Porto Alegre (RS) e diversas cidades brasileiras foram palco, nesta terça-feira (18), de manifestações organizadas por centrais sindicais contra os juros altos, pela isenção de Imposto de Renda e a redução da jornada de trabalho. Os protestos fazem parte do Dia Nacional de Mobilização Menos Juros, Mais Empregos, convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras entidades.
Na capital gaúcha, manifestantes se reuniram logo pela manhã em frente ao Colégio Júlio de Castilhos, de onde seguiram em caminhada até a sede do Banco Central, no Centro Histórico. Com faixas e cartazes, cobraram a redução da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,25% ao ano, e a redução da jornada de trabalho.

“Os juros altos encarecem o crédito e dificultam investimentos que poderiam gerar mais empregos. Já a escala 6×1 impacta diretamente a qualidade de vida dos trabalhadores, impedindo que eles tenham tempo adequado para o lazer e o convívio familiar”, afirmou o presidente da CUT/RS, Amarildo Cenci.

Além de Porto Alegre, atos semelhantes ocorreram em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte e Recife. Na capital paulista, manifestantes se concentraram na Avenida Paulista, em frente à sede do Banco Central. Em Brasília, o ato ocorreu em frente ao Congresso Nacional e reuniu trabalhadores de diferentes categorias. Em Recife, a manifestação teve como foco o impacto dos juros altos na economia nordestina.
As centrais sindicais prometem manter a pressão e já planejam novos atos e negociações com o governo e parlamentares para discutir a pauta.
Aumento das taxas de juros
Os atos ocorrem no mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia sua reunião para definir a taxa básica de juros da economia, a Selic. A expectativa é que o colegiado decida por um aumento de 1 ponto percentual, conforme sinalizado na ata da reunião anterior. A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. O Copom costuma elevar a taxa sempre que identifica riscos de que a inflação ultrapasse a meta estabelecida.

Para 2025, a meta de inflação foi fixada em 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação, não deveria superar 4,5% neste ano. Atualmente, o IPCA acumulado dos últimos 12 meses está em 5,06%, acima do limite da meta. As projeções do mercado financeiro indicam que a inflação pode fechar o ano em 5,66%, superando ainda mais o teto estipulado.
A taxa Selic, que hoje está em 13,25% ao ano, deve subir para 14,25% após a decisão do Copom nesta quarta-feira (19), segundo estimativas dos bancos. Até o final de 2025, a expectativa é que a taxa alcance 15% ao ano.

Segundo Cenci, a luta contra os juros altos é uma questão central para a economia do país. “Estamos numa fase de resistência e denúncia contra essa criminosa alta taxa de juros. O mercado está precificando em 15%, o que retira mais de um trilhão de reais de dinheiro do orçamento da União, transferindo essa grana para o bolso dos escriturados e dos banqueiros e retirando essa grana dos serviços públicos, da saúde, da educação, do transporte coletivo, da indústria, da infraestrutura que nós precisamos melhorar no nosso país.”
Ele afirma que para melhorar a vida do trabalhador, estão resistindo para isentar até R$ 5 mil, porque dá aproximadamente R$ 30 bilhões. “Sendo que apenas 1% da taxa Selic que eles vão aumentar, é R$ 55 bilhões. Então é contra isso, estamos resistindo a isso. Por isso nós vamos ficar na rua, porque o governo federal tem que ter posicionamento sobre esse assunto.”
A vida não tem hora extra
A CUT/RS lançou recentemente a campanha A vida não tem hora extra, visando reduzir a jornada de trabalho e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

Cenci explica a relação entre a luta contra os juros altos e a campanha pelo fim da escala 6×1. “Tem tudo a ver. O mundo da especulação, o mundo dos banqueiros, é retirar direitos. A carga máxima do trabalho e a relação do capital, desde que ele surgiu, é na exploração da mão de obra. É sobre a vida das pessoas, é sobre o tempo que ele tem disponível, que ele é explorado, que ele trabalha, para poder rentabilizar e dar mais lucro para o seu empregador. Então, essas duas coisas têm tudo a ver.”
O presidente da central, avalia que o setor especulador, o rentista, quer ganhar dinheiro com o dinheiro, especulando a dívida pública, tirando do cartão de crédito, tirando de um cheque especial. “O empresário quer que o trabalhador continue trabalhando 44 horas, jornadas estressantes, até mesmo quando o trabalhador está doente, triste, cansado. O Brasil paga muito mal e com altas cargas de trabalho. Estamos na luta para que se divida o bolo. E que o dinheiro que o Brasil produz com a sua riqueza, com o trabalho humano, volte para os trabalhadores em benefício da vida do trabalhador. E como a gente diz, a vida não tem hora extra. A gente tem que fazer já e agora.”
