A revolução bolchevique de outubro de 1917, que completa 100 anos neste ano, colocou no poder, pela primeira vez na história da humanidade, a própria classe trabalhadora e operária, resultando em abalos socioeconômicos sem precedentes no mundo inteiro.
Liderados por Vladimir Lênin, os bolcheviques ajudaram derrubar, por meio de grandes greves e manifestações, ainda em março de 1917, o governo imperialista e altamente autoritário do czar Nicolau II, que condenava a população russa a condições miseráveis de vida de forma opressiva.
O que se seguiu foi um governo provisório formado por setores da burguesia liberal que pouco mudou a vida do povo, resultando em outra insurreição meses depois, desta vez, levando ao poder os trabalhadores.
Cinco anos após uma sangrenta guerra civil, em 1922, nascia a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que, além da Rússia, ainda era formada por territórios que fizeram parte do império russo anterior, como Ucrânia, Bielorússia, entre outros que foram ampliados ao longo de décadas. (Veja Linha do tempo | A trilha da Revolução)
Sob o lema paz, terra, pão e trabalho, Lênin conseguiu unir a classe trabalhadora em torno de um projeto de Estado que aboliu a propriedade privada, realizou uma completa reforma agrária e estatizou bancos e investimentos e passou a destinar vultosos recursos para desenvolver indústria e oferecer saúde, educação e bem-estar social para a sua população.
A classe trabalhadora, de fato, passou a controlar as forças produtivas do país e a União Soviética experimentou décadas de avanços sociais, científicos e econômicos.
“A burguesia, enquanto classe social, levou vários séculos pra conseguir ascender ao poder, enterrando o feudalismo e fazendo emergir o sistema capitalista. E a Revolução Russa é, até hoje, a experiência mais profunda que a humanidade já experimentou de transição ao socialismo, de acesso ao poder da classe trabalhadora”, explica o advogado Ricardo Gebrim, dirigente da Consulta Popular.
“Depois da queda do muro de Berlim, virou moda as pessoas dizerem que o socialismo acabou, mas o socialismo é um ‘bebê’ no tempo histórico. O capitalismo demorou séculos para surgir e tem cerca de 500 anos de história, mas o socialismo mal chegou aos 100. Analisar os erros e acertos da Revolução Russa é fundamental para pensar a construção socialismo no futuro”, afirma Luciano Rezende Moreira, professor de ciências agrárias da Universidade Federal de Viçosa (UFV), membro da direção do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em Minas Gerais, e diretor nacional da Fundação Maurício Grabois.
Sobre a atualidade do socialismo como modelo viável, Luciano Rezende não deixa dúvidas. “Atualmente, 50% de toda a riqueza do mundo estão nas mãos de apenas 1% da população, ou seja, 1% da população mundial é mais rica que os outros 99%. A maior parte do povo está condenada à miséria e fome, além de submetidos a guerras sangrentas. O capitalismo superou o feudalismo, teve o seu auge, mas vem definhando na capacidade de melhorar as condições de vida das pessoas, podendo ainda nos levar a barbárie de uma guerra nuclear”, observa o professor.
Mais do que implantar uma mudança real na vida do povo russo, a Revolução socialista de 1917 repercutiu de forma extraordinária em todo mundo, influenciando o curso da história.
“Não é por acaso que a primeira grande greve geral no Brasil tenha ocorrido em 1917, a partir de uma onda revolucionária que vinha da Rússia. O próprio surgimento do partido comunista no Brasil, ocorrido em 1922, se deu naquela atmosfera”, aponta Ricardo Gebrim.
De país extremamente pobre, economia atrasada e depende da exportação de produtos agrícolas, no começo do século XX, a Rússia se tornou umas das maiores potências econômicas, políticas e militares do planeta. Confira as principais conquistas histórias dos trabalhadores no período.
Direitos Trabalhistas
Foi a partir da pressão popular e da luta de sindicatos, que direitos como o descanso semanal remunerado, férias, salário mínimo, licença maternidade, assistência de saúde e segurança no trabalho foram instituídos como garantias.
Direitos das mulheres
A Revolução Russa de 1917 defendia igualdade total entre homens e mulheres. Foi instituído o voto da mulher, o direito ao aborto e ao divórcio. Só depois da União Soviética que outros países como Inglaterra, Alemanha, EUA e França implementaram o voto feminino.
Derrota do nazi-fascismo
A União Soviética foi a principal responsável pela derrota da Alemanha nazista durante a II Guerra Mundial (1939-1945).
Libertação das colônias europeias
A Revolução Russa influenciou diretamente a luta pela libertação das colônias europeias na África e na Ásia, como Índia, Angola, Cabo Verde, Vietnã, entre outras.
Saúde e educação
Direitos como saúde e educação públicas de qualidade para a população foram assegurados. Antes da Revolução de 1917, menos de 1% da população russa era alfabetizada. O país se livrou do analfabetismo ainda nos anos 1970.
Avanços científicos
União Soviética e Estados Unidos rivalizaram durante boa parte do século XX pelo desenvolvimento tecnológico, científico e militar. No caso soviético, alguns do avanços vieram primeiro, como o lançamento do primeiro satélite, e o primeiro país a levar o homem ao espaço sideral. A corrida armamentista fez com que ambos os países se tornassem as duas maiores potências militares do planeta e donas do maior número de ogivas nucleares.
Texto: Rafael Tatemoto | Edição: Simone Freire | Artes gráficas: Wilcker Morais