A 5ª edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado foi realizada neste domingo (6) em memória aos mortos e desaparecidos da ditadura militar. O ato também lembra as vítimas da violência policial dos dias de hoje, que tem como principal alvo a juventude negra e periférica.
Com flores, velas e fotos, os manifestantes se reuniram na antiga sede do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) na capital paulista e seguiram até o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.
A caminhada deste ano teve como lema “Ainda estamos aqui”, em referência ao filme Ainda Estou Aqui, que retrata a luta da mãe de Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido político durante a ditadura militar, pela busca por justiça e verdade.
A psicóloga Vera Paiva, uma das filhas do casal Paiva, reforçou que a manifestação silenciosa é uma forma de protesto pelo “absurdo que tem sido a violência de Estado”, que não se encerrou com a redemocratização do país.
“Que a gente possa a cada ano, de novo, fazer isso, porque o nosso objetivo é, pacificamente, com velas nas mãos, com rosas nas mãos, homenageando os nossos mortos, dizer: ditadura nunca mais! Pela vida e pela paz”, ressaltou Paiva.
Vera Paiva também destacou a contribuição do filme Ainda Estou Aqui para dar visibilidade à luta por memória e justiça. Para ela, a obra ajudou a mostrar a realidade daquele período, quando as informações eram controladas e as famílias silenciadas
“Acho que cada pessoa entra e assiste ao filme no papel de alguém e vive a história como ela foi para gente, sentindo na pele o que era viver uma ditadura”, diz.

A presidenta da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga, enfatizou a necessidade de recordar os mortos e desaparecidos da ditadura, destacando que a violência de Estado ainda se faz presente no Brasil.
“Esses atos que levaram a essas mortes, esses desaparecimentos, continuam se repetindo. Hoje em dia, as pessoas defendem quem mata, quem executa sem julgamento”, afirmou.
Ela sublinhou a importância da democracia e da legalidade, lembrando que “a força de um ou de outro não pode prevalecer sobre a lei”.
Gonzaga também mencionou a retomada da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e a continuidade das campanhas para responsabilizar os agentes da ditadura.
“Nossa intenção é dar sequência, nesses dois anos, à busca de corpos, à retificação de assentos de óbitos e incentivar as campanhas por responsabilização por agentes da ditadura. Não há reparação suficiente – mesmo reparação de conteúdo material –, que acolham o coração das vítimas, do que a justiça. Nós precisamos também ter responsabilização em relação a esse período”, afirma.
Responsabilização aos golpistas do 8 de janeiro
A Caminhada do Silêncio deste ano ocorreu no mesmo dia em que outro ato, na avenida Paulista, convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), defendia a anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Presentes na manifestação em memória às vítimas da violência de Estado, em oposição às reivindicações bolsonaristas, reafirmaram a defesa pela responsabilização dos envolvidos nos atentados contra o Estado Democrático de Direito.

Marco Antonio Ferreira, professor da rede municipal e também participante do ato, destacou a relevância da manifestação no atual contexto político do Brasil. “Este ato é extremamente necessário e importante, especialmente agora, quando vemos a perspectiva de prisão para aqueles que atentam contra a democracia e o povo brasileiro”, disse. Ele ainda afirmou que é fundamental que o Brasil dê um basta à violência de Estado, que continua presente nos dias de hoje.