A palavra que saltou a minha cabeça, com essa pergunta, foi: – Desculpa! Não estamos cuidando bem de você. Depois pensei: – Mas para quem seria esse pedido de desculpas? E logo respondi novamente, ora, para os jovens e crianças, obviamente, mas pedir desculpas não serve nesse caso, se a poluição e escassez não só continua, como vem aumentando.
Continua-se poluindo e diminuindo a água potável do nosso planeta, e não há responsabilização que traga solução. As empresas continuam usando o slogan da água, colocando-a como fonte de lucro, de abundância, negligenciando o que realmente importa.
A crise climática se intensifica e boa parte das catástrofes tem relação com o tema da água: enchentes pelo excesso de água ou queimadas pela ausência de água! Sobretudo, ano após ano, repetimos: a água potável no mundo está acabando!
O Dia Mundial da Água não é uma data comemorativa, embora ela ocorra anualmente na data de 22 de março, desde o ano de 1993, instituída pelas Nações Unidas para suscitar reflexão em torno do tema e da urgência pela sua preservação, afinal, para a natureza e para nós, seres humanos, água é vida.
E esse ano, o tema da campanha será: “O Impacto das Mudanças Climáticas no Ciclo da Água”. Bom, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) e Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), juntas realizaram no último dia 15, uma caminhada pelo Parque da Cidade Sarah Kubitschek como forma de levar conscientização ao tema. Te pergunto: Isso basta? Estamos no Cerrado, berço das águas, acredito que essa iniciativa é pouco para a relevância do tema.
Não é difícil de entender que o ciclo das águas é afetado diretamente pelas mudanças climáticas, e com a crise climática estabelecida, já vivenciamos na pele os efeitos no ciclo das águas, como a alteração dos períodos chuvosos, em que provocam inundações e períodos longos de secas, incidindo no abastecimento nas nossas casas, escolas, asilos.
Todos somos afetados? Mais ou menos né camaradas, nós sabemos que há diferença entre a oferta de água disponibilizada no Lago Norte e na Ceilândia. Nunca vi uma reportagem na tv, de consumidores da Caesb do Lago, dizendo que o valor da sua conta de água estava errado, como vez ou outra sabemos das reclamações de registros quebrados em outras áreas. Isso é um fato recorrente!
O Cerrado está perdendo água
Mas não poderia terminar essa coluna, sem dizer que no bioma Cerrado, a escassez na oferta de água, tem outro fator que interfere diretamente no ciclo das águas, para além das mudanças climáticas, que está vinculado ao intenso desmatamento promovido e provocado pelo agronegócio que segue exportando água para o exterior em forma de commodities.
Em 2022, um estudo da revista Sustainability, com apoio do Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN), já apontava que o “desmatamento para monocultura e pastagem é o principal responsável pela diminuição de 34% da vazão dos rios até 2050”.
Em novembro de 2023, outro estudo publicado na revista científica Regional Environmental Change coordenado pelo engenheiro agrônomo Rodrigo Lilla Manzione (Unesp), indicou que as bacias hidrográficas do Cerrado estão perdendo a capacidade de abastecer alguns dos principais rios brasileiros, decorrente da combinação de fatores, como diminuição do volume de chuvas, aumento da perda de água no solo por evaporação e pela transpiração das plantas, combinação conhecida como evapotranspiração.
Bom, não adianta apenas dar o recado, não é? Mesmo assim, o recado está dado e segundo a ONU, em 2030, a população mundial necessitará de 40% a mais de água. Num piscar de olhos, chegamos em 2030 camaradas! Como vamos estancar essa sangria?
E sabemos que todos nós sentimos o desejo de nos desculpar com as futuras gerações e nos sentimos culpados, quando na verdade, a culpa segue sendo do agronegócio e da ganancia do sistema capitalista, que degrada e inverte os lados, apoiados pela mídia golpista e covarde.
*Adriana Dantas é Educadora Popular e militante das causas ambientais e saúde.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.