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 Sem tempo de ser feliz

Seja na economia, no Congresso e com Trump, a ordem de Lula é negociar

Olá,
os ponteiros da política andam a passos largos e o governo segue atrasado.
 

.Em câmera lenta. Já faz meses que as pesquisas de opinião apontam queda na popularidade do presidente. Apesar disso, o governo ainda não conteve a inflação dos alimentos, não conseguiu aprovar o orçamento de 2025, não fez a reforma ministerial e o Congresso segue paralisado. Aldo Fornazieri avalia que as oportunidades vão sendo perdidas e o tempo está contra Lula. Na opinião de Fornazieri, a reforma ministerial deveria ter sido realizada logo após as eleições municipais, assim como o ajuste fiscal, medidas que agora têm um custo mais alto de serem implementadas. E não há comunicação que salve quem não sabe para onde ir. O resultado é um governo que virou um “triturador de ministros”, apagando o protagonismo de Haddad, Alckmin, Simone Tebet, Marina Silva e Sônia Guajajara. Em compensação, conquistas como a redução do desmatamento na Amazônia, que em outros tempos contaria pontos para a agenda ambiental de Lula, agora não dão mais repercussão. Porém, nem todas as avaliações são tão pessimistas. Há aqueles, como Vera Magalhães, que veem na postura moderada de Lula uma oportunidade para o presidente brasileiro apresentar-se como uma liderança alternativa global frente à escalada de tensões imposta por Trump. Já na economia, a inflação recorde de fevereiro reforça os piores pesadelos de que a popularidade do governo deverá continuar caindo nos próximos meses, assim como a perspectiva de uma desaceleração do crescimento, prevista pelo próprio Planalto. Por outro lado, Nilson Teixeira acredita que os sinais positivos da economia têm tudo para levantar a aprovação do governo, levando em conta as projeções de crescimento do PIB, a manutenção do emprego em alta, e a expectativa de uma safra recorde que puxaria a inflação para baixo.


.Diplomacias. Seja na economia, no Congresso e com Trump, a ordem de Lula é negociar. No caso das taxações de 25% impostas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio brasileiro, apesar do discurso de palanque de Lula, a aposta do governo é de não retaliar e manter aberto o diálogo, enquanto aguarda que Trump recue, como fez com o Canadá. A dúvida é se os Estados Unidos recuarão sem enfrentar qualquer resistência de nossa parte ou se o tarifaço é a antessala de uma ofensiva americana sobre os mercados de saúde, comunicação e etanol no Brasil. Já no caso do preço dos alimentos, é claro que o governo vai ignorar que a inflação se deve aos interesses exportadores do agronegócio e vai insistir em convencer os governadores a reduzir o ICMS, enquanto reza para a mãe natureza colaborar para uma super safra este ano. Ao mesmo tempo, o governo estuda como conter a alta na energia elétrica, uma das principais responsáveis pela inflação de fevereiro. Já no Congresso, a costura para a aprovação da Lei Orçamentária de 2025 é mais fina, exigindo medidas de contenção de gastos, como o corte de 7,7 bilhões em ajustes no Bolsa Família e a incógnita sobre a viabilização do Pé-de-Meia. As expectativas do centrão é que a reforma ministerial se resolva até final de março e as conversas já iniciaram com o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que é um dos cotados para assumir um ministério. Já as tratativas com o Republicanos e o União Brasil passarão necessariamente pelos novos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Rep-DF) e Davi Alcolumbre (União-AP). Seja como for, todas as negociações agora passam pelas mãos de Gleisi Hoffmann. Mas engana-se quem acha que a missão da nova ministra é apenas azeitar as relações com a base aliada. É, também, apaziguar os ânimos entre os ministros petistas no governo, a começar por Fernando Haddad e Rui Costa, e nas disputas internas do próprio partido. 


.Cada um com os seus problemas. O que dá um certo respiro ao governo é o fato de que o Congresso e a direita estão bem ocupados com seus próprios problemas para fustigar o Planalto. No caso dos parlamentares, mesmo que o orçamento da União também seja prioritário, nada pode ser maior e mais importante do que resolver o imbróglio das emendas. Principalmente, porque o STF já demonstrou que não está brincando no tema e, depois dos bloqueios, agora tornou réus os deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE) num esquema de venda de emendas, com propinas e ameaças de morte. E, na fila, estão mais de 40 inquéritos da Polícia Federal sobre desvios e a recomendação do Ministério Público de abrir mais de 360 processos criminais envolvendo municípios que receberam Emendas Pix. A proposta do Congresso melhora a transparência, mas não é lá essas coisas e ainda deixa muitas brechas. Resta saber se o STF vai aceitar a gambiarra como parte dos acordos ou se vai mandar o Congresso fazer a lição de casa outra vez. Já o bolsonarismo tem seu dia D no ato pela anistia e em defesa do ex-capitão no dia 16. Mesmo tendo cancelado o ato em outras cidades, o PL tem dúvidas se consegue reunir as 400 mil pessoas inicialmente previstas no Rio de Janeiro. E Bolsonaro precisa ter sucesso para enfrentar o julgamento que lhe espera, para impulsionar o projeto de anistia, mas também para conter os movimentos de deserção e abandono da direita. Enquanto Ronaldo Caiado, antigo desafeto, decidiu pagar para ver e se lançar à Presidência, Ricardo Nunes também está testando a fraqueza do aliado e projetando uma candidatura ao governo paulista. Para isso, incentiva Tarcísio a desistir da reeleição e tentar o Planalto agora. Apesar de Tarcísio de Freitas ter confirmado presença no ato do antigo chefe e criador, Bolsonaro também tem que se preocupar com o tom do discurso, hostil para manter as bases, mas não o suficiente a ponto de provocar seus juízes no STF.

.Ponto Final: nossas recomendações.


.Varoufakis: a Europa em rota de desastre. O economista grego analisa o custo social do projeto de remilitarização da Europa. No Outras Palavras.


.Exclusivo: como bancos e dinheiro público financiam o colapso da Amazônia. Investigação da Samaúma mostra como Bolsonaro favoreceu a expansão da fronteira agrícola na maior floresta do mundo.

.O Nordeste está vivendo uma mudança nos hábitos alimentares? Pesquisas indicam o aumento do consumo de ultraprocessados no nordeste, mas saberes e práticas tradicionais resistem. Em O Joio e o Trigo.


.Do ‘PL da Censura’ ao Rumble, como ‘big techs’ e extrema direita se aliaram no Brasil. Gisele Lobato mapeia as ações coordenadas entre big techs e direita para desregulamentar as redes e enfraquecer o poder público. No Aos Fatos.


.‘Fazer uma limpa’. O Intercept desvenda os interesses da direita em dominar o Senado em 2026.


.Frei Gilson: quem é o sacerdote anticomunista criticado pela esquerda e abraçado pelo bolsonarismo. O clérigo influencer que tem sete milhões de seguidores no Instagram e luta contra o empoderamento feminino. Na BBC. 

.Chimamanda Ngozi Adichie: ‘Independente da sua opinião sobre o que uma mulher disse ou fez, escute a versão dela’. Confira a entrevista da autora nigeriana para O Globo.

.‘Outono do Patriarca’: aos 50 anos, obra de García Márquez segue atual sobre autoritarismo latino-americano. Em entrevista ao Conversa Bem Viver do Brasil de Fato, Eric Nepomuceno comenta a obra do autor colombiano.

Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

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