A Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Mafiusi, com o objetivo de desmantelar um esquema de lavagem de dinheiro associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação, que ficou conhecida como “Lava Jato do PCC”, revelou indícios do uso de contas ligadas a nomes como o do pastor Valdemiro Santiago, do cantor Gusttavo Lima e do patrono da escola de samba Salgueiro, Adilson Oliveira Coutinho Filho, conhecido como Adilsinho, em um sistema financeiro paralelo do crime organizado. A informação é do colunista Fausto Macedo, do Estadão, que teve acesso aos relatórios da investigação.
As movimentações bancárias rastreadas pela PF na Operação Mafiusi indicam que os citados tiveram seus nomes mencionados em transações financeiras atípicas. Nenhum dos citados havia sido formalmente indiciado até esta sexta-feira (14).
Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, é citado na investigação devido a menções em transações financeiras suspeitas. A delação de Marco José de Oliveira, empresário ligado ao PCC, sugere que a igreja pode ter sido utilizada para movimentar recursos de origem ilícita.
O cantor Gusttavo Lima é mencionado no processo por uma transação financeira que envolve sua empresa, a Balada Eventos e Produções Ltda, e a aquisição de uma aeronave. A PF apura se há relação com recursos de empresas investigadas na operação. A empresa do cantor nega irregularidades.
Adilson Oliveira Coutinho Filho, conhecido como Adilsinho, patrono da escola de samba Salgueiro, teve seu nome vinculado a transações financeiras de uma empresa que movimentou mais de R$ 9,2 milhões. A PF investiga se essas operações têm ligação com o sistema financeiro paralelo operado pelo PCC.
O esquema investigado pela PF contava com empresas de fachada e transações entre diversos setores, como turismo, venda de combustíveis, agronegócio, venda de carros e eventos musicais. O objetivo era misturar dinheiro lícito e ilícito para dificultar o rastreamento dos valores.
A investigação avançou após a delação de Marco José de Oliveira, que relatou a suposta participação de diferentes atores no esquema de movimentação financeira do crime organizado. Ele teria afirmado que igrejas, empresas de transporte e agências de turismo estavam envolvidas na movimentação dos recursos.
A PF apura um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado centenas de milhões de reais, operando há anos no Brasil e mantendo conexões internacionais com organizações como a Máfia dos Bálcãs e a ‘Ndrangheta, da Itália.
Outro lado
Em nota enviado ao Estadão, Gusttavo Lima negou qualquer irregularidade. “A Balada Eventos, empresa que administra a carreira artística do cantor Gusttavo Lima, esclarece que adquiriu uma aeronave da empresa JBT Empreendimentos e Participações Eireli, através de seus representantes legais (família Golin), em junho de 2022. Essa foi a única negociação realizada entre a Balada Eventos e a empresa JBT. A operação ocorreu de forma legal, com contrato de compra e venda formal, devidamente registrado na Anac”, diz a nota.
A JBT Empreendimentos é citada na investigação por seu possível envolvimento na movimentação de recursos suspeitos. Segundo a Polícia Federal, a empresa recebeu repasses no valor de R$ 57,5 milhões da Balada Eventos e Produções Ltda., que tem entre seus sócios o cantor Gusttavo Lima.
A defesa da empresa informou ao Estadão que a empresa e sua representante legal não possuem “relação próxima” com pessoas que teriam ligação com o PCC, conforme a investigação da PF. A nota também diz que “todas as movimentações bancárias da empresa e de sua representante legal têm e sempre tiveram origem lícita”.
O Brasil de Fato tentou contato com Adilson Oliveira Coutinho Filho e com a Igreja Mundial do Poder de Deus, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação dos citados.