Por Mabel Dias*
“Alagamentos causam transtornos em João Pessoa”
“Chuvas intensas causam destruição no bairro do Valentina”
“Famílias afetadas em João Pessoa: chuvas causam destruição e desespero”
Essas são algumas das manchetes divulgadas por duas TVs em João Pessoa: a Cabo Branco e a Arapuan, sobre as chuvas que chegaram até a cidade, na quarta-feira, 5 de fevereiro.
No entanto, essas manchetes escondem a verdade sobre os verdadeiros responsáveis pelos transtornos causados às famílias pessoenses, que moram nos bairros da zona sul de João Pessoa, e tiveram suas casas alagadas, perdendo tudo o que construíram com o seu trabalho. A grande mídia, para variar, passa pano para os gestores que não fazem o seu dever de casa, e não cuidam adequadamente da população e do meio ambiente. Por isso, assistimos a cenas como as que aconteceram nesta semana, e que afetaram, principalmente, as pessoas que moram nos bairros periféricos, como Valentina Figueiredo, Colinas do Sul e Bairro das Indústrias.
A geógrafa, professora da UFPB e pesquisadora no Observatório das Metrópoles, Andréa Porto Sales, explica que as chuvas são um fenômeno natural importante para a existência humana e o equilíbrio de ecossistemas. “A impermeabilização do solo, desenfreada por obras de pavimentação, que não foram acompanhadas da implementação de uma infraestrutura de drenagem é que são as responsáveis”, aponta Andréa, sobre os transtornos que a chuva revelou, e não causou.
“Logo, a gestão municipal é a responsável por esses transtornos. Com o aumento da temperatura média global, os ciclos hidrológicos estão mais intensos, o que significa maior volume e pancadas de chuva. Precisamos urgente frear o desmatamento na nossa cidade, pois as árvores oferecem um serviço ecossistêmico muito importante na absorção da água da chuva, como na regulação da temperatura. Não podemos mais continuar ‘produzindo espaço urbano’ baseados numa infraestrutura cinzenta, isso é do passado e extremamente danoso”, enfatiza a professora.
Árvore cortada, no Cabo Branco, em João Pessoa. / Foto: Arquivo pessoal.
No entanto, Andréa Porto aponta que as áreas clássicas de inundação em João Pessoa foram controladas, porque, provavelmente, houve limpeza das galerias com antecedência. Mesmo assim, a cidade registrou pontos de alagamento na Estação Ferroviária, no Varadouro, e nos bairros, como o das Indústrias.
Sobre o lixo que é jogado nas ruas, a geógrafa também responsabiliza a gestão municipal, e chama a atenção para a falta de coleta nas periferias da cidade, o que é classificado como racismo ambiental: “Se a prefeitura fizesse a coleta de maneira correta, elas não precisariam jogar lixo na rua. Atualmente, não há em João Pessoa nenhuma campanha para manejo dos resíduos e a periferia não tem a mesma frequência de coleta. O nome disso é racismo ambiental,” afirmou.
Andréa Porto Sales salienta ainda que os alagamentos nas casas poderiam ter sido evitados, se a Defesa Civil tivesse feito um trabalho preventivo junto às famílias que moram nestes bairros, e que já enfrentam há anos este problema. “Boa parte dessa nova pavimentação foi feita acima do nível d´água, das calçadas. A defesa civil deveria mapear essas casas que correm risco de inundação, se o alerta para estas pessoas não foi dado, é falha da defesa civil, não dá para culpar a população nem muito menos a natureza por nada disso que está acontecendo. As consequências disso é culpa de um planejamento mal feito e de implementação de obras, sem integração com outras infraestruturas”, arrebata.
Uma das moradoras do bairro do Valentina, na rua Francisco Alves Rodrigues, que teve sua casa invadida pela água, foi dona Rosicleide. Sua história foi mostrada no JPB2, pela repórter Ana Beatriz Rocha. Dona Rosicleide mora há mais de 30 anos no Valentina Figueiredo e vivencia esta trágica realidade desde então. No momento da reportagem, ela estava limpando a sua casa, e tentando salvar o pouco que sobrou de seus móveis. O prefeito de João Pessoa ou seus auxiliares nem sequer se pronunciaram sobre essa situação, ao menos prestando solidariedade a ela e se prontificando a resolver este problema. Mas, dona Rosicleide, que já é uma senhora, mandou o recado: “Já fizemos processo, já falamos com o prefeito, engenheiro veio aqui, fizemos abaixo-assinado para ver se o prefeito toma uma posição para ver a situação dessa rua. Já faz 38 anos que eu moro aqui e toda vez acontece isso. A gente sofre, já não tenho quase móvel, porque já perdi tudo. Temos que recorrer a quem, a Deus? Por que prefeito, a gente lhe elegeu novamente, e espero que o senhor faça alguma coisa por essa rua!”.
*Mabel Dias é jornalista, associada ao Coletivo Intervozes, observadora credenciada do Observatório Paraibano de Jornalismo, mestra em Comunicação pela UFPB, doutoranda em Comunicação pela UFPE, conselheira de pesquisa e transparência da COAR – Agência de Checagem Independente e autora do livro A desinformação e a violação aos direitos humanos das mulheres: um estudo de caso do programa Alerta Nacional, pela editora Arribaçã.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato Paraíba.
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