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Há muita verdade naquilo que não alcançamos entender

A proteção das águas corresponde à proteção de todos os ecossistemas e fluxos que geram vida

Semana de pedidos, agradecimentos e oferendas a Yemanjá.

E pretendo escrever sobre isso.

Mas antes, vale dizer que nesta semana o Brasil espera ver (a qualquer momento) a Procuradoria Geral da República (PGR) denunciando, por tentativa de golpe de Estado, ao Bolsonaro e outros 39. Serão 40, como na fábula de Ali Babá. E isso também se presta àquelas piadas que costumam distrair nossa gente, esvaziando de energia e indignação os crimes preparados por aqueles e outros criminosos empenhados em acabar com a civilidade, a paz e a democracia, entre nós. Coisa grande. Com isso se minimiza a intencionalidade de reimplantar ditaduras, realidade que neste momento deveria trazer milhões para as ruas, no interesse e a serviço de todos os brasileiros. E o pior é que isso não diz respeito apenas aos brasileiros.

Talvez por isso, e com as ruas vazias, tendem a crescer as possibilidades de genocídios em todos aqueles locais onde “os outros”, aqueles apresentados/escolhidos como inimigos, levam ao fortalecimento de alianças pelo ódio. Ódio aos mais fracos, mais pobres, mais diferentes dos poderosos locais e seus associados. E a ausência de reações ao fato de que Trump se permita mencionar uma espécie de marco temporal bíblico, para justificar o genocídio em Gaza se assemelha, em imoralidade, ao pensamento motor dos responsáveis, entre nós, pela tragédia Yanomami, pelas 700 mil mortes por covid, pelo elogio à tortura, por mais uma tentativa de golpe.

Isso diz muito a respeito de nossa apatia, nossa distração e nossa possibilidade de vir a pertencer, na opinião dos golpistas, àquela categoria descartável, dos sem direito a reclamar acesso aos direitos reservados à moderna casta superior.

Manipulados pelas grandes mídias, é possível até que, ao serem indiciados aqueles 40 golpistas, esqueçamos todas as outras pautas que nos ameaçam. E assim, mimetizando as boiadas do Ricardo Salles, elas avancem, picotando e fraudando a constituição cidadã. Às claras, com apoio das grandes mídias e sob o nariz de dezenas de milhões de vítimas distraídas.

Pensar nisso também coloca na mesa a hipótese do retorno daquela síndrome que parecia superada e agora nos invade: o medo de ser feliz. O medo da fome, do abandono, da miséria e da violência por parte de psicopatas empoderados e articulados internacionalmente.

O que pensar por exemplo, da política de juros do Banco Central?

Criticada por surrupiar do governo recursos indispensáveis ao crescimento nacional, ela agora parece ter adquirido vida própria. Ou sempre foi assim, e simplesmente não sabíamos disso. Afinal, há menos de um mês, diante de nova elevação de 1% na taxa de juros (da Selic, quando ela chegava a 13,5% ao ano), Lula disse que aquilo era esperado, porque ainda não poderia ser diferente. Falou até na impossibilidade de sua equipe, no BC, “dar um cavalo de pau em mar revolto”.

Mas agora, diante de novo aumento, parece que aquela realidade não mudará. Serão necessários novos discursos porque os comentários “do mercado” já dão conta de que em 2025 a taxa de juros pode superar os 15%. Segundo eles, apenas em 2026 ocorrerão reduções importantes, e o alivio, de fato, só acontecerá no próximo governo, em 2027, quando a taxa de juros cairá até 10,35% ao ano.

Portanto, mais do que no futebol, aqui a regra é clara: a taxa de juros que drena a capacidade de realização de políticas includentes por parte do governo será mantida em patamares que garantirão desestímulos ao consumo, aos investimentos, e às expectativas de sucesso da gestão Lula-Alckimin.

Se isso é verdade, a tão esperada colheita de resultados cairá nas mãos de outros. E será irrigada pela devolução, ao futuro governo, dos recursos subtraídos a esta gestão em favor dos especuladores e rentistas que – algum dia saberemos – incluem lideranças civis e financiadores da última tentativa de golpe. “Tentativa de golpe” que, como no caso desta disputa pelos recursos públicos, parece longe de acabar.

E o que pensam disso os recém eleitos presidentes da Câmara e do Senado Federal?

Como se comportarão em relação a esta e outras doenças de nossa república, aqueles homens de falas dúbias, agora empoderados pela votação massiva de um centrão apinhado de bolsonaristas?

E como se posicionarão em relação às práticas e intenções daqueles grupos orientados pelo vicio da acumulação de dinheiro e poder, compostos por bandos de parlamentares que se manifestam independentes de qualquer conexão entre suas articulações e a miséria de milhões?

Os representantes dos nossos povos, no legislativo, e mais especificamente os presidentes da Câmara e do Senado Federal, ficarão ao lado de quem, no momento em que aqueles que envenenam as águas, que queimam as florestas, que desatam epidemias, que trabalham pelo fim da democracia e da civilidade, cobrarem a conta de seus apoios?

E como se comportarão os representantes do poder Judiciário, e do poder Executivo, se do Legislativo vier tão somente o que podemos esperar de pior?

E o que nós faremos? Vamos manter a passividade daquelas vitimas que acreditam que nunca chegará a sua/nossa vez?

Saberemos disso, e muito mais, após o carnaval.

Por hora, é válido o medo.

O medo e a perplexidade diante deste processo de desumanização que parece dominante entre aqueles que, ascendendo a espaços de liderança, passam a ignorar o mistério que existe em conexões que nossa racionalidade não alcança compreender. A espiritualidade e a generosidade de nosso povo aí estão, reclamando atenção e oferecendo caminhos alternativos para uma nova prática política.

A partir daquele patamar se pode entender que o medo imposto a todos, por aqueles que perderam o rumo, é uma doença de cunho espiritual. Anomalia grave que, sem a devida correção, se expandirá pela atração que exerce entre os de espírito fraco, o aparente sucesso de alguns maus exemplos, à custa das exclusões e da miséria da maioria.

Simples assim: aqueles que ignoram a importância de manter saudável a vida dos solos, dos corpos d’água e da água que dá forma a todos os organismos, precisam ser identificados, apartados, educados para a vida. Com orientação e supressão da ideia de impunidade, até eles serão capazes de entender que a alegria, a saúde, a plenitude da vida, são energias que se reforçam, interligadas, expandindo a coragem e a capacidade de contenção às energias opostas, destrutivas, ligadas ao sofrimento, ao sadismo e à barbárie.

Não são mercadorias o que os ignorantes destroem e transicionam sob a proteção de seus aliados. São valores reais. Bens comuns condicionadores de atitudes e possibilidades futuras. Não podem ser reduzidos a valores monetários e muito menos, podem ser apropriados por poucos. E mais grave, jamais poderiam ser apropriados, ficar sob controle dos piores entre nós. Gente como os três bilionários que aconselham o Trump, ou seus seguidores, aqueles que mantém carreiras de lobby e corrupção em países satélites como o nosso.

Precisamos de um perfil de representatividade social coerente com a composição de nossa população, em substituição àqueles que trabalham pela desumanização dos outros e que com suas ações levam a maioria a se sentir infeliz e desvalida como crianças abandonadas.

E isso, que tem a ver com o sucesso do governo Lula, com a taxa de juros em 2025, com as eleições em 2026 e com a prisão dos criminosos golpistas, se conecta com a espiritualidade e as verdades ocultas em mistérios que a racionalidade humana não alcança compreender.

Mas também não consegue negar.

E isso exige que recuperemos a confiança nas energias que nos cercam e nos habitam.

Neste sentido, ciente da minha ignorância neste território, e com todo o respeito, me atrevo a repetir o que aprendi em atividade promovida pelo Brasil de Fato RS, em 2 de janeiro de 2025: Yemanjá recomenda que busquemos o caminho e as respostas aos desafios do presente, no mistério que as águas impõem à vida.

A proteção das águas corresponde à proteção de todos os ecossistemas e fluxos que geram e sustentam a vida, bem como as relações aqui (no planeta) permitidas. O oposto é crime relacionado à uma ignorância profunda, que no interesse de todxs precisa ser identificada e corrigida.

Esta energia, Yemanjá, nos escuta, e nos orienta. Ela está no ruído das ondas, na cor e nas formas de vida presentes nos fluxos de água e e tudo que a partir dali se expande, em plantas, animais, bactérias. Ela define os nós da rede da vida. Está no desenvolvimento dos fetos, no latejar do sangue e nos olhares, gestos, cantos e acolhimentos oferecidos por todas as formas orgânicas e além delas, nas vozes multifacetadas das sagradas mulheres águas.

E é delas, que nos vêm esta mensagem. Pela Iàlorisá Adriana t´Òmolú, por Iya Vera Soares e Katia Marko, em programa a ser escutado, estudado, comemorado.

Assistam na totalidade, em ODOYA YEMANJA.

O programa ajudará a compreender que temos compromisso com as águas, e que estes deveres vão além do que nelas somos capazes de perceber. Se trata do útero coletivo que a todxs acolhe e protege, de onde virá a força necessária para enfrentamento/extirpação dos núcleos de violência que envenenam aqueles e aquelas que precisam de um tratamento e das correções que permitam bloquear a disseminação da doença que os/as domina.

Avançando por este rumo, pelo caminho das águas, veremos que a trilha de que nos afastamos como humanidade, se desenhará a cada passo. Então, resultará claro: o melhor de si é o que se dá. E se dá o que se recebe, e se recebe o que se dá. Portanto, se quiser ser cuidado, precisa aprender a cuidar.

E uma vez que  somos natureza, não mercadorias, considerando que o mistério das energias assegura que receberemos o que damos, precisamos, já, escolher nosso lado, avançar em grupo, e tomar a frente dos acontecimentos que nos envolvem.

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* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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