Neste 22 de abril, o Brasil completa 525 anos de uma história marcada não pelo “descobrimento”, mas pelo início de um projeto violento de colonização, extermínio e exploração.
A versão tradicional ensinada nas escolas, centrada na chegada de Pedro Álvares Cabral, tenta romantizar a invasão portuguesa como se fosse um marco civilizatório. No entanto, para os povos originários e para os milhões de africanos escravizados que construíram este país com o próprio sangue, trata-se de um capítulo de dor e resistência.
Colonização não significou progresso
A colonização não significou progresso. Representou a destruição de civilizações inteiras, o apagamento de línguas e culturas, a imposição de uma visão de mundo eurocêntrica e a construção de uma sociedade baseada na exclusão. O Brasil foi tomado à força, e essa violência histórica ainda molda nosso presente. A desigualdade racial, a violência institucional, a negação de direitos e a ausência de políticas públicas continuam atingindo majoritariamente os povos indígenas, quilombolas e negros.
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Apesar disso, seguimos de pé. A resistência de nossos povos tem se reinventado ao longo dos séculos. Hoje, ocupar espaços de poder e decisão é parte dessa luta. A presença de corpos negros e indígenas em espaços como a Assembleia Legislativa de Minas Gerais é parte de um projeto político de devolução do orçamento público àqueles que sempre estiveram à margem das decisões, mas no centro da construção desta nação.
A democracia brasileira só será possível com reparação histórica e justiça social
Reivindicar políticas de cotas, a demarcação de terras indígenas, a titulação de quilombos e o acesso à saúde, à educação e à cultura não é apenas garantir direitos fundamentais — é construir políticas públicas que reparem as marcas profundas do racismo estrutural e da misoginia que o patriarcado perpetua há séculos.
Lutar por essas políticas é enfrentar diretamente os alicerces da desigualdade histórica no Brasil.
A verdadeira democracia brasileira só será possível com reparação histórica e justiça social. Por isso, o 22 de abril não deve ser celebrado, mas lembrado com indignação e coragem. É preciso recontar nossa história a partir das vozes que foram silenciadas por séculos. Só assim poderemos reescrever um futuro mais justo para todas e todos.
Andreia de Jesus (PT) é educadora popular, advogada, mãe solo e deputada estadual em Minas Gerais
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Este é um artigo de opinião, a visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato