Nesta sexta-feira (14), a partir das 17h, será realizado um ato em frente ao Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (Isea), em Campina Grande (PB), para protestar contra a morte do bebê Davi Elô e as consequências obstétricas sofridas por Danielle, mãe da criança. Ela recebeu alta do hospital alguns dias após a morte de Davi, mas está internada novamente após realizar novo procedimento cirúrgico.

O movimento denuncia o que classificam como “crime obstétrico” e negligência da equipe de saúde, que resultou na morte do recém-nascido e na retirada do útero de Danielle, impossibilitando-a de engravidar novamente.
O ato, organizado em especial pela Frente de Mulheres de Campina Grande e pela Associação de Doulas da Paraíba, terá caráter simbólico, com participantes levando velas, flores e outros elementos de luto para homenagear Davi Elô e chamar a atenção para a violência obstétrica, prática que afeta milhares de mulheres no país. Além de protestar, o movimento exige justiça e a criminalização da violência obstétrica, além de maior transparência nas informações sobre casos semelhantes.
MPPB investiga denúncia de violência obstétrica no Isea
O Ministério Público da Paraíba (MPPB) instaurou uma Notícia de Fato para apurar a denúncia de negligência médica no Isea. A promotora de Justiça Adriana Amorim, responsável pelo caso, afirmou que a investigação foi iniciada após o caso ganhar repercussão nas redes sociais. Entre as diligências determinadas estão as solicitações de sindicâncias pela Secretaria Municipal de Saúde, Conselho Regional de Medicina (CRM) e Conselho Regional de Enfermagem (Coren).
Diretora do Isea minimiza caso
Em declaração polêmica, a diretora do Isea, Suelen Clementino, afirmou que a morte do bebê e a retirada do útero de Danielle “poderiam ter acontecido em qualquer hospital”. A fala foi criticada por ativistas e familiares, que reforçam a necessidade de humanização no atendimento obstétrico e responsabilização dos profissionais envolvidos.
“Ruptura uterina é uma complicação obstétrica prevista na literatura, gravíssima, geralmente ocorre com aborto materno-fetal. Com a graça de Deus, temos a mãe viva contando a história. Esperamos que todos os fatos sejam apurados, mas poderia ter acontecido em qualquer unidade hospitalar”, declarou Suelen Clementino em entrevista à Rádio Correio FM de Campina Grande, na última quarta-feira (12).
Violência obstétrica: uma realidade silenciosa
Rafaela Martins, doula e ativista, destacou a coragem da família em denunciar o caso, ressaltando que a violência obstétrica é uma realidade cotidiana que muitas vezes passa desapercebida. “Muitas mulheres não entendem que sofreram violência, mas os impactos físicos e psicológicos são profundos”, afirmou.
Janine Oliveira, amiga de Danielle, assistente social e integrante da Frente Paraibana pela Legalização do Aborto, reforçou a importância do ato como um grito por justiça e humanização no atendimento às gestantes.
“Danielle estava esperando o seu primeiro filho e teve seu sonho da maternidade, de poder cuidar e amar o seu filho, arrancado de si. Foram três dias de violência que Danielle e Davi sofreram no Isea por negligência médica, pela equipe de saúde que estava acompanhando o processo do parto, que culminou na morte do seu filho Davi, complicações no seu estado de saúde, e a impossibilidade de ser mãe futuramente”, destaca Janine.
De acordo com a organização, o ato desta sexta-feira é um chamado para que casos como o de Danielle e Davi Elô não se repitam, além de um pedido por políticas públicas que garantam um atendimento obstétrico digno e seguro para todas as mulheres. Os organizadores pede que as pessoas levem flores e velas para participar do ato “em luto e em forma de homenagear Davi Elô e todas as outras vítimas”.