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Esquerda e conjuntura global

A esquerda mudou de rumo ou de metas? Não. O que mudaram, foram as circunstâncias e as conjunturas mundiais.

Os termos esquerda e direita têm origem na Revolução Francesa, em 1789. Referem-se aos lugares que os parlamentares ocupavam no parlamento. Os que eram a favor da continuidade do antigo regime monárquico e dos privilégios da nobreza, sentavam-se à direita da mesa diretora e, os que eram a favor do regime republicano e fim de tais privilégios, à esquerda da mesa.

Depois da revolução, aparecem as idéias socialistas e seus defensores passaram a ser denominados de esquerdistas. Dai em diante, era esquerdista, simbolicamente, quem defendia direitos humanos, contra o patriarcalismo e a emancipação das mulheres, contra as discriminações étnicas, sindicatos livres de trabalhadores e o combate às desigualdades sociais.

Karl Marx (1818-1883) já se preocupava com o meio ambiente e reagia à forma como o mercantilismo europeu devastava e destruía a natureza com a colonização da América Latina.

Durante o século XX, filósofos, cientistas, escritores e artistas de um modo geral, usando a teoria crítica e o método dialético, foram capazes de ver e denunciar tudo que havia de errado, contraditório e fora de lugar: as guerras em busca de hegemonia política e econômica, tendo como conseqüência o empobrecimento das populações e destruição da natureza; o poderio das oligarquias regionais; as formas espúrias de exploração do trabalho humano; a razão da extrema pobreza e a acumulação de riquezas.

Esquerda nasce associada aos interesses populares, direita a manutenção de privilégios

A direita, ao invés de contrapor a tais práticas com argumento lógico, sempre usou a difamação, depreciação, mentiras, ódios e jogo sujo contra os lideres esquerdistas. No movimento chamado Macartismo nos EUA, de 1950 a 1957, os assassinatos de esquerdistas não eram considerados crimes.

Brasil

No Brasil, com o fim da ditadura Vargas (1945) foram criados três partidos políticos, sendo a União Democrática Nacional (UDN), fundada por tradicionais opositores a Getúlio; o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), inspirado por Getúlio Vargas.

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Imprensa e meios clandestinos de comunicação passaram a perseguir os petebistas, que sem fundamento, eram acusados de serem comunistas. Carlos Lacerda, da UDN, aproveitando-se da imunidade parlamentar; sendo proprietário e redator do jornal “Tribuna da Imprensa”, atacava os petebistas e Getúlio Vargas de forma caluniosa.

O historiador Boris Fausto diz que os insultos de Lacerda acabaram provocando ódio nos petebistas, os levando à tentativa de assassinato de Lacerda. Gregório Fortunato, que era motorista e segurança de Getúlio, foi acusado de tentar assassinar Lacerda, mas atingiu o major Rubens Vaz, guarda costa de Lacerda, que acabou morrendo. Esse fato e o agravamento da crise social levaram Getúlio Vargas ao suicídio, em agosto de 1954.

Daí até 1964, os presidentes eleitos eram do PTB e PSD, sendo que todos sofreram tentativa de golpes. Em 1961, com a renúncia de Janio Quadros, João Goulart assumiu a presidência da República, mas foi deposto em 1964, dando lugar à ditadura militar. O regime militar colocou em prática o processo do Macartismo: civis de direita acusavam seus opositores de idéias esquerdistas e isso era o bastante para que fossem capturados e eliminados por meios ilícitos, sem nenhum processo judicial.

[Este é o primeiro de uma série de três artigos que tratarão sobre a história da esquerda.]

Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e UNI-BH. Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande Sul (PUC-RS).

Leia outros artigos de Antônio de Paiva Moura em sua coluna no Brasil de Fato MG

Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente representa a linha editorial do jornal.

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