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Vera Iaconelli: Eunice Paiva é a heroína comum que representa uma ‘causa digna’

Após engajamento nacional por 'Ainda Estou Aqui' no Oscar, psicanalista celebra união para torcer pela arte

Um filme bem feito, premiado no Oscar, no Globo de Ouro e com grandes atores da teledramaturgia nacional. Para Vera Iaconelli tudo isso é importante, mas pouco para explicar o sucesso de Ainda Estou Aqui. A psicanalista aponta que o longa de Walter Salles mexeu em um lugar diferente da sociedade brasileira.

Para ela, o filme “vem responder uma aspiração que a gente está tendo enquanto país de se unir em torno de alguma causa que seja digna. E Eunice Paiva representa essa dignidade”, afirma em entrevista ao Conversa Bem Viver desta segunda-feira (10)

Iaconelli vai além: ela enxerga na figura da protagonista uma alta capacidade de empatia com o povo, principalmente às mães, mesmo aquelas com uma realidade socioeconômica diferente da família Paiva.

“Ela [Eunice Paiva] realmente representa não um herói idealizado, mas um herói comum. Tem muita Eunice por aí, tem muita Eunice na periferia de São Paulo. Tem muita mulher preta com seus cinco filhos, seus seis, oito filhos, trabalhando o dia inteiro, para que essas crianças não sejam jogadas na rua.”

“Por isso que as pessoas estão enlouquecidas, porque elas conseguem se identificar com essa mulher. Mesmo sendo uma mulher de classe média alta, a Eunice representa uma certa maternidade, um certo lugar da mulher na nossa sociedade, que permite que as crianças da periferia ainda tenham um cuidador principal que, infelizmente, se dependesse dos pais, não tinham ninguém, isso na periferia ou não”.

A psicanalista exalta como essa figura de heroína destoa do que o imaginário brasileiro estava habituado a ver, no caso, de uma pessoa com força física que por vezes usa da violência ou crueldade para combater o inimigo.

Para Vera Iaconelli, o superpoder da heroína de Ainda Estou Aqui é o cuidado.

“Isso é uma dimensão para a gente pensar a questão do feminino, que não precisa ser as mulheres, ao contrário, quem dera os homens começassem a se identificar com isso que é da ordem do feminino, que é botar o cuidado em primeiro lugar, não a competição, a violência, a concorrência, mas o cuidado.”

Confira a entrevista na íntegra

Conversa Bem Viver: A que você atribuiu o sucesso de bilheterias que Ainda Estou Aqui alcançou antes mesmo de conquistas os prêmios internacionais?

Vera Iaconelli: Esse filme é um fenômeno tão interessante porque ele é o filme certo na hora certa. Então é a união de fatores que deu uma dimensão quase de movimento.

Ele vem responder uma aspiração que a gente está tendo enquanto país de se unir em torno de alguma causa que seja digna, que seja bacana. E Eunice Paiva representa essa dignidade.

Então mesmo as pessoas que são de centro, centro-direita, que não são de esquerda, que condenam o que se passou na época da ditadura, mas acham que algumas pessoas mereciam, mesmo essas pessoas estão comovidas, entendendo que não se trata disso.

E a gente viu jovens que ouviram falar da ditadura como uma coisa longe se aproximando do filme. As figuras das crianças e dos jovens no filme, que é uma família fica batendo uma identificação imediata com os jovens de hoje.

Tem o fato de a protagonista ser a figura de uma mulher, dona de casa, mãe de família e ela é a grande heroína, representada por uma atriz que a gente ama, que é a Fernanda Torres, que é uma figura que já ganhou o coração da gente de todas formas, uma figura super autêntica, inteligente, uma artista cheia de competência.

Então, a gente tem muitas camadas que fazem com que o filme responda a uma certa aspiração nacional de busca por contar a nossa história, de ver a nossa história reconhecida internacionalmente, a partir de figuras com qual o brasileiro se identifica muito, que são essas figuras maternas, familiares.

Nem mais a copa cumpre essa função. A copa foi polarizada com a coisa da roupa verde e amarela, tem quem pode usar, quem não pode usar. E a gente viu as pessoas comemorando, voltando a usar o verde e amarelo.

Qual a importância para população de ter um novo herói, no caso, heroína?

Olha, tem uma coisa maravilhosa associada à figura da Eunice: quando a gente pensa em uma mulher heroína, muito frequentemente, a gente usa a chave masculina, então é aquela mulher que foi lá e fez como um homem.

A mulher para se dizer igual a um homem, uma heroína, ela usa a figura masculinizada, ou seja aquela que pega em armas e que então é dura com todo mundo, é meio cruel.

A Eunice não. A Eunice ela marca um lugar no qual a gente tem falado muito, que é do cuidado.

Qual é o grande heroísmo da Eunice? É fazer das tripas coração para cuidar dos cinco filhos.

Isso é uma dimensão para a gente pensar a questão do feminino, que não precisa ser as mulheres, ao contrário, quem dera os homens começassem a se identificar com isso que é da ordem do feminino, que é botar o cuidado em primeiro lugar, não a competição, a violência, a concorrência, mas o cuidado.

Porque uma sociedade se faz de cuidado, cuidados com velhos, cuidadas com crianças, cuidadas com mulheres, cuidados com homens, cuidado com natureza. É isso que a gente se une em sociedade para cuidar uns dos outros para sobreviver.

Então quando você pega uma heroína que o seu grande combate é nunca deixar de resistir… esse exemplo é gigantesco para os homens, o que a gente quer de uma sociedade.

Ela realmente representa não um herói idealizado, mas um herói comum. Tem muita Eunice por ai, tem muita Eunice na periferia de São Paulo.

Tem muita mulher preta com seus cinco filhos, seus seis, oito filhos, trabalhando o dia inteiro, para que essas crianças não sejam jogadas na rua.

Por isso que as pessoas estão enlouquecidas, porque elas conseguem se identificar com essa mulher. Mesmo sendo uma mulher de classe média alta, a Eunice representa uma certa maternidade, um certo lugar da mulher na nossa sociedade, que permite que as crianças da periferia ainda tenham um cuidador principal que, infelizmente, se dependesse dos pais, não tinham ninguém.

Essa comoção toda pode mover o eixo de emoção da população, no sentindo de olhar para um grande filme como se olha para uma grande seleção de futebol?

Eu estou na torcida total por os efeitos desse filme para muito além do Oscar. Veja, nós não estamos numa torcida por uma competição esportiva, o que já é super louvável, super bacana, eu amo o esporte brasileiro, sou daquelas que fica ali, que nem uma tonta torcendo, chorando e emocionando.

Mas, quando foi a última vez que a gente torceu pela arte? Porque a arte ela tem uma questão que é da reflexão. A arte é custosa, ela nos faz repensar quem somos, ela nos cutuca.

A arte ela tem essa função de reflexão, de inspiração e de alento. E no caso deste filme nós estamos sendo afetados por algo que nos fez refletir. E isso não é tão comum, isso é para ser comemorado muito, muito, muito, muito. É um filme que traz alento, inspiração

Então, caramba, isso já não é em si mesmo algo a mais para a gente comemorar? Que a gente possa ter o resgate do valor da arte que foi tão vilipendiada durante os últimos governos que chutaram todo o valor da arte, porque ela tem esse valor de reflexão que todos os governos autoritários vão bater de frente com os artistas por causa desse caráter reflexão de possibilidade de repensar quem somos.


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