As chuvas e suas consequências no Grande Recife foram manchete nacional na semana passada. Agora, neste momento, enquanto escrevo esta coluna, as regiões Sul e Centro-Oeste enfrentam mais uma onda de calor com sensações térmicas que podem chegar a até 70ºC – onda de calor que pode inclusive chegar ao Nordeste.
Qual será o evento climático que vai acontecer na semana que vem? Porque, como estamos vendo, a crise climática já está presente no nosso dia a dia enquanto se faz muito pouco ou quase nada para combater os seus efeitos.
O cenário de extremos climáticos que vivemos hoje não é natural e nem está acontecendo ao acaso. O impacto do sistema capitalista sobre o meio ambiente, após séculos de exploração e destruição dos nossos biomas e ecossistemas ao redor do planeta, nos trouxe consequências desastrosas.
Mas para entender como a crise climática nos afeta é preciso compreender também que ela afeta principalmente as populações mais vulneráveis, que é o povo preto e pobre. É essa população que vive nas periferias e que são arrasadas a cada enchente, que vivem nas ilhas de calor, onde as temperaturas são mais altas; e são essas pessoas que estão expostas a desastres ambientais cada vez mais frequente. Isso tem nome: racismo ambiental.
Não foi coincidência que justamente jovens negros perderam as vidas eletrocutados nas enchentes do Recife: Juan Pablo, 21 anos, saiu de casa para ir a um curso de informática, mas não conseguiu entrar na escola. Quando voltava para casa foi eletrocutado. Sua mãe ficou horas no ponto de ônibus esperando o filho, que não voltou.
Myriam era entregadora de aplicativo e tinha acabado de conquistar sua moto e a CNH. Ela morreu ao encostar em um muro na rua. Valdomiro, que tinha só 18 anos, voltava do Ceasa, onde trabalhava com o pai numa barraca de frutas. Recebeu o choque, foi socorrido pela própria família, mas não resistiu.
Como se não bastassem todos os sonhos e planos interrompidos por falta de direitos básicos, como saúde, educação e emprego digno, agora a nossa juventude sofre com as consequências dos extremos climáticos. O nosso futuro está sendo roubado porque ainda não temos medidas concretas para promover a justiça e equidade climática.
É urgente atuar na contenção, no monitoramento e na prevenção de tudo isso que estamos vivendo – ou vamos amargar mais mortes a cada evento climático.
Dentro da Alepe, a gente acompanha essa pauta desde o início do mandato e esse tema precisa ser tratado de forma séria. Já fizemos audiências públicas, pedidos de informação, indicações ao Governo do Estado, visitas, reuniões, e estamos trabalhando para que a pauta climática seja tratada com a centralidade e prioridade que ela exige.
É preciso que tenhamos um plano de adaptação aos efeitos dos eventos climáticos. Isso passa por várias ações: criar alertas massivos, que cheguem para todo mundo se informar e saber agir com antecedência, ao invés de apenas alertar de forma sensacionalista; dar condições para que a Defesa Civil possa intensificar sua atuação, utilizando a busca ativa de pessoas em áreas de risco, construir mais contenções nas barreiras e áreas suscetíveis a deslizamentos.
É preciso revitalizar os trechos urbanos dos diversos rios que cortam nossas cidades; manter os canais limpos e desobstruídos; plantar mais árvores para diminuir as altas temperaturas e evitar a erosão do solo, além de promover a mitigação de emissões de gases do efeito estufa. Não faltam ações, mas falta vontade e força política para executar as soluções que almejamos.
Esse problema tão complexo não se resolve com ações individuais e isoladas. Precisamos de um esforço conjunto não só dos órgãos públicos e do Estado, mas enquanto sociedade, para propor soluções para as mudanças climáticas unindo nossas forças em defesa do meio ambiente e do bem viver dos povos.