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Entre o hype passageiro e o ‘fim do meu emprego’

'É difícil acreditar que as inteligências artificiais são apenas uma moda passageira.'

Uma dúvida bastante pertinente que já escutei em diversas rodas de conversa de profissionais da área e de leigos é: “A inteligência artificial é apenas outro hype passageiro?”. A conversa sempre se desenrola a partir desse ponto, e, em algum momento, surge a questão que mais gera dúvida nas pessoas: “Ela vai tirar nossos empregos?”.

São duas questões bastante comuns que surgiram já há muitos anos e foram alavancadas com o surgimento de produtos derivados principalmente de inteligências artificiais generativas nos últimos anos. A minha resposta comum para ambas é: “Não sei”.

Geralmente, é uma resposta que incomoda as pessoas. Porém, quanto mais nos aprofundamos nesse tema, mais as dúvidas pairam no ar.

Que alguns empregos serão perdidos e pessoas substituídas por máquinas que utilizam as novas tecnologias, é óbvio. Mas quando e quais são os setores que sofrerão esse impacto ainda é uma incógnita. É impossível prever o futuro, assim como era impossível para os humanos que viveram momentos antes de grandes avanços da tecnologia saberem as respostas muito similares que habitavam suas mentes na época.

Porém, a essa altura do campeonato, é difícil acreditar que as inteligências artificiais são apenas uma moda passageira. Talvez a comunicação sobre elas ou o investimento massivo feito nesse tipo de tecnologia possam ser reduzidos com o passar do tempo, mas elas já se impregnaram em nossa sociedade de tal modo que podemos dizer que já fazem parte das nossas vidas e deverão ser levadas em consideração em qualquer tipo de pensamento sobre o futuro.

Mas essas IAs são meras ferramentas, ao menos por enquanto, e saber como elas irão se desenvolver ou se irão causar demissões em massa não é uma resposta que conseguimos ao observá-las, mas, sim, ao observar os seus detentores e quem as controla.

A política de automação industrial, que inclui o uso de IAs, adotada pela China, por exemplo, admite o fim de certas profissões, mas não a demissão em massa. Para uma empresa adotar uma ferramenta de automação, ela deve fazer um estudo de impacto na vida dos seus trabalhadores e propiciar as condições para uma realocação profissional. Isso, de certa maneira, explica a lenta adoção de ferramentas de automação mais avançadas nesse país, mesmo sendo atualmente o detentor das ferramentas de inteligência artificial mais poderosas do mundo.

Em outros lugares, esse tipo de política é inexistente e gera uma reorganização brutal de postos de trabalho que pode levar a demissões em massa e a um desemprego crescente, mesmo com um aumento relevante na produção. Como consequência disso, temos funções cada vez mais precarizadas de trabalho.

Isso, logicamente, se mistura com diversos outros fatores que precisamos levar em consideração, como as taxas de industrialização de um país, legislações, crises econômicas e diferenças tecnológicas existentes entre o capitalismo central e o capitalismo periférico.

Enfim. Responder às perguntas elencadas no início desta coluna é aceitar a complexidade desse cenário. Existe uma resposta em algum lugar, porém ela é complexa demais.

Além de tudo isso, ainda temos que levar em consideração que as inteligências artificiais ainda não funcionam em plenitude, por estarem operando em equipamentos que não foram feitos para elas. As pesquisas em computação quântica seguem avançando, e apenas quando um computador quântico funcional for criado é que saberemos a real extensão do poder dessas ferramentas — ou mesmo se elas continuarão sendo apenas meras ferramentas.

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