Nos dois primeiros anos deste governo Lula, o Brasil conseguiu tirar, aproximadamente, 20 milhões de pessoas da situação de insegurança alimentar grave, definida como fome. O feito fez o país atingir um dos menores patamares já registrados, mas atualmente 4,1% da população segue desamparada.
O menor patamar foi em 2013, um ano antes do país ter recebido o reconhecimento por parte das Nações Unidas (ONU) de ter saído do mapa da fome. Na época, o índice estava em 3,2%.
Mesmo naquele momento, o Brasil enfrentava desafios para atingir o chamado ‘núcleo duro da fome’, como define o Informe Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas (Dhana), elaborado pela Fian Brasil, com o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN).
Segundo o estudo, o país tem uma dificuldade histórica de chegar a essa população.
“Entre 3 e 4% da população é mais ou menos esse público que aparentemente as políticas públicas como estão organizadas ainda não atingiram”, afirma a membra da Fian Brasil, Nayara Côrtes Rocha em entrevista ao programa Bem Viver desta quarta-feira (19).
A pesquisadora explica que são pessoas, no geral, que não têm documentos de identidade, por exemplo, não acessando assim políticas públicas como Bolsa Famílias entre outros.
Como solução, ela aponta, por exemplo, o fortalecimento de cozinhas comunitárias ou populares.
“Se a gente tem muita gente com insegurança alimentar nutricional, o início da política vai fazer uma diferença muito grande. Depois que a gente tirou as pessoas, um volume grande de pessoas, quem não tá acessando vai precisar de muito mais esforço. É pensar em outras alternativas também. A gente tem as cozinhas solidárias como uma política nova, a gente tem a política de agricultura urbana”.
Confira a entrevista na íntegra:
O Brasil teve pesquisas diferentes sobre o combate à fome nos últimos cinco anos. Isso de alguma forma interfere nesse dado de que, de fato, 20 milhões de pessoas saíram da situação de insegurança alimentar grave nos últimos anos?
A gente tem uma situação bem peculiar porque em 2020 e 2022 o IBGE não fez a pesquisa de segurança alimentar nutricional, quem fez foi a Rede de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar, a Rede Penssan, mas com uma metodologia comparável com as pesquisas anteriores.
Esses dados de 2020 mostram que a gente tinha, aproximadamente, 19 milhões de pessoas vivendo com fome, que é a classificação de insegurança grave. Em 2022 eram 33 milhões de pessoas com fome.
Quando o IBGE volta a fazer essa pesquisa, em 2023, com a Pnad Contínua, ele encontrou entre 7 e 8 milhões de pessoas, 4,1% da população em situação de fome.
Então a gente pode sim dizer que são aproximadamente 20 milhões de pessoas que saíram dessa situação limite, que é a fome.
Existe algo que chama atenção: a gente tem um núcleo duro da fome, que é aproximadamente 4% da população. Esse núcleo é mais difícil de acessar as políticas públicas. Esse núcleo da fome quase nunca saiu desse lugar.
O melhor dado de pesquisa que a gente tem é de 2013, que era 3,2 % de pessoas em segurança alimentar e nutricional. Vale lembrar que em 2014 foi quando a FAO reconheceu que o Brasil saiu do mapa da fome.
Ainda assim eram 3% da população, então entre 3 e 4% da população, é mais ou menos esse público que aparentemente as políticas públicas como estão organizadas ainda não atingiram.
Como podemos explicar essa conquista expressiva de tirar 20 milhões da fome, mas ao mesmo tempo em que temos essa inflação dos alimentos tão ativa?
A gente tem uma valorização do salário mínimo, que é importante. A gente tem a ampliação do Bolsa Família em alguns pontos.
E a gente tem também a reconstrução do estoque de alimentos, que tinha sido acabado durante o governo Bolsonaro, e isso faz com que o preço dos alimentos se mantenha mais estável do que estavam.
O que a gente tem visto agora é que ainda assim a inflação de alimentos dificulta o acesso a uma alimentação variada e saudável para a maior parte da população.
Então, o que a gente está vendo agora, nas últimas semanas, é o governo tentando se debruçar também sobre esses dados para entender o que pode ser feito.
Essas políticas que eu mencionei de maior acesso à renda, de melhoria do salário mínimo, de mais trabalho, elas ajudam muito na alimentação. Não há nada comparado com o que foi o governo Bolsonaro durante a pandemia, mas a inflação de alimentos, especialmente de alimentos em natura, que são os mais saudáveis, tem, sim, prejudicado o consumo dessas famílias.
A gente percebe com os dados que esse avanço é bastante focado na distribuição de renda, mas a de alimentos atinge menos do que a gente acha que seria necessário no sistema alimentar.
Por exemplo, um dado sobre o orçamento de segurança alimentar e nutricional para 2024: 50% dele é voltado para o auxílio gás, que é importante, a gente não tem nenhuma dúvida. Por outro lado, quando esse programa termina, e ele tem previsão de terminar em 2026, o orçamento de segurança alimentar nutricional vai diminuir muito.
Como chegar neste núcleo da fome?
A gente precisa pensar em outras formas também, em ações um pouco diferentes, não só repetir o que a gente fez antes.
Se a gente tem muita gente com insegurança alimentar nutricional, o início da política vai fazer uma diferença muito grande. Depois que a gente tirou as pessoas, um volume grande de pessoas, quem não tá acessando vai precisar de muito mais esforço.
Então a gente vai precisar que essas políticas atinjam quem tem dificuldade com documentação, a gente precisa olhar para quem as políticas não estão chegando.
É pensar em outras alternativas também, a gente tem as cozinhas solidárias como uma política nova, a gente tem a política de agricultura urbana
Como podemos olhar pro avanço dos ultraprocessados nesses últimos anos?
É difícil a gente pontuar qual é a maior ameaça, mas certamente nesse bolo de coisas que aconteceu nos últimos 20 anos, a maior disponibilidade e o barateamento, o avanço da indústria de ultraprocessados, de fato, é muito marcante.
O que a gente tem é terra produzindo soja, essa soja vai ser exportada e ela vai voltar como ultraprocessado. Se a gente olhar a composição desses produtos é farinha, farinha de soja, milho, tem três, quatro ingredientes e um monte de aditivo.
Eles têm um preço mais baixo, porque a matéria-prima é muito barata, eles duram mais tempo, eles respondem a essa necessidade que a gente tem de comer fazendo outra coisa, então é só abrir uma embalagem e vai comendo enquanto faz a reunião, enquanto dirige…
Isso tem feito com que os ultraprocessados sejam uma das principais ameaças, não só para a saúde da população, mas para o sistema alimentar.
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