Num pequeno mosteiro, Gu Guan Yin, localizado no noroeste da China, perto das montanhas de Qin, na província de Shaanxi, durante todo o outono, uma peregrinação de curiosos e turistas se junta para ver uma árvore cujas folhas douradas enchem a paisagem. É uma Gingko Biloba, que vive ali há 1.200 anos.
Considerada pelos cientistas uma das espécies de árvores mais velhas do mundo, a Gingko Biloba tem uma história que encanta homens e mulheres do Oriente e do Ocidente.
Natural do Sudeste da Ásia, sua floração outonal, em chamativos tons de amarelo e dourado, chamou a atenção de viajantes e pesquisadores estrangeiros que viajavam pelo oriente durante a época moderna. As sementes foram levadas para a Europa por Engelbert Kaempfer (1651-1716), que trabalhava para Companhia das índias Orientais, cuja sede ficava nos Países Baixos (Holanda).
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Em suas andanças pelo mundo, Kaempfer percebeu que os orientais usavam a semente, as folhas e o tronco para curar doenças. A noz da Gingko era usada como uma especiaria e teria poderes afrodisíacos, promovendo a boa saúde a longevidade. Levou consigo para Europa e, depois de várias tentativas de adaptação em solo europeu, o jardim botânico de Utrech e Leiden obtiveram sucesso. Ainda hoje, árvores de Gingko biloba de 1730 e 1754 estão vivas e podem ser apreciadas. Não tardou muito para que as sementes passassem a valer bastante no mercado de plantas exóticas.
Na Alemanha, o poeta, dramaturgo e romancista Johann Wolfgang Goethe, interessado em plantas, árvores e sementes, fez um plano de espalhar árvores de Gingko Biloba pela cidade de Weimar, onde morava juntamente com o duque da cidade Carl August.
O duque então mandou seu jardineiro para o Jardim Botânico de Kew Garden na lnglaterra com a missão explícita de aprender como adaptar a árvore e trazer sementes. A missão foi bem sucedida e as árvores se espalharam pela cidade.
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A Gingko Biloba com suas folhas bipartidas em um formato único, sua floração peculiar e o amarelo-ouro que a árvore adquire no outono ajudou Goethe formular uma teoria botânica e filosófica sobre a árvore originária, a Urpflanze, a árvore que teria dado origem a todas as outras. A descoberta e a classificação da natureza era um dos maiores debates científicos da época, com o botânico francês Carlos Lineu formulando a moderna teoria de classificação das espécies.
Durante a época em viveu, a Gingko Biloba, que estava plantada no jardim do castelo do duque, atingiu apenas 3 ou 4 metros, ainda era uma árvore jovem. A paixão pela botânica acompanhou Goethe por toda sua vida. Num de poemas mais conhecidos, Goethe usa a árvore como metáfora, mandado o poema Gingko Biloba junto com algumas folhas para sua musa, Marianne von Willemer.
Estampa Art Nouveau / Reprodução
Ao longo do século, a Gingko Biloba se espalhou pela Europa e, depois pelo mundo. É um símbolo do oriente, uma espécie rara, de folhagens especiais. Quando a paixão pelas coisas orientais tomou a arte, a Gingko tornou-se um de seus símbolos mais visíveis, estampado em tecidos, desenhado em pinturas e gravuras, cuidadosamente confeccionado em joias. E assim a Gingko Biloba tornou-se um dos desenhos mais representados durante o período da Art Nouveau (ver imagens acima). Sua perenidade, suas cores e seu significado fez com que a árvore fosse usada em produtos farmacológicos e é assim que conhecemos a árvore hoje.