O que é o feminismo? O feminismo é uma luta coletiva de libertação que vai muito além do que a busca por igualdade de direitos. O sufixo ismo implica movimento social e político, essa luta vem dizer que o mundo está bem complicado e que a partir das lentes e ações do feminismo queremos sonhar outros horizontes. Se nosso objetivo fosse apenas a igualdade, as mulheridades deveríamos aprender a estuprar e matar e não nos importarmos com as presas.
Não é disso que trata o feminismo, mas de libertação de toda a humanidade.
E a data do 8 de março é um dia de luta e de conscientização das mulheridades, não é o dia da mulher (da mãe, da tia e da secretária) como o capitalismo gosta de chamar e transformar uma luta em um ato passivo para que elas se arrumem e recebam − nesse dia − flores e mimos. Se for o caso, todos os dias deveríamos ser bem tratadas.
De onde vem a data?
Quando vejo mulheres que ainda questionam o feminismo, dá vontade de dizer, vem cá e entrega teu CPF; tua conta bancária; a possibilidade de escolher, se quer casar ou não, e com quem, e, também a opção de se divorciar. E se a classe social o permitir, também a possibilidade de sair sozinha do país. Também foi a força das lutas feministas que permitiu às mulheridades estudar e entrar nas universidades. Virginia Woolf narra em “Um teto todo seu”, que uma vez foi barrada na porta da biblioteca pelo fato de ser mulher. E não qualquer uma, mas inglesa, branca e classe abastada. Isso prova que o patriarcado atravessa todas as classes sociais, assim como mulheridades racializadas e não, inclusive, as do chamado primeiro mundo.
Também a garantia do voto, assim como a possibilidade de se candidatar foram lutas dadas pelas feministas. É uma contradição imensa quando vemos mulheres de direita falar contra o feminismo. Graças a essa luta elas podem hoje ser candidatas e se tornar prefeitas, deputadas, presidentas. Por isso os homens ficam violentos como criança que quer o brinquedo só para si. Desde o feminismo interseccional, abrimos as possibilidades a todas as pessoas.
Para quem é o feminismo?
Cada vez que ouço uma mulher dizendo que ela teve sorte, que nunca teve problemas com homens e tal, eu começo a inclinar a cabeça. Como assim? O princípio do feminismo é que não é por mim, é por nós-todas/todes.
Faz parte de parar e pensar outra humanidade. E poderia acrescentar, como diz Marcia Tiburi no livro “Feminismo em comum para todas, todes e todos”: “desmontamos o patriarcado para remontar a sociedade”.
Se podemos estar hoje eu escrevendo e você me lendo é porque não fomos assassinadas. Lembremos que o Brasil é o 5º país em violência contra as mulheridades.
Sou ativista lésbika feminista desde a década de 1990 e já vi e ouvi muitas coisas. Também a pergunta de que se sou lésbika, o que sei do patriarcado. Vontade de gargalhar. Justamente, não é sobre mim, é sobre nós. E mais, meu lesbianismo é um ato polítko do dia a dia, lembremos que ismo implica movimento social e polítiko.
Nunca consegui me apaixonar por possíveis assassinos. Desculpem a crueza, mas vamos combinar que os números são gritantes. Os feminicidas são os maridos e ex maridos, namorados e ex namorados, e os abusadores sexuais também são os pais e padrastos e irmãos e colegas de trabalho e chefes. Nunca consegui me apaixonar por um inimigo em potência. Eu sei que não são todos, mas sempre são homens.
Não estou aqui propondo lesbianizar as heterossexuais. Brincadeiras e ironias à parte, minha intenção ao cometer sincericídio é chamar a atenção da gravidade e do perigo extremo em que vivemos. Assim como acho que o veganismo (ismo, novamente) é uma opção urgente, porque para ter tanto gado, as vacas têm que ser estupradas, igual que as porcas; e as galinhas vivem trancadas com luz acessa 24 horas. São muitas violências que também atingem o meio ambiente, não só pelos gases que produz o gado (quando ouvi essa versão a primeira vez, achei que fosse brincadeira, mas não é), mas também pelos campos que estão sendo incendiados para trocar árvores e multidiversidade, por gado.
Estou propondo é construir relacionamentos através da lupa do feminismo.
Precisamos de palavras
Fica nítido que vivemos uma ditadura patriarcal, estão nos matando. Me nego a chamar de guerra, pois deveria de haver violência dos dois lados, enquanto que ela vem de um lado só. O Estado atual até que se esforça, mas não é nem um pouco perto do que deveria. As violências contra as mulheridades estão em todas partes, também tornando um pesadelo alguns lares. A ditadura patriarcal está na sociedade como um todo, isso é internacional, vejam a repressão em Berlim contra as manifestantes no 8M. Também aconteceu em Paris. Mas fatos bons também acontecem, já entregando a coluna recebi essa notícia: Itália aprova lei que pune feminicídio com prisão perpétua. Verdade que na era Lula, ele aumentou as condenações para até 40 anos.
Feminino ou feminiSmo?
Feminino é um adjetivo, geralmente o adjetivo do substantivo mulher. Ou seja, como são algumas mulheres? Resposta : femininas.
Então, ser ou não ser feminina é uma escolha. Uma opção algo mais do que estética (em alguns casos até submissa, aceitando os padrões que o CIStema impõe às mulheres como falar baixinho, ter determinados empregos e não outros, sonhar com o príncipe). As mulheridades podemos ou não ser femininas. Eu não sou (e a minha literatura também não). Mas todas/todes deveríamos ser feminiStas. (Grafo o S grande para deixar bem nítida a diferença entre uma e outra.)
Ser feminiSta é também gostar de festas, de cantar de se abraçar, de compartilhar vitórias. Como dizia a anarko-feminista Emma Goldman, se não posso dançar, essa não é minha revolução. Vamos juntas/juntes?
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.