O debate político em Pernambuco está sendo tomado pela polarização entre a governadora Raquel Lyra (PSD) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Ambos tentam organizar em torno de si o maior número de forças políticas possível, se preparando para o embate que se aproxima.
Apesar de ensaiarem uma disputa ferrenha e apostarem em narrativas de confronto e rivalidade, há muito mais semelhanças que diferenças entre ambos. Vindos de famílias tradicionais da política, eles lideram governos de centro, bem relacionados com os mais diferentes setores da elite pernambucana, do interior ao litoral, com inclinação à política de privatização, pouca participação popular e louvação à tecnocracia.
Tanto Campos quanto Lyra, mesclam protagonismo do setor empresarial nos rumos de seus governos com algumas políticas sociais. No caso do PSB, o Compaz; e no caso da governadora, o Morar Bem e o Mães de Pernambuco. Trata-se, portanto, não de uma polarização entre direita e campo popular, mas de dois palanques de centro, com peculiaridades quanto ao modo de gestão e de articulação política, com vantagem aí para João Campos.
Ocorre que o eleitorado de Pernambuco não se resume a eleitores de centro, de direita ou do progressismo tímido de setores médios ligados ao PSB. Nosso estado possui uma esquerda numerosa na capital e um eleitorado lulista popular relevante no interior. Quem é capaz de simbolizar, por si mesmo, a força desse lulismo, é o PT.
Nesse sentido – e que ninguém se engane – o Partido dos Trabalhadores, mesmo não tendo hoje grandes aparatos eleitorais espalhados pelo estado, tem a força de ser percebido pelo eleitor como portador de um símbolo que segue de pé e se apresentará ao povo nas próximas eleições: Lula e o projeto que ele lidera.
Mesmo com o abalo recente que o seu governo sofreu, Lula segue liderando com folga as pesquisas em Pernambuco e ainda é o maior cabo eleitoral do estado. Sua força simbólica, social e eleitoral inevitavelmente transborda para as lideranças do PT estadual postas em condições de visibilidade.
Uma prova cabal disso é a sólida liderança do senador Humberto Costa em todas as pesquisas para o Senado apresentadas até agora, fruto do recall de dois bons mandatos em Brasília e, sobretudo, da força do petismo em nossas terras.
Outra prova foi a eleição da senadora Teresa Leitão, em 2022, que conseguiu se fazer notar como a representante do lulismo no estado e teve uma votação consagradora. Ela recebeu mais votos que o candidato a governador de sua chapa, que não conseguiu “colar” sua imagem a Lula, mostrando como o público que faz essa associação é relevante nas eleições em Pernambuco.
Essa vinculação forte entre petismo e lulismo deve seguir em 2026. Isso porque a eleição nacional deve ser muito acirrada e o Brasil, mais uma vez, se dividirá entre um campo democrático e outro fascistóide. É para a figura de Lula que novamente irá convergir um grande movimento em defesa do Brasil. Isso tende a fortalecer candidatos de chapas majoritárias a ele vinculados, sobretudo num estado lulista como é Pernambuco.

Qual palanque pernambucano pode se dar ao luxo de não se vincular simbolicamente ao candidato à Presidência mais forte e com grande apelo no estado? Não há maior vínculo, nesse sentido, que a presença do PT.
Quem subestimar a força do lulismo em Pernambuco cometerá erro crasso. Quem se deixar levar por ondas de popularidade efêmeras, ainda não enraizadas numa trajetória consolidada, e não calçar as sandálias da humildade, pode cometer grave erro estratégico. E quem apostar em repetir a tática de ficar em cima do muro, numa eleição nacional altamente polarizada, pode dar passos em falso.
Dito isso, botemos a bola no chão: por que o PT deveria se dedicar, em 2025, a jogar-se em qualquer palanque que seja em Pernambuco, como se estivesse perdido em alto mar à espera de um bote salva vidas?
Desde quando os palanques em Pernambuco, quaisquer que sejam, poderão tranquilamente abrir mão da força social e simbólica que tem o PT numa eleição onde Lula será o principal candidato a presidente da República?
O PT deve, isso sim, reafirmar sua independência e dedicar-se a dialogar com sua base social, acumulando força e debatendo o estado, sem repetir o erro que cometeu em 2024, no Recife. O PT não pode ficar prisioneiro do PSB nem de nenhuma outra força política em Pernambuco.
Nosso papel primordial em 2025 é ajudar a criar as condições para reforçar a candidatura de Lula no estado e impor aqui uma derrota histórica ao fascismo. Para isso, devemos manter interlocução com todas as forças sociais e políticas que se comprometerem com esse projeto.
Ao invés de se limitar ao debate sobre o palanque A ou B, o PT deve ter seus parlamentares, dirigentes e militantes nas ruas, nas redes e na imprensa ajudando a massificar a luta contra a escala 6×1, contra a privatização da Compesa, em favor da proposta de Lula para isentar do imposto de renda quem ganha até R$5 mil por mês.
É preciso debater o estado e conectar-se com as questões reais que impactam o dia a dia da classe trabalhadora pernambucana, não permitindo que a extrema direita ocupe os espaços vazios deixados pela atual polarização de centro em nossa terra.
Há vários anos Pernambuco figura entre os estados mais desiguais, com mais desemprego e mais violência. Um estado com muitas mortes no campo por conflitos de terra e grave déficit habitacional, especialmente na RMR, onde o transporte público segue sendo caro e de péssima qualidade. Onde, segundo o TCE, somente 34% da população tem acesso a coleta de esgoto e onde se registra um dos maiores índices de pessoas vivendo em insegurança alimentar.
É grave a condição das mulheres pernambucanas, que vivem num dos estados com mais casos de violência de gênero. A juventude negra do nosso estado é uma das que mais morre assassinada e sofre encarcerada. Aqui, segundo dados de 2022, é também onde mais são mortas pessoas trans em todo o Brasil.
As questões climáticas, em Pernambuco, tanto pelo PSB, quanto pelo PSD, são discutidas sempre pelo prisma empresarial, quando deveriam ser vinculadas ao enfrentamento das desigualdades sociais.
O que temos a dizer sobre tudo isso? Como podemos aglutinar os movimentos sociais e sindicais, nossa militância e todos os atores do campo popular em torno de um programa para Pernambuco, ao mesmo tempo em que nos dedicamos a organizar apoios para a batalha por Lula em 2026?
Quanto mais estivermos presentes no debate e com mais capacidade de mobilizarmos nossa base social, maior será a força do PT frente a um eleitorado bastante relevante em Pernambuco, que nem é organicamente fiel a Raquel, nem a João – e está ávido pelo nosso protagonismo.
O PT precisa reorganizar seu programa, inclusive para apresentar uma alternativa de esquerda à polarização atual para o Governo do Estado, por exemplo, posição esta que eu defendo. Mas também para fechar alguma aliança, em nome do projeto nacional e do combate ao bolsonarismo no Brasil, se esse for o caminho necessário.
O que não podemos jamais é nos rebaixar, nos tornar prisioneiros de quem quer que seja, deixar de dialogar com nossa base e não perceber a força política que ainda possuímos.
Reforçar Lula, reafirmar sua independência e debater Pernambuco, em defesa da classe trabalhadora: esse é o papel que um partido grande como o PT deve cumprir num estado combativo e altivo como o nosso.
Mãos à obra.
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