Na tarde do último domingo (16), enquanto a atenção de boa parte do Rio Grande do Sul se voltava para o jogo de futebol entre Grêmio e Internacional (Grenal) que marcou a final do campeonato gaúcho, a comunidade do Jardim Lacy, na Santa Isabel, em Viamão (RS), realizava sua primeira Assembleia Ambiental Popular.
Essa atividade foi organizada com fins de mobilizar as moradoras e moradores da região e de bairros adjacentes para enfrentar uma agressão cometida recentemente pelo Poder Público Municipal.

A assembleia ocorreu na área da antiga Praça da Cristóvão de Mendonça e teve como pauta principal a defesa da bica (fonte de água) que por décadas tem fornecido água de qualidade para quem vive na região. Participaram aproximadamente 20 pessoas, indignadas com o abuso cometido, pois sem aviso prévio ou qualquer diálogo com os interessados, em um dia de semana, quando as pessoas estavam nos seus locais de trabalho, a prefeitura simplesmente chegou com uma empresa contratada e derrubou a mata que protegia a fonte onde foi instalada a bica e abriu uma nova via no local.

Além de deixar desprotegida a fonte de água, moradores informam que suas casas foram prejudicadas pela obra realizada sem apresentação de nenhum estudo. É o caso de uma moradora, que vivia à beira de uma antiga sanga existente – hoje um valão – que passou a ter suas águas represadas e inundar a casa deixando-a com água até a canela e colocando em risco, principalmente, as crianças.
Outros informaram que a nova rua está a menos de 2 metros da porta de suas casas e que as pedras colocadas sem barreira de contenção receber o saibro ameaçam rolar sobre suas residências frente a primeira chuva.
Enquanto a atividade se desenrolava, a movimentação de pessoas a pé ou em carros para buscar água da bica foi incessante. Esta é a realidade cotidiana, visto que além das constantes faltas de água, a água normalmente fornecida pela Corsan tem se mostrado imprópria para o consumo.
Entre as manifestantes estava Dona Lúcia Maria de Lima, que lembrou na sua intervenção sobre o momento em que décadas atrás o esposo identificou a existência de um veio de água no local e abriu um duto para que ele corresse, ela lembrou que diariamente as pessoas procuram aquelas águas pela sua pureza.

Outro morador das imediações lembra que ali é um local de referência de pessoas de religiosidade de matriz africana sendo considerado um ponto de iniciação de inúmeros filhos e filhas de santos e que a destruição da bica representa um desrespeito a esta religiosidade.
Ao final da assembleia várias pessoas compuseram o comitê em defesa da Bica da Cristóvão de Mendonça e criaram um grupo para definir os próximos passos, que deve passar por abrir uma ação civil pública em defesa dos direitos da comunidade.
*Airton Garcez de Moraes (Guga) é integrante do Comitê em Defesa da Bica da Cristóvão de Mendonça.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
