Desde os tempos arcaicos, em Abya Yala, sabia-se que a atenção era o nosso poder supremo. Uma chama que iluminava os universos internos e externos, a base da criatividade, da engenhosidade e da iniciativa, tão necessárias para o Buen Vivir.
Mas, na modernidade, os grandes centros de Poder descobriram a economia da atenção, conceito que ganhou relevância nas últimas décadas, especialmente no contexto da chamada era digital e da superabundância de informações e da perda da narrativa de lendas e histórias que o coração tanto ama e precisa para dançar com os arquétipos e mitos originais de Pachamama.
Estudiosos a serviço do Poder Hegemônico descobriram que a atenção humana é um recurso escasso e valioso em um mundo saturado de estímulos e conteúdos facilmente acessíveis, e a competição para capturar, reter e influenciar essa atenção tornou-se o foco central da economia moderna.
O economista Herbert A. Simon, na década de 1970, disse: “Em um mundo rico em informações, a abundância de informações significa a escassez de outra coisa: a atenção”. E é a partir dessa percepção clara que surge o uso desse recurso que é a fonte das escolhas e a percepção das prioridades.
O recurso da atenção é escasso e muito valioso porque precede o consumo.
Por que a atenção é um recurso escasso e valioso?
Porque há uma sobrecarga de informações, por meio de redes sociais, notícias, publicidade, entretenimento acessível que competem por nosso tempo e atenção.
E outro aspecto é a limitação humana em nossa capacidade de processar informações. Nossa atenção é dispersa e temos que escolher em que focar.
E vivemos imersos em mundos virtuais de empresas como Google, Facebook, Instagram, Tik Tok e outras que competem para roubar nosso tempo e atenção a fim de introduzir certas informações e programas cognitivos em nossa mente profunda.
Como funciona a economia da atenção?
Sabemos que quando acordamos está a nossa espera um dia ao redor da tecnologia, dirigida por empresas e criadores de conteúdo que usam diversas estratégias para capturar e prender nossa atenção, e a grande maioria de nós passa horas e horas assistindo a fake news.
E isso responde a algo profundamente aberrante que chamamos de “algoritmo”, que influencia as plataformas como Youtube, Netflix ou qualquer rede social. Esses algoritmos analisam comportamentos e preferências para nos mostrar o conteúdo que tem maior probabilidade de capturar e devorar nossa atenção.
Esses aplicativos são projetados por bio-neurologistas para serem viciantes, usando técnicas de influência, como certas cores chamativas, rolagem infinita e recompensas variáveis, como o famoso “curtir” ou “compartilhar”, para nos manter estimulados e engajados.
O conteúdo desperta emoções fortes (indignação, surpresa, alegria) que roubam mais atenção e nos viciam. Se você observar os títulos do YouTube e das plataformas, eles são sensacionalistas e os debates são polarizados, de modo que nos identificamos com eles.
Eles também incorporam jogos, como pontos, níveis ou recompensas para gerar envolvimento emocional.
Essa nova economia da atenção gera sobrecarga mental, estresse emocional e fadiga contínua, e o pior de tudo é a perda da capacidade do livre uso da atenção.
O vício digital nos condiciona a olhar para o celular antes de acordarmos totalmente e criamos nossas vidas em torno de redes sociais e informações superficiais que acabam afetando nossa liberdade de escolha e pensamento.
E na economia da atenção, a meta é simplesmente manipular e desinformar.
Foram descobertas técnicas e o algoritmo as utiliza com inteligência artificial para enganar e controlar seu voto, sua escolha de onde passar as férias ou o estereótipo de relacionamento que você adota.

Na tradição andina, há muitas centenas de anos, existe uma profecia que fala sobre isso, e a educação insiste em aprender a estabelecer limites para a dispersão da atenção, a priorizar a qualidade na escolha de fontes de informação e entretenimento que proporcionem valor e reflexão em vez de satisfação imediata e apenas distração.
E na reeducação da atenção temos técnicas e ferramentas para curar o que esse fluxo político e econômico que beneficia apenas o Poder Hegemônico faz com o ser humano.
Aprender a desfrutar longe da tecnologia e voltar aos prazeres essenciais, como uma boa conversa, a leitura de livros e o aprendizado de uma arte ou trabalho artesanal, nos fortalece na atenção plena e sustentada.
Ao percebermos ou acordarmos para o perigo que a manipulação do algoritmo representa para nós e para nossas tribos, precisamos aprender de forma rápida e eficaz sobre:
Menos é mais: a eficiência e a simplicidade vêm da atenção concentrada e sustentada, que é uma fonte de inspiração, criatividade e iniciativa. Ao sair das redes e do vício tecnológico, recuperamos a plena atenção e aprendemos a focar no que está ao nosso alcance. Qual é o sentido de acumular informação caótica e não aplicá-la?
Ao focar no presente, reduzimos o consumo de informações desnecessárias e preparamos o terreno para alcançar a LUCIDEZ.
E assim descobrimos a Vida.
Absorver na totalidade o fluxo da Vida é um salto de sabedoria poética que requer a totalidade da atenção.
Com isso, alcançamos a autonomia e a liberdade sem cair nas armadilhas da superestimulação.
Sugerimos:
– Desconectar regularmente e dedicar mais tempo ao que é essencial: caminhar, conversar com amigos e familiares, meditar ou simplesmente saborear o prazer de estar vivo.
– Praticar a atenção ao presente: ao invés de reagir instintivamente, que é seguir o fluxo do algoritmo, aprenda a parar, respirar e sentir a voz da consciência e, com atenção desperta dar ou não uma resposta aos desafios.
– Simplificar o consumo de informações: escolher fontes de informação de qualidade e colocar limites na exposição a informações que não têm lugar em sua mente e em sua vida.
– Confiar na beleza e na sabedoria do Agora, em vez de forçar a produtividade como meta e ficar obcecado com o sucesso, permitir que a atenção se direcione de forma natural para o que é essencial e importante em cada momento, confiando em nossos dons e inteligência para desenvolvê-los.
– Desativar notificações desnecessárias e estabelecer horários fixos para verificar e-mails ou redes.
A economia da atenção é a base da economia de mercado e veio para ficar. Aprender os remédios naturais para não cair nessa armadilha e no roubo de energia e vida é essencial para o Buen Vivir.

Estamos diante de um momento incrivelmente perigoso e insano. A Lucidez se apresenta hoje como uma cordura saudável e natural para não deixarmos que nos roubem a atenção, que é o que verdadeiramente somos e é o nosso melhor tesouro.
Nos equinócios, praticamos uma ascese andina de 21 dias, que nos ensina sobre a coragem de aceitar a Consciência Pachamama em cada Alento, e isso nos dá paixão, entusiasmo e sabedoria para manter acesa a chama da atenção.
Continuamos com a esperança, junto com todos os Abuelos e Abuelas, os Taytas e Mamachas dos Andes, de que toda a humanidade aceite o que há de mais belo no canal do simples que dança neste Agora.
Aceitemos, abracemos esta vida e desfrutemos dela, para que o conhecimento se transforme em sabedoria poética.
* Rene Sabino, escritor e ativista da Nación Pachamama.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.