Nesta semana mais uma vez enfrentamos eventos extremos, com chuvas intensas, ventanias fortes e até granizo. A recuperação é lenta, os prejuízos são muitos. Mas pode e deve ser diferente. Novos temporais, inundações e secas virão, mais intensos e frequentes ainda.
Mais uma vez insistimos neste tema, simplesmente porque é necessário proteger melhor nossas vidas, nossas casas, cidades, campos e lavouras e todo ambiente natural.
Esta situação ocorre porque a temperatura da terra continua aumentando; no ano passado já ultrapassou a média de 1,5ºC, o que era considerado muito crítico; agora já ultrapassamos 1,6ºC.
As tempestades e secas poderão ser maiores e mais frequentes, o sobreaquecimento da terra já ultrapassa os 1,6ºC.
Quem mantinha chuvas e temperaturas relativamente regulares é a própria natureza da Terra. Com este sobreaquecimento, está completamente desorientada, tudo podendo aquecer.
O aumento da temperatura ocorre porque a camada de ozônio, em torno de 30 km acima da camada terrestre, retém mais calor, especialmente dos raios solares infravermelhos. Porque? Esta camada foi aumentada pelos gases de efeito estufa (podemos entender: a estufa da Terra ficou maior), principalmente óxidos de carbono, óxidos de nitrogênio e outros, gerados em decorrência da destruição de nossas reservas naturais, dos modos de produção agrícolas e industriais e do transporte movido a combustíveis fósseis.
Precisamos agir muito mais em duas frentes combinadas, ao mesmo tempo prepararmo-nos preventivamente para enfrentar estes distúrbios e ao mesmo tempo reduzir rápida e intensamente a geração dos gases de efeito estufa.
Para prevenirmos melhor, tanto no campo como nas cidades, é necessário termos boas previsões do tempo que virá a longo prazo – um ano, ou mais -, bem como nos prazos mais próximos.
Precisamos de previsões do tempo de longo, médio e curto prazo e defesas civis fortalecidas.
Hoje temos vários órgão fazendo medições cujas imagens são interpretadas por meteorologistas, que orientam as salas de crise. Já é um avanço.
Fundamental é definirmos e implantarmos uma estrutura de parcerias entre setores da defesa civil, energia elétrica, saneamento e outros, que façam medições em todas as bacias hidrográficas, completando equipamentos já em funcionamento. Esta estrutura deve receber todas as informações medidas, fazer os respectivos estudos e interpretações e emitir relatórios e alertas a todos, desde a Presidência da República até os(as) cidadãos(ãs).
Este órgão deve ser devidamente qualificado, possuindo, além de meteorogistas, climatologistas, profissionais que fazem as previsões de longo prazo.
O órgão mais qualificado para coordenar esta estrutura é o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem) -, criado em 2011, com excelentes trabalhos prestados, e que deveria trabalhar conjuntamente com estrutura local integrada pelo Instituo de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/Ufrgs) e universidades.
As defesas civis devem ser melhor preparadas, com boas previsões, coma falamos acima, contar com a participação dos demais órgãos com Batalhão de Bombeiros, concessionária de energia elétrica, saneamento, meio ambiente, obras, saúde e quem mais puder colaborar como a própria iniciativa privada.
Aqui mais uma vez realçamos a importância da política pública com muito pouca atenção e tão fundamental e capaz de resolver os aspectos de segurança e qualidade de vida de todos(as). Trata-se do saneamento básico, assim constituído pela legislação – água tratada, esgotos coletados e tratados, resíduos sólidos (lixos) adequadamente recolhidos e tratados, drenagem urbana e proteção contra cheias.
Saneamento básico e política pública efetivamente capaz de proteger e criar qualidade de vida.
Cada real investido em saneamento poupa três reais em saúde, auxilia a educação, produz empregos e rendas em suas obras, manutenções, pesquisas, planejamentos e projetos.
O saneamento é baseado n Lei 11.445/2007 e atualizada pela Lei 14.026/2020, esta conhecida como Marco Legal do Saneamento, que estabelece como metas para 2033: Nenhum brasileiro(a) sem água potável e 70% de esgoto tratado. Dada a urgência de solução para nossos problemas ambientais e grande capacidade de solução das ações do saneamento, devemos fortemente antecipar estas metas.
Vamos por partes:
– Água: Ano após ano temos falta de água em Porto Alegre, região metropolitana e cidades do interior. Cada ano temos no mínimo uma seca severa, prejudicando lavouras e abastecimentos de água. Por que demoramos tanto para implantarmos os reservatórios de águas das chuvas? No Nordeste, principalmente após a transposição do São Francisco, praticamente todas as regiões possuem irrigação nas pequenas, médias e grandes propriedades agrícolas. Não por acasos produzem frutas e outros produtos típicos aqui do sul;
– Esgotos: Considerando água, esgotos e lixos, este é o setor mais atrasado, e está diretamente à vinculado à qualidade das águas dos arroio, rios e mares;
– Lixos: Reuso, separação, compostagem e aterros sanitários adequados precisam ser muito mais intensificados. A mistura de lixo e água jamais deve ocorrer; o lixo polui mais de trinta vezes do que o esgoto sanitário.
– Drenagem urbana e proteção contra cheias: Quem cuida deste filho abandonado?
Qual a estrutura necessária
Quem é o responsável pelo saneamento? No artigo da próxima semana explicitaremos. Já antecipamos que a universalização do saneamento com tarifas acessíveis e serviços adequados não combina com iniciativa privada, que necessita de lucros para justificar a sua própria existência. No caso de Porto Alegre é por todos os motivos absurda e maléfica a tentativa de privatizar parcial ou totalmente o DMAE.
Outro tema para o próximo artigo. Dois terços das emissões dos gases estufa vem da combustão da gasolina e do diesel. Qual o melhor caminho para resolver?
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.