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Argentina: repressão estatal e autoritarismo são inerentes ao neoliberalismo, diz analista político

Podcast de política internacional debateu sobre austeridade econômica do governo argentino e marco dos anos de ditadura

Após semanas de protestos intensos contra os cortes econômicos e sociais do presidente Javier Milei, também nesta semana a Argentina vive o aniversário do golpe de 1976, que mergulhou o país em sete longos anos de ditadura.

A forte repressão às recentes mobilizações populares chocaram toda a população, e uniu organizações sociais que há muito tempo não se reuniam nas ruas para um único pretexto de reivindicação e luta há um bom tempo.

Para Miguel Stedile, analista geopolítico do Brasil de Fato, o autoritarismo e a repressão estatal constante é inerente ao neoliberalismo, vertente político-econômica seguida por Milei.

“Como você tem políticas de austeridade que são antipopulares, você precisa ter repressões, usar da violência para disciplinar e conduzir”.

Além da inflação, o desemprego também é muito disciplinador da classe trabalhadora. Esse choque econômico tem produzidos efeitos imediatos – queda da inflação, mas você tem como consequência um aumento do desemprego, desaceleração da economia e produção industrial”, acrescentou o analista.

Essa austeridade e repressão neoliberal também é uma das principais ferramentas do período de ditadura argentina dos anos 70, que o atual governo tenta, com muitos meios, apagar da memória da população.

“Eles acreditam que o que aconteceu nos anos 70 foi algo ruim, mas necessário para a reconstrução do país”, pontuou o correspondente.

“Acabar com a memória do que aconteceu nos anos 1970 é uma aposta do governo”. “O que o campo popular tem como desafio é voltar a discutir o que foram os anos 1970, o que foi o projeto da classe trabalhadora, do sindicalismo, dos estudantes, que tentaram mudar o cenário da [ditadura] Argentina”, finalizou Vera Lopes.

Descontentamentos

Os participantes comentaram sobre o recente acordo de Milei com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A decisão do presidente ultraliberal vem cercada de incertezas, visto que negociações com o órgão muitas vezes carregam sanções e políticas austeras contra as soberanias dos países.

“No povo trabalhador, nas ruas, há uma insatisfação crescente com o que acontece, mas isso ainda não tem uma tradução política forte. Desde janeiro até o momento, o governo vem perdendo força, ele perde no diálogo público, nas ruas, mas ainda é um governo com uma capacidade política e muita força para seguir implementando as políticas que eles querem.”

“Nos últimos anos, a Argentina enfrentou um processo de inflação muito elevada e descontentamento com a classe política. E essa é a fortaleza do governo”, acrescentou o correspondente.

No entanto, os atos públicos de descontentamento são importantes para mostrar a insatisfação popular e vontade de mudança, pela memória pública, pela justiça ao que foi feito, e melhores condições de vida. “A Argentina sempre foi um país com muita mobilização popular, com uma iniciativa política importante”, relata o correspondente do Brasil de Fato em Cuba, Gabriel Vera Lopes, que está em Buenos Aires.

“E esta semana [de marchas] foi uma demonstração disso, uma semana de memória, e uma semana de luta também, com a mobilização dos aposentados e, hoje, a greve dos trabalhadores do Estado”, relatou Lopes.

O podcast O Estrangeiro é apresentado por Lucas Estanislau e Rodrigo Durão ao vivo toda quinta-feira às 10 horas.

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