Em um de seus primeiros decretos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou o fim das políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) no serviço público norte-americano. Com essa decisão, os funcionários ligados a tais programas foram colocados em licença administrativa por 60 dias e, depois desse período, serão demitidos.
A medida acompanha um movimento da direita, que defende a chamada “meritocracia” e parte do pressuposto de que todas as pessoas efetivamente teriam as mesmas oportunidades de ascensão social. Assim, as posições alcançadas por cada indivíduo resultariam do seu próprio esforço, talento ou capacidade. Ou seja, para quem defende esse discurso, políticas voltadas à inclusão são como privilégios.
O que são as políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão?
As políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão atuam em diferentes frentes e com distintas estratégias, mas compartilham o mesmo objetivo: valorizar perspectivas diversas e corrigir desigualdades históricas.
A Diversidade está ligada à presença de trabalhadores de diferentes etnias, orientações sexuais e gêneros no ambiente de trabalho. A Equidade busca ajustar estruturas e processos para que todos os grupos, especialmente os mais marginalizados socialmente, possam participar e contribuir de acordo com suas capacidades. Já a Inclusão envolve a criação de um espaço onde a participação de todas as pessoas seja reconhecida como essencial, garantindo um ambiente livre de discriminação e que promova o senso de pertencimento.
Um exemplo de política de Inclusão é o programa Lideranças Negras na Gestão (PLN), desenvolvido pela Fundação João Pinheiro. O projeto tem como objetivo o desenvolvimento de competências de liderança e gestão, buscando fortalecer a atuação desses profissionais e promovendo uma gestão pública mais diversa e equitativa.
Ter um time plural não é o suficiente, sendo necessário assegurar que todos tenham voz e participação ativa. Além de tornar os espaços mais justos e colaborativos, a inclusão ajuda a corrigir desigualdades estruturais e traz benefícios concretos para as organizações. Segundo um relatório da OIT, empresas com culturas mais inclusivas registram um aumento de 37% na avaliação do interesse e da demanda do consumidor, evidenciando o impacto positivo dessas iniciativas.
Desigualdades e políticas de diversidade
De acordo com o Censo do IBGE de 2022, as mulheres representam 51,5% da população, mas ainda são minoria em cargos de liderança. Apenas 39,9% das posições de chefia em empresas e organizações são ocupadas por mulheres.
Ao fazer o mesmo recorte por raça, a população negra ocupa apenas 8% dos cargos de liderança (do nível de gerência para cima), como aponta a pesquisa realizada pelas organizações Indique uma Preta e Cloo. No caso das mulheres negras, os números são ainda piores. Segundo o Censo Multissetorial da Gestão Kairós 2022, elas representam apenas 3% dos cargos de liderança no Brasil.
Nesse contexto, as políticas de inclusão se tornam essenciais, já que as mulheres negras, assim como outros grupos historicamente marginalizados, enfrentam barreiras estruturais que limitam seu acesso a posições de liderança e poder.
A importância das políticas de DEI no serviço público
No serviço público, o impacto das políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) é ainda mais evidente. Ao ampliar o acesso de grupos historicamente marginalizados a cargos de liderança e decisão, essas iniciativas ajudam a incorporar diferentes vivências na formulação de políticas públicas, potencializando a promoção da equidade. Esse princípio fundamenta a burocracia representativa, concepção que defende que a administração pública deve refletir a diversidade da sociedade a que atende, garantindo que os interesses de todos os grupos sejam considerados nas decisões governamentais.
O Observatório das Desigualdades
Bruno Lazzarotti é professor e pesquisador da Fundação João Pinheiro, coordenador do Observatório das Desigualdades e doutor em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Clarice Miranda é discente do curso de Administração Pública da Fundação João Pinheiro, integrante do Observatório das Desigualdades e apaixonada por políticas públicas e gestão governamental.
Parceria entre a Fundação João Pinheiro (FJP) e o Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), o Observatório das Desigualdades, criado em agosto de 2018, é um projeto de extensão do curso de Administração Pública da FJP que busca contribuir com o debate informado sobre as diferentes faces da desigualdade social, os mecanismos que as produzem e reproduzem e as formas de enfrentá-la, difundindo e tornando mais acessível o conhecimento sobre o tema.
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