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Pelas águas de Belo Horizonte, construir o Bem Viver

Defender a água é defender a vida

Com o objetivo de reunir movimentos, coletivos, especialistas e trabalhadores para refletir sobre a água como um componente central do Bem Viver, realizamos, nos dias 20 e 21 de março, na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), o Seminário das Águas.

O evento contou com quatro mesas de debate: “Água, mudanças climáticas e ambiente urbano”;  “Água como um direito humano e saneamento como serviço público essencial”; “Água: cultura, lazer e tradições”; e “Água e território: a importância do quadrilátero aquífero e da Meta 2034”.

Sabemos que a relação entre água e vida é indissociável, seja para o planeta, seja para os seres humanos e não humanos. No entanto, a água enfrenta ameaças graves. As mudanças climáticas têm se manifestado por meio de enchentes, elevação do nível dos mares, estiagens prolongadas e secas intensas.

A riqueza hídrica de Belo Horizonte está ameaçada pela mineração, pela expansão urbana e pelas diferentes formas de contaminação

Ainda que atinjam a todos, os impactos não são iguais e recaem com mais força sobre os mais vulneráveis, que também sofrem com contaminação de cursos d’água, rompimentos de barragens e racionamentos. O nome disso é racismo ambiental.

Esses problemas são resultado de uma lógica que trata a água como mercadoria, esvaziando sua condição de bem comum e de elemento sagrado presente nas culturas tradicionais. A privatização dos serviços de água e saneamento expressa essa lógica.

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Em Minas Gerais, vivemos a ameaça da privatização da Copasa. Casos como o da Sabesp, em São Paulo, e da Saneouro, em Ouro Preto, mostram que esse modelo resulta em piora do serviço e aumento de tarifas. Ou seja, as empresas, quando privatizadas, deixam de cumprir sua principal função, que é fornecer água para a vida e a produção de toda a população.

Em diversas partes do mundo, movimentos populares têm se levantado em defesa da água como direito, como vimos na Guerra da Água, na Bolívia, e na Iniciativa 136, na Grécia. Belo Horizonte se encontra sobre uma região de enorme riqueza hídrica, o Quadrilátero Ferrífero — ou “Quadrilátero Aquífero”, como defendemos que seja reconhecido —, com destaque para o Aquífero do Cauê e as bacias dos rios das Velhas e Paraopeba. Mas essa abundância está ameaçada pela mineração, pela expansão urbana e pelas diferentes formas de contaminação.

Nosso seminário serviu para aglutinar esforços, pessoas e movimentos que defendem a preservação e o direito à água em nossa cidade e na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Como desdobramento, faremos uma audiência pública no dia 6 de maio, às 10h, no plenário JK, da CMBH.

Estamos empreendendo um movimento articulado em defesa das águas de Belo Horizonte e em defesa da água como direito de todas as pessoas da cidade. Nos orientamos por um princípio básico: a água é essencial para o Bem Viver. Ela é vida, lazer, cultura e sociabilidade. Por isso, reconhecemos o direito das águas, das serras e das nascentes de existirem em plenitude. Essa é uma luta coletiva: defender a água é defender a vida.

Luiza Dulci é vereadora em Belo Horizonte pelo Partido dos Trabalhadores (PT), economista e doutora em sociologia. Constrói o Movimento Bem Viver MG e integra a rede de jovens economistas “Desajuste – Economia Fora da Curva”.

Leia outros artigos de Luiza Dulci em sua coluna no Brasil de Fato MG

Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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