Todo esse crescimento fez o jornal South China Morning Post classificar a região como tendo um “papel chave” nos planos de Pequim.
Brasil e Shandong: negócios
Para o vice-governador de Shandong, a província e o Brasil “possuem economias complementares”, já que a região poderia oferecer investimentos em “agroindústria, mineração e energias renováveis”, uma vez que o território brasileiro possui “commodities agrícolas e minerais altamente competitivas”.
Atualmente, o Brasil é o 9º principal destino de exportações de Shandong, totalizando em 2024 US$ 1,3 bilhões. Já no quesito importações, o país é o 4º que mais compra da província chinesa, alcançando um total de US$ 15,7 bilhões em 2024.
O plano estaria previsto pelos acordos firmados entre Pequim e Brasília no ano passado. Ao todo, foram assinados 37 acordos que incluem aberturas de mercado para produtos agrícolas, intercâmbio educacional, cooperação tecnológica, comércio e investimentos, infraestrutura, indústria, energia, mineração, finanças, comunicações, desenvolvimento sustentável, turismo, esportes, saúde e cultura.
Entretanto, a cooperação não deve limitar-se apenas a comércio e produção. Para Shen Xin, vice-presidente da Associação de Amizade do Povo Chinês com Países Estrangeiros, há espaço para comunicação, conhecimento e até mesmo para arte.
“Temos que fortalecer a cooperação e estabelecer mecanismos de intercambio entre governos locais. O mundo passa por transformações e precisamos formar uma comunidade de destino compartilhado com think tanks e veículos de imprensa”, disse.
Para o funcionário chinês, é importante “apostar na inovação apara aprofundar o intercâmbio entre cidades irmãs e colaborar em áreas além dos setores tradicionais, como economia verde e comércio digital”.
“Sabemos que a harmonia entre as nações e a convivência pacífica são características da relação. China e Brasil possuem culturas ricas e queremos criar um ambiente vibrante entre nossos povos.”