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Mulheres e emergência climática: protagonismo feminino na construção de um futuro sustentável

Por Ana Paula Siqueira

O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é uma data que transcende flores e homenagens. É um chamado à reflexão e à ação. Não há conquista feminina que tenha sido alcançada sem resistência, sem enfrentamento e sem a força da coletividade. Como uma das primeiras mulheres negras eleitas para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais e atual presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, trago comigo não apenas a responsabilidade de representar, mas também a urgência de transformar.

Vejo essa data como um momento para comemorar conquistas e criar vínculos, mas também para reforçar nosso compromisso com as batalhas que ainda precisam ser travadas. E neste cenário em que o mundo enfrenta uma das maiores crises da humanidade – a emergência climática –, é impossível ignorar o papel central das mulheres nessa luta.

A crise ambiental não é neutra

Ela escancara e amplia as desigualdades já existentes. Enquanto o planeta sofre, são as mulheres – sobretudo negras, indígenas, periféricas e do campo – que carregam o fardo mais pesado. Elas são as primeiras a sentir os impactos da insegurança alimentar, da escassez de água e dos desastres naturais. São também as que têm menos acesso a recursos, políticas públicas e espaços de decisão. Essa realidade não é acidental; é fruto de uma estrutura que historicamente marginaliza e silencia mulheres.

Crise ambiental escancara e amplia desigualdades existentes

Por todo o Brasil e ao redor do mundo, temos acompanhado diariamente como a falta de investimento em políticas ambientais e sociais afeta diretamente a vida das mulheres. Seja nas comunidades rurais, onde a degradação ambiental ameaça a subsistência, ou nas periferias urbanas, onde a falta de saneamento básico e áreas verdes agravam a vulnerabilidade, somos nós que estamos na linha de frente, resistindo e buscando soluções.

Não temos mais tempo para discursos vazios ou promessas distantes. A justiça climática exige transformação política, e isso passa por garantir que mais mulheres estejam nos espaços de poder. O futuro do planeta não pode ser decidido sem aquelas que há séculos sustentam a vida e protegem o meio ambiente.

É preciso celebrar e dar evidência ao protagonismo de todas as mulheres. Na agroecologia, na reciclagem, na defesa dos territórios e na construção de alternativas sustentáveis, nós, mulheres, já estamos fazendo a diferença. Somos as guardiãs da biodiversidade, as líderes comunitárias, as inovadoras. No entanto, nosso trabalho ainda é pouco valorizado, e nossa voz, pouco ouvida.

Sempre Vivas 2025

Em 2025, o Brasil sediará a COP 30, e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, dará um passo importante ao promover o evento Sempre Vivas 2025, com foco no tema “Mulheres e Emergência Climática: Protagonismo, Resiliência e Justiça Climática”. Este será um espaço para amplificar as vozes das mulheres mineiras, reconhecer seu papel na luta ambiental e pressionar por políticas públicas que garantam nossa participação efetiva nos espaços de decisão.

Somos nós que estamos na linha de frente, resistindo e buscando soluções

Que fique claro: não há justiça climática sem equidade de gênero; e não há equidade de gênero sem o enfrentamento do racismo ambiental. Precisamos de ações concretas: investir em educação ambiental, garantir acesso a recursos e tecnologias sustentáveis, e reconhecer o trabalho das mulheres. Além disso, é imperativo que coloquemos em pauta a discussão sobre uma mudança cultural que valorize o cuidado – com as pessoas e com o planeta – como um pilar fundamental da sustentabilidade.

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Neste 8 de março, como deputada, mulher negra e defensora dos direitos das mulheres, reafirmo meu compromisso de trabalhar por um futuro onde a justiça climática e a equidade de gênero caminhem juntas. Um futuro em que nossa voz ecoe nos espaços de poder, nossa resistência seja celebrada e nossa liderança, reconhecida. A emergência climática é um desafio global, mas as soluções começam localmente, com cada uma de nós. Porque, no fim das contas, não temos um planeta B – e não há futuro possível sem as mulheres.

Ana Paula Siqueira é deputada estadual pela Rede Sustentabilidade (MG)

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Este é um artigo de opinião, a visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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