O senador Humberto Costa (PT-PE), escolhido como presidente interino do partido após a saída do cargo da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), afirmou nesta quinta-feira, em Recife (PE), que não disputará as eleições do Partido dos Trabalhadores em julho. Ele disse que o foco do seu mandato no comando nacional da legenda é construir um processo eleitoral pacífico entre as correntes internas, assegurando uma forte mobilização dos filiados.
“Neste momento, o compromisso que a direção assumiu comigo é que esse mandato será de apenas quatro meses. Hoje, tenho várias responsabilidades no Senado e no PT. Atualmente, sou coordenador do grupo de trabalho eleitoral, uma tarefa de grande responsabilidade. Também faço parte da mesa do Senado, além da disputa eleitoral do próximo ano, que é minha prioridade principal”, apontou.
O senador apontou como positiva a competição interna pelo comando do partido e afirmou que trabalhará para que estas divergências não enfraqueçam o PT após o processo eleitoral.
“Nossa missão será tentar construir uma unidade partidária, para que saiamos mais fortalecidos desse processo. Construir unidade não significa que teremos uma única chapa ou um único candidato à presidência do partido. Certamente, haverá várias chapas e diversos candidatos à presidência nacional do PT. O essencial é que esse debate aconteça de maneira enriquecedora e que todos se comprometam com o resultado final.”
O senador integra a corrente Construindo Um Novo Brasil, que é a mesma da ministra e do prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Ambos protagonizaram, nos últimos dias, um racha dentro da corrente a respeito da candidatura a presidência nacional do partido.
“Ninguém imagina que vá acontecer uma chapa única, um candidato único. Até porque o partido é plural, um partido com muita diversidade política e ideológica. Agora, o que nós vamos trabalhar é aquilo que eu falei: quando for anunciado o resultado do PED [Processo de Eleição Direta], que todos estejam comprometidos, que aceitem os resultados e que as propostas aprovadas sejam incorporadas”, analisou.
Apoio ao governo
Humberto Costa indicou que, nas próximas semanas, a prioridade do governo e do partido é acelerar, no Congresso, a defesa de duas pautas que afetam diretamente a vida da classe trabalhadora: a isenção do Imposto Renda para quem recebe até R$ 5 mil e o fim da escala 6×1 sem redução de salário.
“É uma das coisas que vou colocar como prioridade nesse próximos quatro meses. Essas duas bandeiras têm muita capacidade de mobilização e vão envolver o Congresso Nacional, movimentos sociais e a sociedade”, afirmou, relembrando que o tema sofrerá ataques da extrema direita. “Até porque nós estamos vinculando essa desoneração ao aumento da taxação dos super-ricos no nosso país.”
O senador pernambucano reconheceu que o governo enfrenta desgaste de popularidade e atribuiu isso a fatores externos, entre eles a inflação. Mas ponderou que, diante do cenário deixado pelo governo anterior, o presidente Lula vem fazendo um bom governo.
“É um governo que, do ponto de vista da economia, levou o Brasil ao crescimento do seu Produto Interno Bruto, que é um dos maiores do mundo. É o país que foi considerado pelo próprio FMI como o terceiro mais eficiente que aplicou o seu ajuste fiscal, que reduziu o desemprego a patamares históricos nunca vistos antes e que mantém a inflação sob controle”.
Levantamentos recentes da Genial/Quaest apontam que, pela primeira vez, a desaprovação do presidente Lula superou a aprovação em estados que ele venceu as eleições em 2022. Entre eles está Pernambuco, o que faz com que cresça a curiosidade sobre como se darão as alianças do PT no estado em 2026.
Com a recente filiação da atual governadora Raquel Lyra ao PSD, partido que integra a base do governo federal, há uma especulação de que Lula tenha dois palanques em Pernambuco – o da própria governadora e o do seu aliado João Campos (PSB), atual prefeito do Recife.
O senador evitou entrar em detalhes sobre o assunto e indicou que a prioridade do PT é eleger o presidente Lula. As alianças locais passariam pela defesa da chapa presidencial.
“Nós temos colocado que a posição do PT nos estados deverá ser objeto de avaliação um pouco mais pra frente. Porque essa é uma eleição, fundamentalmente, nacional. A nossa meta é a reeleição do presidente Lula. Para que essa reeleição aconteça, nós precisamos fazer uma ampla frente nacional envolvendo a centro-esquerda, a esquerda e o centro.”
Além de renovar o mandato de Lula, o senador afirmou que é estratégico para o PT avançar no Senado. Ele avalia que é preocupante o crescimento da extrema direita no parlamento e que o partido precisa priorizar a renovação dos seus mandatos para conter o avanço conservador em Brasília.