Afastar pessoas em situação de vulnerabilidade social “do foco do cliente” é uma das atribuições descritas no texto de uma vaga para atuar como assistente social no Shopping Pátio Paulista, na região central em São Paulo (SP). O anúncio foi publicado em plataformas de emprego pela empresa Verzani & Sandrini, que oferece serviços de limpeza, manutenção, segurança e vigilância.
Na descrição do posto de trabalho, a contratante elenca as seguintes responsabilidades: “abordar os pedintes, menores e pessoas em situação de rua para tirá-las do foco do cliente e posteriormente fazer uma ação social com a prefeitura”.
A vaga ganhou repercussão nesta quinta-feira (3), após ser compartilhada nas redes sociais pelo padre Júlio Lancellotti, que descreveu o posto de trabalho como um caso de “aporofobia institucional”, termo que se refere à aversão ou rejeição aos pobres.

Após a repercussão, a Verzani & Sandrini informou que “o conteúdo foi divulgado de forma inadequada por meio de um sistema automatizado de replicação”. Segundo a empresa, a retirada do anúncio já foi solicitada a todas as plataformas.
Em nota, o shopping diz que não teve conhecimento da descrição da vaga divulgada. “O shopping Pátio Paulista mais uma vez repudia veementemente a descrição da vaga anunciada e abrirá uma sindicância para apurar os fatos e impedir que esse tipo de situação volte a acontecer”, diz o comunicado.
O Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS-SP) informou que tomou conhecimento da vaga anunciada e está tomando as medidas cabíveis. Segundo o órgão, o cargo em questão fere as diretrizes do exercício profissional da categoria, amalgamado no Código de Ética do/a assistente social, em razão de “conter elementos que contrariam os dispositivos da profissão, sobretudo os princípios éticos como a defesa intransigente dos direitos humanos e a eliminação de toda e qualquer forma de preconceito”. O conselho ressaltou que recomendou à empresa que o anúncio seja suprimido de todos os meios de comunicação.
Aporofobia e “arquitetura antipobre”
O termo aporofobia deriva do grego da junção das palavras á-poros [pobres] + fobos [medo]. Conceituado há mais de 20 anos pela escritora e filósofa Adela Cortina, a palavra começou a ser mais conhecida a partir da ação do coordenador da Pastoral do Povo da Rua em São Paulo, padre Júlio Lancellotti.
A prática se manifesta, por exemplo, na chamada “arquitetura antipobre”, caracterizada por intervenções hostis que buscam impedir a estadia, descanso ou passagem de pessoas em situação de rua nos espaços públicos.
*Texto atualizado em 9 de abril, às 14h10, para inclusão de posicionamento do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo.