Ao contrário do que se costuma pensar e dizer, o Governo Eduardo Leite trata a educação como prioridade e se determina a fazer dela um instrumento de transformação da sociedade. Mas paremos por aí, porque quando analisamos o conteúdo do que está acontecendo, o arrepio toma conta do corpo.
Leite, quadro político formado nas escolas mais destacadas do neoliberalismo internacional, aplica um projeto estruturado e objetivado para a educação pública. Consegue ─ com força, habilidade e resolução ─ equilibrar a lógica mercantil e privatista (afinal educação é uma mercadoria valiosa, ambicionada pelos empresários e solicitada pela população) com a doutrinação ideológica capitalista e, pasmem, com a oferta média de ensino em baixíssimas condições e qualidade para a massa da juventude.
Não se bastando nessa tríade Leite ataca, massacra, tenta destruir o pilar fundamental da escola pública: os trabalhadores e trabalhadoras em educação.

Faz todo o sentido enquanto projeto e perspectiva. As privatizações, os convênios com fundações empresariais, as terceirizações e as obras despejam gordas fatias do orçamento público nos bolsos dos mercadores do ensino. Ponto. Ao mesmo tempo, cuida-se zelosamente para que o projeto político-pedagógico incuta nas escolas um ideário pró-neoliberal: empreendedorismo, liderança, identidades, educação financeira, projeto de vida, etc entram no currículo com a finalidade de dobrar a juventude com os encantos da dita livre iniciativa.
Porém, para a consecução desse projeto modelar, há elementos aparentemente contraditórios: a infraestrutura física das escolas estaduais é precária e só acontecem reformas na medida, ritmo e interesse das empreiteiras contratadas pelo Governo do Estado. Mais: a precariedade estrutural é acompanhada de uma péssima condição de trabalho, salário e saúde para os profissionais da educação, o que impacta tragicamente nas condições de ensino-aprendizagem.
Ledo engano.
Está formada a tempestade perfeita. Muita grana para o capital, introdução de um conceito pedagógico alienante e doutrinário, baixa qualidade da educação e esmagamento dos educadores com salários miseráveis, jornadas exaustivas e burocracias torturantes são peças-chave na estruturação de uma escola dualista. Ou pior, de uma educação tripartite: escola privada de qualidade para quem pode pagar, alguns centros de excelência na rede pública e uma imensa maioria de escolas que sobrevivem pedagogicamente na resistência e resiliência das educadoras e educadores.
Assim o imaginário se transforma em algo real e a distopia neoliberal tem lugar na Terra como se perfeição ou redenção fosse. Mas ─ e sempre há um mas ─ a existência, resiliência e resistência das trabalhadoras e trabalhadores em educação sobe a nota em um tom e se abre uma senda por onde não só a categoria, também mais do que a comunidade escolar, mas sim a própria sociedade têm a oportunidade de ver as vísceras de um projeto que golpeia presente e futuro das gerações educadoras e estudantis.
O ano de 2025, antes espremido entre um 2024 de eleições municipais que prenunciavam um 2026 de polarização, dispersão ou favoritismo, cede vez à obviedade: é o ano onde os projetos e as aspirações políticas maiores estarão a pleno vapor e, no contrafluxo, o enfrentamento e as mobilizações populares apontarão caminhos e desafios para o povo organizado.
Tomando o Rio Grande como parte do todo e entendendo que a contradição se estabelece entre combater o neoliberalismo e fortalecer a frente ampla, a agenda popular precisa engendrar novas aspirações, mais democrática e de caráter popular. Em especial naquilo que toca à Educação Pública, pois é no chão da escola que se sente a crueldade da política e projeto de Leite.
Vamos à luta!
* Professor das redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS, vice-presidente do Cpers, secretário de Comunicação da CTB-RS
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
