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Teresa Cristina: ‘Samba e mulher são um ponto só’

Cantora enaltece atuação de Tia Ciata para criação do gênero musical, no Rio, nos primeiros anos do século 20

A proximidade do Carnaval com o 8 de março, Dia Internacional de Lutas das Mulheres, não é à toa, defende Teresa Cristina. Para a cantora, “não são pontos que se conectam, é um ponto só”.

Em entrevista ao Conversa Bem Viver desta sexta-feira (7), a artista traça uma breve linha cronológica do samba carioca, rememorando a atuação de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, considerada a precursora das rodas no Brasil.

“O samba carioca nasce das mãos de uma mulher e isso é muito emblemático, porque ele nasce das mãos dessa mulher e a imagem dela é apagada com o passar do tempo.”

“Nós temos muito, muito pouca informação sobre a Tia Ciata. Eu tenho uma curiosidade enorme sobre, por exemplo, como era o timbre de voz dela? Como é que ela dançava? Como é que ela tocava prato e faca? Quando ela improvisava no partido alto, quais são os versos que ela fazia?”

Na entrevista, a sambista fala mais sobre o machismo presente nas rodas de samba e também enaltece aos desfiles do Carnaval deste ano que priorizam enredos sobre a ancestralidade africana presente no Brasil.

Confira a entrevista na íntegra:

Quais são os pontos que conectam o samba e as mulheres?

Na verdade, não são pontos que se conectam, é um ponto só. O samba nasceu, o samba carioca nasceu das mãos de uma mulher, da Tia Ciata.

O samba de roda é um gênero musical tão acolhedor, tão democrático que ele abraça tudo, tudo cabe dentro do samba. Você pega uma música de MPB, você canta no samba, se pega um rock, você vai cantar samba.

Quer dizer, é um gênero que já foi criado pra ser o fundo musical das nossas vidas.

O samba carioca nasce das mãos de uma mulher e isso é muito emblemático, porque ele nasce das mãos dessa mulher e a imagem dela é apagada com o passar do tempo.

Nós temos muito, muito pouca informação sobre a Tia Ciata. Eu tenho uma curiosidade enorme sobre, por exemplo, como era o timbre de voz dela? Como é que ela dançava? Como é que ela tocava prato e faca? Quando ela improvisava no partido alto, quais são os versos que ela fazia?

Que tipo de poder essa mulher tinha para reunir políticos e a intelectualidade? A grande sociedade vivia na casa dela, o povo vivia na casa dela, os terreiros de candomblé viviam na casa dela.

Samba e mulher é um lugar onde a gente tem que tá.

O que me intriga é que as pessoas começam a falar de estrelas, que realmente são estrelas: Donga é estrela, Pixinguinha é estrela, João da Baiana é estrela, Heitor dos Prazeres é estrela, Cartola é estrela… Mas por que não continuar falando da Tia Ciata?

Qual é o caminho para que a presença das mulheres dentro das rodas seja naturalizado e não seja um ambiente hostil para vocês?

Pra entrar dentro desse ambiente, bem machista, declaradamente machista, na maioria das vezes homofóbico, transfóbico, a mulher, a gente tem que ter horas de voo.

É por isso que eu participo desse movimento, já faz alguns anos, de só trazer mulheres pra minha banda.

Quando essas mulheres são convidadas a estar em algum lugar, em alguma roda, eu percebo como é frágil a masculinidade, ela é uma coisa dúbia.

Igualmente como a branquitude com relação ao Carnaval. [A branquitude] tem poder, tem voz, é opressora, mas aí é só enxergar que pode perder o protagonismo em algum lugar e aí se cai a máscara.

Um cara que se sente incomodado com uma mulher tocando sete cordas na frente dele, é porque, em algum lugar, ele enxerga alguma mediocridade dentro dele, em algum lugar, ele entende que aquela mulher pode tirar o emprego dele.

Você tem um bloco que já saiu algumas vezes no Carnaval do Rio chamado Brec, Bloco Recreativo Enredo Cariocas. Conta como surgiu e qual a ideia?

A gente tá falando de memória, memória de samba enredo. A gente não pode esquecer que em 1969, um compositor dos sindicatos dos estivadores do Rio de Janeiro, que era o Silas de Oliveira, botou um samba na avenida chamado Herois da Liberdade, em pleno AI-5 [O Ato Institucional Número Cinco, de 1968, foi o mais duro dentre os decretados pela ditadura militar no Brasil (1965-1968)].

Uma escola do subúrbio carioca botando o dedo na ferida, inclusive pegando um pedacinho do hino nacional. Era um samba enredo que falava de revolução e que foi censurado pela ditadura militar.

Silas de Oliveira foi conduzido ao Dops [Departamento de Ordem Política e Social] para esclarecimentos sobre aquele samba.

A gente não pode esquecer disso, porque a gente viu agora, antes do Carnaval, um carnavalesco branco, com todo o privilégio que existe no mundo, muito bem pago e que cospe no prato que ele tá comendo.

Ele bate no peito pra dizer que não gosta de enredo afro, um discurso completamente arrogante, tentando minar a base que é um desfile, a criação de um enredo.

O Milton Cunha diz que um desfile de escola de samba é uma procissão, é uma procissão negra. Pelo menos quando a Portela escolhe Milton Nascimento para ser enredo, a ideia da Portela é fazer uma procissão na avenida.

Então, meu Deus, esses sambas não podem morrer, porque esses enredos ensinaram muita gente. Quando uma escola resolve cantar a história de um orixá, ela está ensinando a gente.

Foi a Beija-Flor que me ensinou a criação do mundo pela tradição nagô

Ou quando eu fui fazer minha prova lá no colégio, eu ganhei a nota máxima, porque eu lembrei da pedra de muiraquitã, que estava no samba enredo da Portela, do Macunaíma.

A branquitude não pode querer contar sempre a história dela, a história dela já está nos livros, já está, já está documentada. A nossa história tem que ser contada oralmente.


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