Parlamentares do campo da esquerda e representantes de diferentes segmentos civis cobraram, nesta quarta-feira (12), a votação do pedido de cassação do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) na Câmara dos Deputados. O tema teve realce em meio a uma sessão solene que homenageou a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e o motorista Anderson Gomes, assassinados em março de 2018 em um atentado político. Preso preventivamente há um ano, Brazão é apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como mandante do crime e teve a prisão mantida pelo plenário da Câmara em abril. Na sequência, o parlamentar teve o pedido de cassação aprovado pelo Conselho de Ética da Casa, mas o tema ainda não foi apreciado pelo plenário, ao qual cabe a decisão final.
“Embora já tenham se passado sete anos [das mortes], a gente ainda precisa lutar por justiça para Marielle. É verdade que toda a luta por justiça garantiu que se chegasse aos executores e agora, no ano passado, aos mandantes. A gente teve que derrotar o Bolsonaro e eleger o Lula para ter um governo que quisesse investigar e chegar aos mandantes, mas ainda hoje, nas vésperas do 14 de março de 2025 [data de aniversário das mortes], a Câmara não pautou a cassação do Brazão, que é acusado de ser o mandante de um crime político, que ceifou a vida de Marielle e de Anderson. Então, este é um dia de luta por justiça”, exalta Fernanda Melchionna (Psol-RS), uma das parlamentares que solicitaram a sessão de homenagem à dupla.

A sessão contou com a manifestação de múltiplas vozes, entre elas a da viúva de Anderson, Aghata Arnaus Reis, que fez uma participação virtual no evento. “Depois de tantos anos de dor, de luta, de perguntas sem respostas, a gente se junta mais uma vez pra honrar a memória da Marielle e do Anderson, mas é a primeira vez desde o crime que a gente consegue se reunir após um passo muito significativo, que foi o julgamento dos executores, no final do ano passado. Foi um passo essencial, mas ainda incompleto. A gente sabe que a justiça real só vai ser feita quando os mandantes e qualquer outra pessoa envolvida consiga ser julgada e condenada pelo que eles fizeram”, cobrou.
Também signatária do pedido de realização da sessão de homenagem, Talíria Petrone (Psol-RJ) disse que a jornada em busca de justiça para o caso Marielle envolve lutas que vão além do caso específico da vereadora, alcançando batalhas plurais travadas por segmentos do campo progressista. “Para que Marielle esteja presente, precisamos nos levantar contra a ordem que a matou, a mesma ordem que continua assassinando defensores de direitos humanos, criminalizando a pobreza e tentando silenciar as vozes que lutam por justiça”, destacou, ao lembrar que o Brasil tem destaque no mapa mundial dos países onde mais se matam pessoas com esse perfil.

“Segundo o levantamento das organizações Terra de Direitos e Justiça Global, entre 2019 e 2022 foram registrados 1.171 casos de violência contra esses defensores, com 169 pessoas assassinadas. Hoje ocupamos o vergonhoso quarto lugar no ranking mundial de assassinatos de lutadores e lutadoras pelos direitos humanos. Vivemos em um país onde o direito à propriedade tem, cada vez mais, um peso maior do que o direito à vida. Nesse cenário, ser defensor dos direitos humanos significa colocar a própria existência em risco”, emendou Talíria.
Irmã da vereadora assassinada e ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco disse que a luta pela memória da trajetória política de Marielle está diretamente relacionada à luta em prol do bem-viver coletivo. “Esse projeto político de país em que a gente acredita é um projeto que a Mari defendia e que muitos que estão aqui hoje também defendem. E, toda vez que eu paro para pensar o quanto nós caminhamos e o que a Marielle representa, penso que esse bem-viver não pode achar normal o número de [casos de] violência política que assolam o país; o número de mulheres assediadas em espaços de trabalho, em espaços de poder; e o número de pessoas às quais é negado [o direito de] estarem em espaços de protagonismo.”

A homenagem a Marielle e Anderson contou com o engajamento de interlocutores de diferentes segmentos civis. Representante do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos (Fonasefe), Raquel Dias sublinhou que o tema exige comprometimento de diversos setores para que se combata a violência contra as mulheres, especialmente a violência política de gênero, de classe e de raça.

“A violência a que Marielle foi submetida está na estrutura e na base da sociedade brasileira, uma sociedade autoritária. E essa luta contra a violência é também contra a sociedade capitalista, machista, misógina. O que nós queremos dizer aqui como reivindicação é que, assim como os executores foram punidos, nós queremos gritar [o pedido para] que os mandantes desse crime também sejam responsabilizados imediatamente. Essa é a nossa palavra de ordem.”