A gente pode até tocar violão, mas no nosso caso, temos que estar afinados com a Palavra de Deus, sem leituras fundamentalistas, que não são apropriadas na Igreja Católica; e afinados com o Magistério da Igreja. Empoderamento para os discípulos e discípulas de Jesus não é poder, mas o serviço como fez Jesus no lava-pés e Maria cantou no Magnífica: “O poderoso fez em mim maravilhas… Ele olhou para a humildade de sua serva”.
“Somos empoderados pelo poder do Espírito Santo, que o Pai, por meio do seu Filho Ressuscitado, nos concedeu” (Cf. Tt 3,5).
O Catecismo da Igreja Católica é muito claro em relação à dignidade e igualdade entre homens e mulheres. “Ao criar o ser humano, homem e mulher, Deus dá a dignidade pessoal de modo igual ao homem e à mulher”.
“O homem é uma pessoa, e isto na mesma medida para o homem e para a mulher, pois ambos são criados à imagem e à semelhança de um Deus pessoal. Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora diferentes, imagem do poder e da ternura de Deus” (2334-2335); ou ainda “A unidade do Matrimônio é também claramente confirmada mediante a igual dignidade do homem e da mulher como pessoas, a qual deve ser reconhecida no amor mútuo e perfeito” (1645).
O Compêndio do Concílio Vaticano 2º também é muito explícito em relação ao tema. A mulher é igual em dignidade ao homem enquanto pessoa (355); as mulheres reivindicam, onde ainda não conseguiram, sua paridade de fato e direito como o homem (227); é legítima a promoção social das mulheres (364); não deve ser excluída (398); não se admite discriminações (289); têm direitos à mesma cultura e educação (289); trabalham em quase todos os setores da vida e é conveniente que assumam plenamente o papel que lhes toca; é dever de todos reconhecer e promover a participação própria e necessária da mulher na vida social e cultural (400).
Evidentemente que esses e outros documentos do Concílio, concluído em 1965, foram atualizados pelo Magistério da Igreja através dos papas que vieram depois, no sentido dos avanços da metade do século passado e agora, no século 21, como veremos alguns exemplos abaixo.
Na Carta às Mulheres de João Paulo II, por ocasião da 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Pequim, em setembro de 1995, o Papa escreveu: “Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele” (Gn 2, 18). Portanto, na criação da mulher está inscrito, desde o início, o princípio do auxílio: auxílio — note-se — não unilateral, mas recíproco. “A mulher é o complemento do homem, como o homem é o complemento da mulher: mulher e homem são entre si complementares”.
Teríamos muito a dizer, como por exemplo as palavras do papa Bento XVI. Numa mensagem enviada à primeira Conferência Internacional sobre Mulheres e Direitos Humanos, realizada em março de 2009 pela Pontifícia Comissão de Justiça e Paz. Na mensagem, o Papa se dirigiu dizendo da “importância da influência das mulheres na sociedade deve levá-las a um compromisso maior na educação para os Direitos Humanos e de participação social, política e civil”.
O papa Francisco deu às mulheres religiosas e leigas cargos de comando na Cúria Romana, bem como na Diocese de Roma, funções que eram antes realizadas por prelados. Por todo lado no Vaticano encontramos a presença feminina em várias atividades. Isso é empoderamento.
Antes as mulheres não podiam votar. Depois, puderam ser membros dos Três Poderes, assumir cargos de comando nas empresas e na sociedade civil organizada. Isso é empoderamento. Aliás, o Código de Direito Canônico deixa nítido esse papel do protagonismo feminino – não só da dimensão pastoral, como também em várias instâncias da Igreja Católica (vide Cân 517).
Enfim, o pensamento, sentimento, palavras e gestos do papa Francisco vão muito nessa direção eclesial e social, como por exemplo, suas palavras em 8 de março de 2023. “No Dia Internacional da Mulher penso em todas as mulheres: agradeço-lhes por seu compromisso em construir uma sociedade mais humana, por meio da sua capacidade de compreender a realidade com um olhar criativo e um coração terno. Esse é um privilégio exclusivo das mulheres! Uma bênção especial para todas as mulheres da Praça. E uma salva de palmas às mulheres! Elas merecem!”.
Palmas às mulheres e seu protagonismo e empoderamento na Igreja e no mundo.
Leia outras colunas do padre Fábio Potiguar:
O corpo de Deus é corpo humano
O diálogo inter-religioso e a matriz ética e espiritual de base comum