Vários países árabes condenaram enfaticamente nesta terça-feira (18) a retomada do genocídio da população palestina em Gaza por parte do exército israelense. Israel rompeu o cessar-fogo vigente desde 19 de janeiro e voltou a bombardear Gaza nesta terça. Segundo balanço atualizado do Ministério da Saúde do território palestino, 413 pessoas morreram. A maioria dos mortos é de crianças e mulheres, informou o órgão.
O porta-voz do grupo militante palestino Jihad Islâmica foi morto na onda de ataques aéreos israelenses durante a noite na Faixa de Gaza, disse à AFP um líder do grupo.“Naji Abu Saif, porta-voz das Brigadas Al-Quds, conhecido como Abu Hamza, e sua esposa, Shaima Abu Saif, foram martirizados em um ataque aéreo israelense”, disse o funcionário.
O Catar, um dos mediadores do cessar-fogo prolongado entre Israel e o Hamas, alertou que a escalada de Israel aumenta o risco de incendiar o conflito na região. O Ministério das Relações Exteriores do país enfatizou a necessidade urgente de retomar o diálogo para implementar os novos estágios do acordo de cessar-fogo que levou ao fim da guerra.
O Egito, que atua como mediador ao lado do Catar e dos EUA, classificou os ataques aéreos de Israel como uma “violação flagrante” do acordo. Os ataques constituem uma “escalada perigosa que ameaça trazer sérias consequências para a estabilidade da região”, disse o Ministério das Relações Exteriores.
O acordo de trégua alcançado com a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos permitiu a suspensão dos combates e bombardeios após 15 meses de conflito. Na primeira fase, que terminou em 1º de março, o Hamas entregou 33 reféns, oito deles mortos, enquanto Israel libertou quase 1,8 mil palestinos de suas prisões.
A segunda fase deveria incluir a libertação dos demais prisioneiros sob poder do movimento islamista, a retirada das tropas israelenses de Gaza e a negociação de uma trégua permanente. Mas as negociações estagnaram, com o apelo israelense por uma prorrogação da primeira fase até meados de abril, por considerar que a próxima fase exige a “desmilitarização total” de Gaza.
“Estamos acompanhando desde a noite passada o bombardeio agressivo e bárbaro de Israel na Faixa de Gaza”, disse o porta-voz da Jordânia, Mohammed Momani, enfatizando “a necessidade de interromper essa agressão”. A Turquia disse que os ataques representaram uma “nova fase em sua política de genocídio” contra os palestinos.
Em uma declaração, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia acrescentou que era inaceitável que Israel causasse um “novo ciclo de violência” na região, acrescentando que a “abordagem hostil” do governo israelense ameaçava o futuro do Oriente Médio.
A Arábia Saudita, por sua vez, criticou “nos termos mais fortes” o “bombardeio direto de áreas civis por parte de Israel, sem nenhuma consideração pela lei humanitária internacional”.
O Ministério das Relações Exteriores do reino também enfatizou “a importância da cessação imediata da matança, violência e destruição israelenses, bem como a proteção dos civis palestinos contra a injusta máquina de guerra”.
A presidência palestina, em Ramallah, fez um apelo à comunidade internacional para atuar e acabar com a “agressão” israelense. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã disse que os EUA têm responsabilidade direta pela “continuação do genocídio nos territórios palestinos ocupados”.
Em uma declaração da ONU, o secretário-geral, Antonio Guterres, disse estar “chocado com os ataques aéreos israelenses em Gaza, nos quais um número significativo de civis foram mortos” e fez um “apelo veemente para que o cessar-fogo seja respeitado, para que a assistência humanitária seja restabelecida sem obstáculos e para que os reféns restantes sejam libertados incondicionalmente”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o governo chinês está “altamente preocupado” com a situação, pedindo que as partes “evitem quaisquer ações que possam levar a uma escalada da situação e impeçam um desastre humanitário em grande escala”.
A Rússia alertou sobre uma “espiral de escalada” na sequência dos ataques de Israel. “É claro que são especialmente preocupantes os relatos de grandes baixas entre a população civil”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. “Estamos monitorando a situação de perto e, é claro, estamos esperando que ela retorne a um curso pacífico.”
O presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, disse estar “chocado e triste” com a morte de civis nos ataques israelenses em Gaza.
“A violência deve cessar e os termos do acordo de cessar-fogo devem ser respeitados”, disse Costa no X. “Todos os reféns e detidos devem ser libertados e a ajuda humanitária deve ser retomada imediatamente.”
Um porta-voz do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que os relatos de mortes de civis eram “terríveis” e pediu a todas as partes que “retornassem urgentemente ao diálogo” para acabar com os combates e para que o acordo de cessar-fogo fosse implementado “integralmente”.
O Ministério das Relações Exteriores da França pediu um cessar-fogo imediato e o retorno às negociações. Também pediu a Israel que protegesse os civis e parasse de bloquear a chegada de ajuda humanitária, água e eletricidade à Faixa de Gaza, e pediu ao Hamas que libertasse incondicionalmente todos os prisioneiros mantidos em Gaza.
Hamas acusa EUA por retomada dos ataques
O governo israelense consultou a administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes de lançar os ataques, informou a Casa Branca. O porta-voz do governo israelense, David Mencer, afirmou nesta terça que a retomada dos bombardeios, foi “totalmente coordenada com Washington”.
“Posso confirmar que o retorno aos intensos combates em Gaza foi totalmente coordenado com Washington. Israel agradeceu ao presidente [Donald] Trump e sua administração pelo apoio inabalável a Israel”, disse Mencer em entrevista coletiva.
O grupo palestino Hamas, que governa a Faixa de Gaza, culpou o governo dos Estados Unidos pela retomada dos ataques. “Com seu suporte político e militar ilimitado à ocupação [israelense], Washington carrega toda a responsabilidade pelos massacres e pelo assassinato de mulheres e crianças em Gaza”, reagiu o grupo.
O governo israelense afirmou que os bombardeios são consequência da “reiterada negativa do Hamas de libertar os reféns” e de sua “recusa de todas as propostas que recebeu do enviado americano Steve Witkoff e dos mediadores”.
Washington acusou o Hamas de escolher “a guerra” por não libertar os cinco reféns, incluindo o israelense-americano Edan Alexander, incluídos na proposta de Witkoff. O Hamas disse que estava disposto a libertar Alexander e os corpos de outros quatro prisioneiros, o que o emissário estadunidense considera uma “resposta inaceitável”.
*Com Al Jazeera e AFP