O voto impresso na eleição presidencial de 2022 era só uma desculpa esfarrapada para tumultuar a disputa. Um balão de ensaio, uma muleta em caso de derrota de Bolsonaro, um argumento falacioso que daria guarida para uma virada de mesa. Ou, como dizia o ex-presidente, jogar fora das quatro linhas. A prova disso é que dois anos depois, a pauta sumiu da boca de candidatos, imprensa militante de direita, "especialistas" e do eleitorado. A eleição vai acontecer nas mesmas urnas e sem ninguém, nem hacker, exército ou "Elon Musk" questionando códigos fonte e afins. E olha que em muitas disputas em capitais a apuração pode ser no voto a voto.
O principal patrocinador dessa tese, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), não trata do assunto. As únicas polêmicas que se envolveu nos últimos tempos e dias atrás tratam da anistia aos golpistas do 8 de janeiro – tema do longínquo protesto de "7 de setembro" -, e dos apoios em cidades que não tem certeza se seu candidato vai ganhar.
Antes, durante e após o pleito, há dezenas de oportunidades de auditar a urna e os sistemas correlatos. / Foto: Antônio Augusto/SECOM TSE
Para se ter uma ideia, o principal legado defendido em São Paulo trata da obrigatoriedade da vacina, bola levantada pelo prefeito Ricardo Nunes. Em Curitiba, por exemplo, o bolsonarista oficial Eduardo Pimentel não toca no assunto do voto impresso. Já a autoproclamada candidata de Bolsonaro, Cristina Graeml, elenca como assunto principal o combate à livros didáticos inclusivos. Sobre as urnas, até hoje, nem um pio!
Postura diferente do distante artigo de maio de 2021 em que a jornalista Cristina Graeml defendia o voto impresso auditável. "É certo a Justiça Eleitoral debochar de eleitores que pedem mais transparência nas eleições e ainda gastar dinheiro público para produzir uma peça de propaganda que ironiza uma proposta de emenda constitucional, a do voto impresso auditável?", militou contra o TRE-PR.
Já o vice de Pimentel, Paulo Martins, eleito pelas urnas eletrônicas em 2018 e derrotado para o Senado em 2022, dizia um ano antes (2021) que a impressão facilitava a auditagem das urnas, trazendo mais confiabilidade ao sistema. Era o auge da "conspiração contra as urnas eletrônicas". Agora, possivelmente indo para o segundo turno na capital paranaense, a pauta sumiu de sua boca.
Ah, apenas para lembrar, o TSE realizou o teste das urnas entre 27 de novembro a 2 de dezembro de 2023 e contou com a participação de 33 investigadoras e investigadores, que executaram 35 planos. Já o "Teste de Confirmação" ocorreu de 15 a 17 de maio e sem questionamentos dos antigos negacionistas do voto eletrônico.
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**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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