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Educação e o povo na rua são as chaves da paz. E eles sabem disso

Sem medo e com alegria. Pelo fim de todas as guerras, mesmo que isso exija sacrifícios e lutas. E sem anistia, sem perdão aos intolerantes, aos genocidas, aos fascistas.

Para começar, alguns dos registros da semana:

Trump chutou o pau da barraca. Agora o mundo vai ter que decidir se ele é apenas um bode fedido, ou um predador mortal, à solta na sala de nossa Casa Comum.

Não estamos à venda, foi  a posição da Groenlândia, quanto à suas ambições. A presidente do México falou em soberanias articuladas, e em reações em conjunto contra aqueles objetivos Trumpistas, desalinhadores da harmonia global .

“Se é guerra o que os EUA querem, seja uma guerra tarifária, uma guerra comercial ou qualquer outro tipo de guerra, estamos prontos para lutar até o fim”, está sendo a posição do governo chinês

Na Europa,  quando Macron falou em “dissuasão nuclear”,  o Kremlin reagiu afirmando ver ali  “uma ameaça à Rússia”.

Nessa linha, ao mesmo tempo em que seguem os massacres em Gaza e no Congo, o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) reafirma que, no mundo inteiro, “os direitos yumanos estão sendo sufocados”.

Portanto, o clima aponta para a globalização das tragédias.

Isso sugere que precisamos ir além dos comentários a respeito.

Mas fazer o quê?

Como se trata de algo que ameaça a todos, de início precisaremos entender as causas, para depois avaliar nossas possibilidades efetivas  de contribuir para alimentar  alternativas de contenção.

E precisamos fazer isso nos limites de nosso pequeno universo, em nossas casas e nos espaços que frequentamos.

As causas, por óbvio, estão no medo. Elas são alimentadas pela ignorância, pela ganância e pelo desrespeito aos direitos e necessidades dos outros. Elas  crescem na produção de desigualdades e na ausência de processos educativos orientados para a solidariedade e para a paz.

É fácil perceber que nas famílias, nas ruas, nas escolas, nas universidades e nas prisões, abrigamos mecanismos orientados para o isolamento individualista que leva à naturalização e à reprodução de violências.

Decorre disso a emergência de casos de sucesso social notoriamente relacionados à brutalidade e à indiferença quanto aos sofrimentos alheios. “Não sou coveiro”, foi o que disse o mito, em relação aos sepultamentos coletivos durante a pandemia da covid.

Situações como aquela estimulam a repetição de práticas intoleráveis, que sem correção, acabam se enraizando na sociedade. Foi dali que vieram o homem bomba da praça dos três poderes, o caminhão tanque destinado a explodir no aeroporto e o assassinato de Marcelo Arruda em sua festa de aniversário, entre tantas outras situações deploráveis, inimagináveis até a emergência de valores trazidos pelos golpistas de 2016.

De início, toleradas como ilustrativas de acesso a “vantagens” relacionadas à desumanização dos “outros”, tais práticas se expandem e, no limite, ameaçam a todos. É o que temos agora, quando um  Bolsonaro gringo e sua equipe estão a ocupar a Casa Branca.

O que fazer? 

Em termos gerais, além de seguir a proposta da presidente do México, não há o que possamos fazer em relação àquilo. 

Mas aqui, no Brasil, temos nosso papel e algumas obrigações a cumprir.

Para começar, precisamos nos posicionar de maneira enfática neste momento em que os advogados do Bolsonaro pai e alguns de seus parceiros naquela orcrim (organização criminosa) que pretendia assassinar Lula, Alkimin, Xandão e sabe-se lá quem mais, apresentarão seus argumentos. 

Acabou o tempo do lero lero. Agora, diante da montanha de evidências, se faz sintomático o desespero do filhote bananinha e outros que, para salvação de seu mito, pedem intervenção norte-americana no Brasil. Foram criados assim, são desrespeitosos e arrogantes.

Não querem aceitar que a paz depende do respeito à igualdade de direitos e deveres, para todos que habitam este país. Por isso, precisam de uma correção robusta, que seja educativa, que sirva de exemplo para todos. E precisamos ir às ruas, para garantir que isso ocorra.

No todo, precisamos encarar um fato: chegamos a um momento histórico onde se faz indispensável (e talvez já seja tarde) uma revolução educacional, que permita a construção de oportunidades e relações mais humanas harmoniosas e republicanas, para todos e todas. 

O programa Pé-de-meia e a prisão dos golpistas indiciados parecem um bom início, mas com certeza são insuficientes. Precisaremos de um projeto de sociedade que, a médio prazo, expanda as consciências para a tolerância, a solidariedade, o voluntariado e a cooperação. Precisaremos de leis que limitem os excessos de poucos às expensas da escassez para muitos. Bonito de pensar, e difícil de realizar. 

Considerando a tal da correlação de forças, dada a composição do legislativo, tendo em vista as castas hereditárias do judiciário, e a depender dos governos e lideranças empresariais, se trata de algo que está muito longe de ser alcançado. Mas ainda assim precisa ser apontado e desejado. Afinal, como cantou Milton Nascimento, a história avança atropelando os que a negam. 

Para o urgente, para garantir pequenas conquistas e pensando nas possibilidades de mudanças futuras, precisaremos do povo nas ruas.

Abstraindo a crise global, olhando apenas para o que se passa entre nós, dá para pensar que um dos caminhos para o sucesso daqueles propósitos, está ilustrado naquilo que vivenciamos no carnaval.

Ali, no carnaval, o objetivo é ser feliz. 

E para isso não basta cada um fazer a sua parte. 

A grande festa do povo exige o concurso de todos, em esforço coletivo redutor das desigualdades, onde os predadores são mapeados, descartados, rejeitados. 

E foi isso que se viu em todo o Brasil, esta semana, com as fantasias, as danças, e os blocos de rua gritando SEM ANISTIA.

Com Erika Hilton  e Milton Cunha brilhando em discursos contra a transfobia.  

Com o Ainda Estou Aqui ganhando o Oscar de Melhor Filme internacional e  com Fernanda Torres encantando a todos ao declarar que “sucesso é ser boneco gigante no carnaval de Olinda”. 

Ali estava a alma do nosso povo.

Entre nós o carnaval é um berçário, um canteiro de onde emergem a sabedoria, a energia e a alegria popular despreconceituada, orientada para a paz. 

Neste sentido o carnaval de rua é revolucionário. E é educativo. Por isso, ele amedronta aos fascistas, que se disfarçam ou somem nesta época. 

E também por isso, o carnaval de rua foi proibido em Porto Alegre. Com as pessoas dispersadas, na Cidade Baixa, a porretada e com o apoio da cavalaria. E nosso gentil e bem falante governador? Estava seguro, brincando na Sapucaí.

Será perdoado, porque os gaúchos são generosos e porque o carnaval de rua, assim como o orçamento participativo e os fóruns sociais nos mostraram, a alegria do povo evolui pelo caminho da paz. 

No carnaval brasileiro impera o reconhecimento aos direitos de todos. Algo que, para se expandir e alcançar os poderes da república, está a demandar a qualificação de todos os processos educativos. Se trata de resultado e busca permanente. De construção coletiva, que precisa começar em cada lar e dali sair às ruas, para depois se estender as nações. 

Isso será possível se tivermos o tempo e a sabedoria necessários para incorporarmos aquele ensinamento exposto por  Boaventura Sousa Santos, em Porto Alegre, no FSM de 2001. 

Na ocasião, ele disse que:  “temos o direito de ser iguais sempre que as diferenças nos inferiorizem; temos o direto de ser diferentes, sempre que a igualdade nos descaracterize”  (As tensões da modernidade).

Precisamos lutar por isso.

Sem medo e com alegria. Pelo fim de todas as guerras, mesmo que isso exija sacrifícios e lutas. E sem anistia, sem perdão aos intolerantes, aos genocidas, aos fascistas.

Uma música? Eu quero é botar meu bloco na rua – Sergio Sampaio.

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