Começo por pedir licença para falar com você, que me lê agora, e espero poder compartilhar o melhor em reflexões sobre temas diversos daqui por diante. A partir de minha escrita, seria gratificante se eu pudesse estimular você a refletir comigo também — há tanto a pensar, a expressar e a construir nesse mundo às vésperas do colapso!
Não quero causar angústia referindo-me ao mundo em colapso, logo nesse início de conversa, pois escrevo por acreditar na possibilidade de reverter quadros. Se há colapso, tenho contra isso a força da palavra. Para mim, a maneira de experimentar o mundo é pela palavra oral e escrita — isso me proporciona alento e libertação.
Escrevo, desse modo, para me rebelar contra esse colapso anunciado: a vida é possível, sim, a arte da palavra existe! Se tenho a palavra, não tenho medo de colapsos. Creio na palavra erguida contra cerceamentos e tiranias cotidianamente impostas. Nela, na palavra não silenciada, encontro forças contra impedimentos existenciais. Por isso, conclamo você, que me dá a honra da leitura, para que façamos um movimento de rebeldia pela palavra.
Sabe como poderíamos reverter a desolação sociopolítica, sociocultural e socioeconômica que assombra este país situado na periferia do capitalismo? Sabe como poderíamos viver (e não apenas sobreviver) neste século XXI marcado pelo desencanto e regado por tecnologias ainda não suficientemente apreciadas em suas implicações ético-cognitivas? Sinceramente, não tenho respostas — e você?
Tenho, se me permite, o meu próprio caminho para lidar com essas questões complexas difíceis de serem solucionadas — não considero meu caminho o melhor ou o único, pois tantas pessoas tecem universos possíveis contra os empecilhos do mundo! Como sou professor, pesquisador em Literatura e escritor, meu modo de lutar contra as intempéries da vida se desenvolve por meio de três experiências: 1) a crença de que a educação pode construir o pensar profundo e a ação sem medo, 2) a necessidade de conhecer manifestações tradicionais e modernas da literatura oral e escrita do Brasil, ciente de que conhecê-las é entrar em contato com valores identitários de um povo rico em experiências estético-ideológicas, e 3) o desejo de libertação pela palavra que se expressa em prosa e poesia.
Quero, neste espaço que a mim se abre, compartilhar a arte literária. Seja com indicações ou leituras críticas de obras literárias, seja com apresentação de nomes de nossa literatura contemporânea, proporei debates sobre expressões literárias do país (especialmente expressões literárias do Ceará). Com isso, poderei construir, eu também, um Brasil de Fato? Acredito que sim.
Contra o colapso, portanto, proponho a arte da palavra. Sugiro que, juntos, reivindiquemos o direito à Literatura, que nos convida a agir no mundo com criticidade, lirismo e possibilidades de fabulação.
* Émerson Cardoso é doutor, mestre, especialista e graduado em Letras. Pesquisador em Literaturas de Língua Portuguesa e Francesa, Professor e Escritor. Publicou, dentre outras obras, os livros: O baile das assimetrias (2022), Jornadas (2023) e Romanceiros (que recebeu o I Prêmio Literário Demócrito Rocha de 2024). Organizou Juazeiro tem artistas, Juazeiro tem poesia: manifesto poético (2024).
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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