Por Fania Rodrigues - correspondente especial na Venezuela
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Nos murais, nas estampas de camisetas, nos quadros de paredes, nos debates das praças públicas, nas rodas de cerveja… Lá está Hugo Chávez. Presente na vida dos venezuelanos e venezuelanas. No dia 5 de março de 2019, completam-se seis anos da morte do ex-presidente da Venezuela. Relembre aqui o especial que o Brasil de Fato preparou no ano passado para marcar a data, quando a reportagem conversou com integrantes de movimentos da base da Revolução Bolivariana e cidadãos para saber qual o legado do líder venezuelano para a população.
As políticas sociais de Chávez mudaram a vida de gente simples, como dona Eddy Asuaje, moradora do bairro de Antímono, na zona oeste de Caracas, região popular da capital. “Ele se foi fisicamente, mas ainda o temos nos nossos corações. Chávez, em cada passo que damos, aqui está nosso presidente nos apoiando”, diz a dona de casa.
Enquanto mostra sua casa, construída pelo programa social de casas populares criado por Chávez, Misión Vivienda, dona Eddy conta que sua condição financeira jamais permitiria a compra de um imóvel como esse. São três quartos, dois banheiros, uma sala grande e uma cozinha estilo americana. “Nós somos a prova de que é possível ter uma casa própria. Às vezes, estou aqui na minha casa e penso: não acredito que estou aqui.” Ela faz parte das 2 milhões de famílias beneficiadas com o programa de casa própria do governo venezuelano, entre 1999 e 2018.
No setor rural, a distribuição de terras também gerou impactos positivos, segundo a camponesa Mareli Ramírez. Ela conta que, no campo, o legado do ex-presidente foi destinar terras para a reforma agrária. “Chávez declarou guerra ao latifúndio. No campo, existiam grande extensões de terra produtivas, mas que os grandes latifundiários as mantinham improdutivas. E nesses setores haviam camponeses que queriam trabalhar, mas não tinham acesso à terra. Isso mudou quando o presidente Chávez implementou a Lei de Terra”, destacou Mareli.
O comunicador popular, Pablo Kunich, um dos coordenadores do canal comunitário Alba TV, dá um panorama dos principais legados dos 13 anos do governo Chávez. “Se pensamos no legado do presidente e comandante Hugo Chávez, podemos destacar algumas políticas importantes. Uma delas foi a democratização da comunicação, que garantiu às comunidades o acesso a meios de comunicação comunitários e alternativos”, afirma. Ele também destaca a importância das políticas educativas e de saúde. “Na educação, o plano de alfabetização eliminou o analfabetismo na Venezuela. Em matéria de saúde, se criou uma rede nacional de atenção primária em todo o país”, destacou.
Processo histórico
Para Aquiles Navarro, porta-voz da Esquina Caliente, ponto de encontro de trabalhadores na Praça Bolívar, centro de Caracas, o ingresso de Hugo Chávez na política é fruto de um processo histórico que tem em sua origem os protestos populares conhecidos como “Caracazzo”, de 1989. Frente às medidas neoliberais do governo de Carlos Andrés Pérez, como corte de gastos, retiradas de direitos dos trabalhadores e aumento dos custos de vida, a população da capital venezuelana saem às ruas em uma jornada de protesto. As manifestações foram duramente reprimidas pelas forças de segurança do Estado. O resultado foram 276 mortos e milhares de feridos, segundo dados oficiais.
Indignado com o massacre da população, o então tenente-coronel do Exército, Hugo Chávez, começou a organizar um grupos de militares ligados a setores progressistas e nacionalistas para derrubar o presidente e tomar o poder.
O movimento fracassa, mas lança ao cenário da política nacional o nome de Chávez. Depois dessa tentativa de tomar o poder, ele fica dois anos preso e sai em 1994, fundando o Movimento Quinta República. Viaja pelo país defendendo a necessidade de “reformar a Constituição e refundar a República”.
Vinte anos após o ex-presidente vencer as primeiras eleições, em 1998, a Venezuela passa por novos desafios. Segundo Aquiles Navarro, “são muitíssimos os desafios, porque estamos a caminho do socialismo, em um processo de transição ao socialismo. Queremos uma Venezuela pós-petroleira, que seja produtora da maioria dos produtos que consumimos no país”.
O ex-presidente Chávez deu início a uma série de reformas do Estado, mas também inaugurou um novo modelo político que, em seu conjunto, foi chamado de Revolução Bolivariana. Um dos maiores desafios da Venezuela, que sofre hoje com um bloqueio internacional e o isolamento político promovido pelos Estados Unidos, é a superação da dependência do petróleo, construída historicamente desde os anos 1920.
Reportagem: Fania Rodrigues | Edição: Nina Fideles | Arte: Karina Ramos | Videorreportagem feita em parceria entre Brasil de Fato e Alba TV