A morte do Papa Francisco, o primeiro nascido na América Latina, na segunda-feira (21), aos 88 anos de idade, emocionou milhões de seguidores e não seguidores da Igreja Católica. O fim do pontificado do jesuíta argentino fez com que seus apoiadores relembrassem alguns de seus feitos marcantes. Entre eles, ganharam destaque as homenagens do pontífice aos atingidos pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais.
Em 2019, logo após o crime que deixou 272 vítimas fatais em janeiro daquele ano, Francisco enviou um representante do Vaticano ao município da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Além disso, acompanhou de perto os desdobramentos e recebeu pessoas atingidas pelo rompimento.
Nos anos seguintes, o pontífice continuou relembrando os impactos da tragédia-crime.
“Neste aniversário de um ano da tragédia de Brumadinho, oremos pelos 272 irmãos e irmãs que ficaram. Lamentamos a contaminação de toda a bacia do Paraopeba. Oferecemos nossa solidariedade às famílias das vítimas. Que Deus nos ajude a reparar e proteger a nossa casa comum”, disse Francisco, no marco do aniversário de um ano do rompimento.
Jorge Bergoglio — nome de batismo do argentino — assumiu o papado em 2013, quando o Papa Bento 16 anunciou sua renúncia. Bergoglio era conhecido como um homem humilde que, em contraste com a estrutura eclesiástica preponderante naquele momento, nutria profunda relação com as comunidades mais pobres.
O nome Francisco foi escolhido em homenagem a São Francisco de Assis, conhecido por ter dedicado a vida ao combate à pobreza, a defesa dos animais e da natureza e à valorização da simplicidade.
O pontificado de Francisco foi marcado pela busca de fazer com que a Igreja conseguisse “sair de si mesma em direção às periferias existenciais”.
Primeiro ex-escravizado beatificado
O argentino também foi responsável por beatificar Francisco de Paula Victor, o primeiro padre ex-escravizado do Brasil, nascido em Campanha, município do sul de Minas Gerais, em 1827.
A cerimônia aconteceu em 2015, em Três Pontas, também em território mineiro, com a participação de aproximadamente 20 mil fiéis.
“No Brasil, está proclamado beato Francisco de Paula Victor, sacerdote brasileiro de origem africana, filho de uma escrava. Pároco generoso e excelente na catequese e na ministração dos sacramentos, distingue-se sobretudo pela sua grande humildade. Possa o seu extraordinário testemunho servir de modelo para todos os sacerdotes, chamados a ser humildes servidores do povo de Deus”, disse o papa, no Vaticano, no dia seguinte à beatificação.
Homenagens
Desde o anúncio da morte do pontífice, que havia passado 38 dias hospitalizado com pneumonia grave, e recebeu alta em 23 de março, centenas de lideranças políticas e religiosas de Minas Gerais prestaram homenagens.
“Sua herança é um tesouro inesgotável. Deixa-nos, portanto, uma herança para darmos continuidade a um caminho: a Igreja respondendo aos desafios do tempo atual. Deus seja louvado pelo Papa Francisco e o nosso pesar se transforme em gratidão e reverência, sobretudo em compromisso com o caminho de uma Igreja em saída, missionária, de comunhão, participação e vigorosa na missão”, disse o arcebispo da Arquidiocese de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
A coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab), Makota — importante cargo das religiões de matriz africana Candomblé e Umbanda — Celinha, destacou o compromisso de Francisco em assegurar o respeito às diferenças e à democracia.
“Francisco foi um papa que trouxe para dentro do conservadorismo católico a ideia de uma fé contra-colonial, na contramão de uma igreja que, até então, era o espelho de um Europa colonialista, escravista e opressora. Diante de tantas demonstrações de respeito, me cabe, como Makota, pedir a Nzambi, Olorum, Javé, Deus que o acolha em sua infinitude”, disse.
A prefeita de Juiz de Fora, cidade da Zona da Mata mineira, Margarida Salomão (PT), também lamentou a partida do pontífice.
“Minha tristeza pela perda de uma liderança mundial luminosa em tempos sombrios. O Papa Francisco guiou a Igreja Católica em uma direção mais humana na última década, aproximando-a mais das pessoas”, destacou.
Ao longo da segunda-feira (21), foram realizadas missas na capital mineira e em outros municípios do estado em homenagem ao Papa Francisco.
O argentino também ganhou destaque por seus posicionamentos em defesa do povo palestino, que sofre desde 2023 com a intensificação da ofensiva militar de Israel. Em sua última aparição pública no domingo (20) de Páscoa, Francisco pediu pela paz na Ucrânia e pelo cessar-fogo na Faixa Gaza.
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, chamou o pontífice de “símbolo de tolerância, amor e fraternidade”, após o comunicado sobre a morte.
Próximo papa
A Igreja Católica se prepara para definir um sucessor para o cargo. A escolha pelo próximo papa acontece num processo conhecido como conclave, no qual cardeais com menos de 80 anos se reúnem na Capela Sistina, no Vaticano, para escolher o novo pontífice por meio de uma votação. Durante todo o processo, eles ficam isolados do mundo exterior.
Saiba como funciona o conclave, clicando neste link.