Ouça a Rádio BdF

Crise nos Estados Unidos? Dilemas ou oportunidades para o Sul Global?

O Sul Global se vê diante de uma oportunidade única de redefinir seu papel no mundo

Por Giovani del Prete*

Entre os dias 7 e 10 de abril, o Sesc Pompeia, em São Paulo (SP), abrigou o Encontro Internacional Dilemas da Humanidade. Esta atividade reuniu dezenas de especialistas em economia, desde ministros de Estado, passando por dirigentes políticos, até pesquisadores e intelectuais. Foram 20 países presentes, com representação de todos os continentes do globo. 

Em um momento em que a hegemonia dos Estados Unidos está em declínio, o Sul Global se vê diante de uma oportunidade única de redefinir seu papel no mundo. Diante disso, o encontro discutiu não apenas os dilemas contemporâneos, mas também as oportunidades que surgem para os países em desenvolvimento. O evento foi organizado pelo MST, Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e a Assembleia Internacional dos Povos.

Um dos temas centrais abordados no encontro é a necessidade de reindustrialização do Sul Global como um motor para melhorias sociais. Os especialistas destacaram que a recuperação econômica na região deve ser baseada em ciência, tecnologia e no desenvolvimento de habilidades humanas. Essa abordagem, conforme citado por economistas como Jeffrey Sachs, é vital para que países da América Latina, incluindo o Brasil, possam não apenas enfrentar os desafios atuais, mas também construir um futuro mais justo e sustentável.

Entretanto, os participantes do encontro também reconhecem os limites e desafios que o Sul Global enfrenta nesta conjuntura. A dependência econômica de modelos tradicionais e a resistência a mudanças estruturais são obstáculos que precisam ser superados. Em uma das sessões, que discutia a soberania dos países em função da exploração de minérios essenciais para a fabricação de bens de última geração, há uma explícita desigualdade global entre consumo e reserva de terras raras, nióbio, lítio e outros materiais deste tipo. As empresas do Norte Global têm financiado políticas extrativistas no Sul Global para poder desenvolver suas economias às custas do nosso subdesenvolvimento.

As discussões em São Paulo podem inspirar movimentos que transcendam fronteiras, promovendo uma mudança necessária em um mundo que clama por alternativas ao sistema capitalista dominante. Entre algumas das propostas apresentadas, está a do ministro da Economia do Brasil, Fernando Haddad, para que os super-ricos brasileiros paguem mais impostos para que os mais pobres possam ficar isentos de pagar imposto.

Disse Haddad, “141 mil brasileiros passarão a ser taxados com o imposto de renda mínimo. Taxar estes 141 mil brasileiros permite isentar 10 milhões de brasileiros que ganham até 5 mil reais por mês de salário e reduzir o imposto de renda de outros 5 milhões de brasileiros que ganham entre 5 e 7 mil”. 

Os participantes do evento enfatizaram que as soluções reformistas do passado são insuficientes para atender às necessidades atuais. É necessário um novo paradigma que priorize o desenvolvimento equitativo e a autossuficiência. Um paradigma que esteja orientado pela busca de um modelo que não apenas promova crescimento econômico, mas que também coloque as necessidades sociais em primeiro plano. Essa perspectiva é crucial em um mundo onde as desigualdades e os problemas ambientais se intensificam.

O evento no Sesc, portanto, não apenas promove um espaço de diálogo, mas também serve como um catalisador para a criação de propostas inovadoras que possam desafiar a ordem econômica vigente. O papel do Sul Global nesse cenário é fundamental, pois representa uma oportunidade de redefinir as relações de poder e buscar um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.

*Giovani Del Prete é militante do Movimento Brasil Popular e membro da Secretaria Continental da ALBA Movimentos

Veja mais