Palestina no presente: efemérides de resistência

A reportagem percorreu, por cinco semanas, a Cisjordânia ocupada; confira as reportagens sobre a realidade desse povo

Júlia Dolce/Brasil de Fato

Por Júlia Dolce e Victor Labaki

A Palestina de 2017 é uma Palestina de efemérides, que parecem andar em círculos ao longo da história.

Neste ano, completa-se um século da Declaração de Balfour, primeiro documento que indica o estabelecimento de um Estado Judeu na região, escrito pelo secretário britânico de assuntos estrangeiros ao Barão Rothschild, então líder da comunidade judaica do Reino Unido. O texto sugere a facilitação de um "Lar Nacional Judeu" caso a Inglaterra derrotasse o Império Otomano, que até então dominava a região.

Em 2017, também são completados 50 anos da Guerra dos Seis Dias, que, em 1967, marcou a expansão do território do então já estabelecido Estado de Israel. Por meio de uma ofensiva das forças armadas, a península do Sinai, as Colinas de Golã, a Cisjordânia e Gaza foram ocupadas pelos israelenses, apesar de as divisões territoriais, já demarcadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1947, claramente delimitarem as fronteiras do Estado Palestino.

Além disso, dentro de um ano, a criação do Estado de Israel completa 70 anos, evento de maio de 1948 que foi marcado pela expulsão de pelo menos 700 mil palestinos de suas casas e pela destruição de mais de 500 vilas, até hoje popularmente conhecida pelos palestinos pela palavra árabe "Nakba", em português, "catástrofe".

Finalmente, no ano de 2017 completam-se três décadas do início da Primeira Intifada, levante palestino contra a ocupação israelense que teve início em 9 de dezembro de 1987, em um campo de refugiados de Gaza, e que tomou toda a região. A intifada reuniu violentos combates e foi duramente reprimida pelas forças armadas israelenses, que deixaram um saldo de centenas de civis e guerrilheiros palestinos mortos. A revolta terminou apenas em 1993, com a assinatura dos Acordos de Oslo.

A Palestina de 2017 é também uma Palestina que resiste, de um povo que decide ficar, apesar de tudo: "sumud", é o sentimento transformado em palavra árabe pelos palestinos.

Um total de 85% da população palestina já foi expulsa de seu território, tendo virado refugiada ou deslocada interna, e apenas 15% das propriedades originais palestinas permanecem. De acordo com dados da UNRWA, agência das Nações Unidas de assistência específica aos refugiados palestinos, são pelo menos 6,14 milhões de refugiados palestinos de 1948 e descendentes vivendo ao redor do mundo.

Outro dado que impressiona é o de cerca de 800 mil palestinos presos por meio do sistema de prisões administrativas, desde 1967, ano da Guerra dos Seis Dias. E pelo menos 75 palestinos mortos sob tortura desde então, segundo informações da organização Addameer, instituição civil que oferece suporte a prisioneiros palestinos e vítimas de tortura.

Com base nesse legado histórico e nesses dados, durante quarenta dias viajando pelo território ocupado da Palestina na Cisjordânia, a reportagem do Brasil de Fato e da Revista Fórum entrou em contato com uma série de organizações, realidades e histórias, as quais foram divididas em seis reportagens que exploram o contexto sociopolítico e o conflito na região atualmente. Confira: 



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