Ouça a Rádio BdF

‘Cavaquinho era minha boneca’: Nilze Carvalho narra trajetória musical que começou aos 5 anos

Da infância em Nova Iguaçu ao reconhecimento nacional, a cavaquinista fala sobre a carreira e o álbum 'Nos Combates da Vida'

Em clima carnavalesco, o Conversa Bem Viver recebeu Nilze Carvalho, uma das maiores representantes do cavaquinho brasileiro. Carioca de Nova Iguaçu, ela começou a tocar o instrumento aos 5 anos, influenciada pelo pai, Cristóvão Carvalho, trompetista. Recentemente, lançou o álbum Nos Combates da Vida, com participações de João Bosco e Teresa Cristina. Em uma conversa descontraída, Nilze relembrou sua trajetória, desde os primeiros acordes no cavaquinho, com apoio do pai, até os desafios de ser independente no mercado musical.

Desde muito cedo, a musicista demonstrou um talento excepcional para o cavaquinho, instrumento que se tornou sua “boneca” na infância. “Meu pai percebeu que eu gostava de estar com o instrumento e começamos a desenvolver isso juntos. Ele arrumou um violão, e nós dois passamos a aprender cordas juntos, usando discos da época”, contou. Aos 7 anos, chamou a atenção do programa Fantástico, que foi até sua casa para filmar com a menina “estranha”, como ela se define, que tocava, sobretudo, choro. Aos 11, gravou seu primeiro disco, consolidando-se como uma das jovens promessas da música brasileira.

Ao longo da carreira, Nilze construiu uma discografia marcante, com álbuns como Nilze Carvalho (1981), Cavaquinho Brasileiro (1997), Samba de Todos os Tempos (2005) e o recente Nos Combates da Vida (2024). Seu repertório é um mix de samba, choro e MPB, com destaque para músicas como Cavaquinho Brasileiro, Linha de Passe (em parceria com João Bosco) e Candeeiro (com Teresa Cristina). Além disso, é conhecida por suas interpretações de clássicos do chorinho e por levar a tradição do cavaquinho para novos públicos.

A artista também já disputou o Prêmio da Música Brasileira ao lado de grandes nomes como Teresa Cristina e Alcione, e construiu uma trajetória marcada pela independência e pela liberdade artística. “Eu sou minha própria produtora. Não tenho gravadora, então faço tudo sozinha: planejo, produzo, organizo. Precisa de tempo e planejamento”, explicou.

O último álbum, Nos Combates da Vida, reflete as lutas e vitórias que moldaram sua vida, desde superar uma pneumonia bacteriana grave e um câncer até encontrar na música uma forma de agradecimento e resistência. “Pensei: ‘Gente, vamos fazer um disco em agradecimento por todas as bênçãos de ter superado essas batalhas'”, revelou.

Em entrevista ao Conversa Bem Viver, compartilhou detalhes de sua trajetória, suas inspirações e os desafios de ser independente em um mercado tão competitivo. Confira a seguir os melhores momentos dessa conversa.

Nilze, você compartilha da sensação de que, nos últimos anos, houve uma retomada dos sambas-enredo que dialogam com a ancestralidade afro-brasileira? Esse movimento parece ter ganhado força novamente.

Realmente, houve uma época em que os temas vinham muito de fora, sabe? Alguém trazia uma ideia, pagava e fazia. Era um pouco estranho. Eu não sou praticante de carnaval, então vejo mais de fora, mas, como fã, acho muito mais interessante quando os enredos falam da nossa ancestralidade. O carnaval fica mais verdadeiro, mais autêntico. Apesar de as histórias serem pesadas, o carnaval fica mais leve quando falamos das nossas raízes.

Vamos falar um pouquinho da tua trajetória. Você começou a tocar cavaquinho aos 5 anos. Como foi isso?

É verdade! Eu já dava as primeiras notas. Tocava “Acorda Maria Bonita”, que é uma marchinha bem simples, praticamente com as cordas soltas. Meu pai era trompetista e ganhou um cavaquinho de um amigo. Em casa, éramos cinco filhos, e todo mundo queria tocar. Acabei monopolizando o cavaquinho, ficava o dia inteiro tocando. Minha mãe odiava! Era uma brincadeira pra mim, o cavaquinho era minha boneca.

Meu pai percebeu que eu gostava de estar com o instrumento e começamos a desenvolver isso juntos. Ele arrumou um violão, e nós dois passamos a aprender cordas juntos, usando discos da época. Meu pai não me ensinou música formalmente; ele viu que eu tinha ouvido e já estava conectando o som ao ritmo, tocando até mesmo com as cordas soltas. A partir daí, passamos a ouvir as músicas e tentar reproduzi-las. Foi assim que eu me desenvolvi: ouvindo e tocando, ouvindo e tocando. Tudo foi uma didática própria, natural.

E quando você começou a tocar profissionalmente?

Com seis anos, eu já ganhava cachê. Comprei até coisas pra casa com o dinheiro! Meu pai me levava para rodas de samba, mas era complicado porque eu era muito pequena. Aos sete anos, o programa Fantástico foi à minha casa me filmar. Na época, tocava muita música estrangeira no Brasil, então uma menina com cavaquinho tocando chorinho chamou atenção. Aos 11 anos, gravei meu primeiro disco, e o Fantástico voltou para cobrir o lançamento. Reviveram toda aquela história, “aquela menina, vocês me lembram dela, que estava tocando lá?” E aí foi, eu fiz Fantástico, praticamente, nos quatro LPs daquela época.

Nilze, você veio de uma família de músicos e teve apoio desde cedo. Mas, em algum momento, você enfrentou preconceito ou machismo por ser uma mulher tocando cavaquinho?

Essa é uma pergunta que as pessoas me fazem muito e acho engraçado, porque a Mart’nália também ouve muito isso. No meu caso, eu não senti tanto. Chegava nas rodas e as pessoas me acolhiam bem. Era a “menina estranha que tocava cavaquinho”. Como eu era muito criança, acho que não me viam como uma concorrente, sabe? Eu só queria tocar, estava ali na brincadeira. Mas sei que muitas mulheres enfrentam isso, e é uma luta.

Agora vamos falar um pouco sobre seu trabalho mais recente, Nos Combates da Vida, lançado no ano passado, após um tempo sem álbuns novos. Como foi esse processo?

Eu sou igual ao Chico Buarque, gravo a cada cinco anos, mas por motivos diferentes. No meu caso, eu preciso me capitalizar para gravar, porque sou minha própria produtora. Não tenho gravadora, então faço tudo sozinha: planejo, produzo, organizo. Precisa de tempo e planejamento.

Essa é uma decisão sua ou uma consequência das condições que o mercado impõe a alguns artistas?

São as condições. Eu adoraria ter uma gravadora ou uma estrutura maior por trás. O último trabalho que foi produzido por alguém foi em 2005, pelo Rui Quaresma. Ele fez um disco lindo, e com ele disputei o Prêmio da Música ao lado de Teresa Cristina e Alcione, na categoria de melhor disco de samba. Foi a última vez que alguém bancou uma produção para mim.

O Rui não era uma grande gravadora, era um selo independente. Ele era apaixonado por música e fazia as coisas acontecerem, mesmo sem muitos recursos. Metia a mão no bolso e produzia. Hoje, eu mesma faço tudo. O lado ruim é que não tenho quem me ajude a levar o trabalho para mais lugares ou a divulgar na mídia. Mas o lado bom é que tenho liberdade total: escolho o repertório, canto do meu jeito e não preciso seguir modismos ou tendências. Gosto disso, só que não consigo acessar tanta gente desta maneira.

Apesar de ter um público bacana. Todo lugar que eu vou, no Rio ou fora, consigo reunir um público bom. Não é um estádio lotado, mas é um teatro de 300 lugares, 400 lugares.

A gente consegue fazer um show bonito. E eu gosto disso, de estar perto das pessoas. Adoraria ter uma gravadora por trás, mas nem sei se seria tão bom assim.

O álbum Nos Combates da Vida dialoga um pouquinho com essa luta para conseguir tocar o teu trabalho autoral?

É um álbum que tem outros poréns que eu passei. Eu gravei depois de um momento muito complicado. Logo antes da pandemia, tive uma pneumonia bacteriana muito séria, quase morri. Depois, no final de 2018, descobri um câncer. Foram duas doenças graves em pouco tempo, e eu consegui superar ambas. Aí veio a pandemia, e todo aquele isolamento. Foi um período difícil, mas também de muita reflexão.

Em um dos shows que fiz, incluí uma música da Lazir Sinval que diz: “Cacurucaia, eu tô / Murungando, tô / Mas não posso morrer”. Aquilo me marcou muito. Pensei: “Gente, vamos fazer um disco em agradecimento por todas as bênçãos de ter superado essas batalhas”. E assim surgiu Nos Combates da Vida, nome que veio de uma música da Dona Ivone Lara, que eu adoro.

A pandemia me fez explorar coisas novas. Comecei a fazer lives, algo que eu não gostava, mas que acabou sendo uma forma de me conectar com as pessoas. Mostrava minhas composições, e o público começou a pedir: Essa música está gravada? Está no Spotify?”. Eu respondia: “Não, mas vai estar!”. Foi assim que comecei a montar o repertório.

O álbum não é totalmente autoral. Tem quatro músicas minhas, em parceria com outros artistas, como Ney Lopes, e outras que escolhi porque gosto de cantar. Tem essa música da Lazir Sinval, que já foi gravada antes, e uma da Lili Figueiredo, de São Paulo, que eu quis incluir. Também coloquei uma do Caetano Veloso, que eu já cantava nos shows. Gosto de experimentar as músicas no palco, ir ajustando os arranjos, e isso foi moldando o álbum. Ficou um repertório bem bonito.

E as participações especiais, como João Bosco e Teresa Cristina, como surgiram?

Com o João Bosco, por exemplo, eu sempre tocava Kid Cavaquinho junto com Brasileirinho, que são clássicos dele. Aí pensei: “Poxa, vou chamar ele pra gravar comigo”. Mandei uma mensagem: “Mestre, me dá essa colher de chá?”. Ele topou. Ficou lindo!

Já com a Teresa Cristina… conheci ela em 2000, e ela tinha gravado Candeeiro, uma música que eu adoro. Quando ela não pôde fazer um show, fui chamada para substituí-la e acabei aprendendo essa música. Aí pensei: “Vou gravar!”. Mandei uma mensagem pra ela: “Teresa, tô gravando Candeeiro, bora?”. Ela topou, adorou o arranjo, e deu tudo certo. Foi muito especial.



Confira como ouvir e acompanhar o Programa Bem Viver nas rádios parceiras e plataformas de podcast / Brasil de Fato

Sintonize 

programa de rádio Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. A versão em vídeo é semanal e vai ao ar aos sábados a partir das 13h30 no YouTube do Brasil de Fato e TVs retransmissoras: Basta clicar aqui

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT. 

A programação também fica disponível na Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver está nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.

Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para ser incluído na nossa lista de distribuição, entre em contato por meio do formulário.

Veja mais