Olá, Donald Trump provoca caos e incerteza no mundo. Como se o governo brasileiro já não tivesse problemas o suficiente.
.Agente Laranja. Da esquerda à direita, os analistas avaliam que o tarifaço de Trump marca uma mudança de eras nas relações econômicas mundiais. Além de uma crise de confiança na conduta dos Estados Unidos, comprometendo seu lugar como liderança global, o choque tarifário é o reconhecimento de que o país está perdendo o seu próprio jogo da globalização para a China. Foi por isso que Trump chutou o tabuleiro. O que obriga o Brasil a rediscutir a relação com o vizinho do norte e reposicionar-se economicamente. Lula até pode reeditar o discurso da marolinha de que estamos protegidos de uma crise internacional por uma enorme reserva em dólares. É verdade que a guerra comercial pode beneficiar o crescimento do PIB brasileiro, como mostra um estudo desenvolvido por pesquisadores da UFMG e, talvez até, forçar uma mudança na política do Banco Central, revertendo a rota das taxas de juros, o que também reduziria o peso da dívida pública nas contas do governo. Mas a verdade é que, para um governo que vinha tentando conter a escalada no preço dos alimentos, a perspectiva de uma inflação mundial não é nada positiva. Sem contar os fatores internos, como o reajuste na conta de luz que, mesmo abaixo da inflação, afetará os mais pobres. Além disso, a valorização do dólar tende a favorecer as exportações e penalizar o mercado interno. Por outro lado, o fator Trump é uma oportunidade para o Brasil se desvencilhar do longo histórico de dependência em relação aos Estados Unidos e retomar o projeto de integração latino-americana. Neste caso, a presença de Lula na CELAC, fórum do qual Bolsonaro havia retirado o Brasil, é uma importante reaproximação, mas o lançamento de uma declaração sem consenso no encontro da Cúpula mostra que as divergências entre os governos do continente estão longe de serem superadas. E em maio Lula já tem na agenda uma visita à China. Porém, para tirar vantagens de um giro em direção ao oriente, o governo brasileiro terá que enfrentar interesses internos. Afinal, nossa pauta de exportações para os Estados Unidos é mais industrializada e diversificada que aquela direcionada à China. E se o problema não for enfrentado, os únicos setores beneficiados seriam o agronegócio, o extrativismo e, no máximo, o setor industrial calçadista.
.O jogo virou. O ato bolsonarista na paulista foi maior que o de Copacabana e ganhou tons de frente ampla, com a presença de sete governadores no palanque ao lado do ex-capitão. A ação foi coordenada, levando algumas dezenas de milhares para as ruas e transformando Débora do batom na estátua em símbolo da luta contra o STF nas redes. Mesmo assim, não está à altura do que Bolsonaro precisa para se salvar. É verdade que o Congresso sofreu com uma tentativa de crise de paralisia decisória, mas isso não foi o suficiente para a oposição reunir as 257 assinaturas e protocolar urgência no projeto de anistia. A dificuldade talvez se deva ao impacto da opinião pública nas decisões dos parlamentares, já que segundo a DataFolha 56% da população rejeita uma anistia aos envolvidos com os atos golpistas, e 52% acham que Bolsonaro deveria ser preso. Habilmente, o presidente da Câmara, Hugo Motta, manobrou para jogar o feitiço contra o feiticeiro, colocando em pauta projetos de interesse do STF. Com isso, esvaziou a estratégia da oposição, afastou a direita do centrão, dividiu os votos do PL, e ainda fez um afago no Supremo. Hugo Motta ainda liberou a presença dos parlamentares e conta com o feriado da próxima semana para esfriar o clima na casa. E se a atuação do presidente da Câmara não foi suficiente, o peixe morreu pela boca depois que o deputado Gilvan da Federal (PL-ES) desejou publicamente a morte de Lula, obrigando até bolsonaristas com certidão de nascimento a esfriar os ânimos. Com isso, o tema da anistia perdeu força, mas deve manter-se como forma de barganha política da direita dentro da Câmara. Quanto ao Planalto, a queda do ministro das Comunicações reativou as pretensões de quem quer ser contemplado com uma reforma ministerial e a expectativa é que a tramitação da PEC da Segurança tome o espaço midiático e parlamentar que a anistia tem ocupado e que melhore a imagem do governo num tema em que a percepção popular nas pesquisas de avaliação é sempre negativa.
.Ponto Final: nossas recomendações.
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