Um manual de boas práticas, ou cartilha, para guiar os primeiros 100 dias de gestão de governos progressistas. Esta foi a proposta do historiador marxista Vijay Prashad no encerramento da conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social, na última quinta-feira (10), em São Paulo (SP).
“Sugiro que nós criemos um modelo que evite que governos progressistas naveguem cegamente nos seus primeiros cem dias. Proponho que unamos conhecimento, com base em experiências bem sucedidas anteriormente e ofertemos esse documento para ajudar esses governos”, disse Prashad.
O pensador indiano, que é diretor geral do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, sugeriu usar a entidade para ampliar a rede mundial de intelectuais e lideranças que se debruçariam na tarefa. “Nao se pode mudar o sistema financeiro em um dia, a menos que se tenha um poder extraordinário, é preciso muito planejamento.”
“A direita tem essa cartilha, Rússia e China planejam com anos de antecedência suas políticas. Vamos dar meios práticos para que esses governos progressistas possam ir para frente”, disse Prashad.
Outras contribuições
São Paulo (SP) sediou entre os dias 7 e 10 de abril, um dos maiores encontros do campo progressista mundial: a conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para Transformação Social para discutir saídas para a atual crise do capitalismo. Mais de 70 intelectuais, líderes políticos e de movimentos sociais de todo o mundo participaram do evento que aconteceu na PUC-SP e no Sesc Pompeia.
Também no encerramento, outros nomes fizeram sugestões práticas. O economista russo Vladimir Zuev propôs uma união de acadêmicos para divulgar estudos que protejam interesses do Sul Global. Ele próprio se voluntariou para organizar um time de estudiosos em seu país, que promovam encontros regulares e foque em estudos e publicações.
Linha similar foi defendida pela economista chinesa Lu Xinyu, que ressaltou a importância de mais estudos sobre a região. Ela falou da experiência chinesa contra imperialismos, desde a invasão japonesa em 1931 e as hostilidades dos Estados Unidos, a partir da guerra da Coreira (1950). “Para a China, é muito importante ter solidariedade com o Sul Global, a esperança comum por dignidade. Precisamos construir uma linha de frente contra o imperialismo.”
O economista venezuelano Yosmar Arellan defendeu uma moeda alternativa que possa se contrapor ao Swift, o principal sistema financeiro global para troca de informações e instruções de pagamento entre instituições financeiras. Colaborador da ONU, Arellan revelou estar trabalhando na criação de um protocolo para auxiliar nações sancionadas a lidar com as limitações impostas.
O encontro reuniu representantes de diversos países do Sul Global – e mesmo do Norte, como a ex-presidenciável socialista estadunidense Claudia Cruz – que compartilharam suas experiências na luta contra o imperialismo. Por vídeo, acadêmicas iranianas colaboraram com a troca, expondo o ponto de vista da nação persa.
“Em nosso nome e dos palestinos, defendemos o direito de existir sem sermos dominados. A Revolução de 1979 mostrou que não toleraríamos tiranos”, disse Setareh Sadeqi. A PhD em estudos americanos ressaltou ainda que uma das armas do imperialismo é vilificar seu país, armadilha na qual “até pessoas que lutam contra o imperialismo caem. É importante não confundir diferença com intolerância.”
Já Zeinab Ghasemi Tari, da Universidade de Teerã, explicou que a resistência anti-imperialista “não começou em 79, mas em 1953”, quando o os EUA patrocinaram o golpe de Estado que colocou no poder um governo fantoche, pró-Ocidental. A revolução islâmica ocorrida no final da década de 1970 foi uma reação à esta tirania, explicou ela.