Em 2004, o governo brasileiro enviou tropas do exército para o Haiti com objetivo de contribuir para a reorganização política do país. O envio dos militares fazia parte do esforço do Brasil dentro da Minustah – A missão das Nações Unidas para a estabilização do Haiti.
Em 2010, o escritor alagoano Thalles Gomes viajou até o país para participar de um movimento civil e solidário organizado pela Via Campesina de apoio ao povo haitiano. Naquele ano, o país foi afetado por um terremoto e sofria as consequências diretas do fracasso Minustah, com violência, doenças e pobreza.
A experiência internacionalista e solidária de Thalles foi a inspiração para o livro Ladrões de Cabrito, publicado recentemente pela Expressão Popular. No romance, o autor costura narrativas ficcionais inspiradas nos eventos reais, fazendo uma ponte entre dores e tragédias e conectando experiências entre Alagoas – terra natal do autor – e o Haiti.
No Conversa Bem Viver desta quinta-feira (26), ele falou sobre a inspiração para o livro, a relação entre a história dos dois países e também sobre o legado negativo da Minustah para o Haiti.
A personagem central da história é Judeline, uma médica e imigrante haitiana que, ao se relacionar com a elite alagoana, descobre que há muitas coisas em comum entre os dois países, principalmente problemas sociais e políticos.
Na trama, Thalles evidencia a crise gerada pela Missão das Nações Unidas e como a participação do exército brasileiro acabou se transformando, na prática, em laboratório da reabilitação política dos militares no Brasil.
“Aquela missão acabou sendo um laboratório para que muitos dos generais brasileiros do Exército pudessem se rearticular, se organizar e aplicar muito do que eles fizeram lá nas missões de pacificação nas favelas do Rio de Janeiro, e depois no governo Bolsonaro. Nós estamos sentindo até agora. Todo esse renascimento dessa articulação do Exército se deve à experiência que eles tiveram no Haiti. Inclusive, muitos generais que estão envolvidos nesse processo que vai agora a julgamento no STF participaram da missão no Haiti”.
O título do livro, “Ladrões de Cabrito”, é retirado de um expressão popular muito difundida entre os haitianos para se referir aos soldados brasileiros da Minustah. Segundo Thalles, em um determinado momento da operação, os militares de fato roubaram os animais. Os cabritos têm um significado especial para as comunidades rurais e, por causa dessas atitudes, a população passou a rejeitar os brasileiros.
“Para nós era algo muito difícil, porque nós estávamos lá como uma missão de solidariedade civil e como representantes da Via Campesina, mas aos olhos dos haitianos nós éramos os soldados que estavam ocupando aquele território, mesmo que a gente não estivesse participando da Minustah. Então, era muito comum a gente passar por alguma comunidade e ouvir o som de alguém imitando um cabrito, porque era muito recente essa experiência de alguns soldados terem roubado cabritos. E o cabrito era muito importante, segue sendo importante, porque é quase como uma poupança do camponês”.
Para escrever o romance, Thalles explica que tentou se desvencilhar de esteriótipos a respeito do imagem e, com isso, produzir uma narrativa crítica sobre a origem da pobreza haitiana. O escritor afirma que o Haiti paga, até hoje, um preço muito caro por ter tido a força de vencer as principais potências colonizadoras do século XVIII e operar transformações internas fundamentais para a soberania nacional, como abolição da escravatura e reforma agrária.
“O Haiti foi a primeira nação da América a derrotar as três maiores potências bélicas da época. É como se, hoje, um país da América Central derrotasse a China, os Estados Unidos e a Rússia, para comparar com os tempos atuais. Era o exército de Napoleão que perdeu para o Haiti”, contextualiza.
Ele insiste na genealogia histórica da crise haitiana para dizer que todas a iniciativas de estabilização do país acabam por rotular o local apenas como um povo incapaz de se autogovernar, sem atentar para as forças externas que alimentam e produzem a violência contra os haitianos.
“Foi cobrado um preço muito caro para o Haiti pós-independência. Essas nações se juntaram para fazer com que o Haiti nunca mais pudesse ter uma soberania, uma autonomia. Foi cobrada uma dívida da independência para eles, que tornou o Haiti, desde então, ingovernável, no sentido de criar uma dívida externa, que boa parte do que se produzia no país era para pagar os juros dessa dívida”, recordou, mostrando a força de nações imperialistas no sufocamento do Haiti.
Na entrevista, Thalles destaca que é útil aos países imperialistas alimentar a imagem negativa do Haiti, porque ofusca, na prática, o outro lado da história: a potência de um povo que ousou e conseguiu a sua independência.
“Não tem ninguém que possa falar sobre reforma agrária, que possa falar sobre luta antirracista, que possa falar sobre luta anti-imperialista, que não tenha que pagar a devida referência ao exemplo haitiano. E, ao mesmo tempo, o Haiti é o laboratório de tudo aquilo que se fez de equivocado e ruim nesse continente. Ocupações estrangeiras, experiências neoliberais nefastas, tudo aquilo que a gente vê em outros países foi, infelizmente, testado e tentado antes no Haiti. Ele não é um país pobre, ele é um país que foi ocupado. É um país que sofreu uma série de violências ao longo da sua história”, concluiu.

Confira como ouvir e acompanhar o Programa Bem Viver nas rádios parceiras e plataformas de podcast do Brasil de Fato.
Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

O programa de rádio Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. A versão em vídeo é semanal e vai ao ar aos sábados a partir das 13h30 no YouTube do Brasil de Fato e TVs retransmissoras: Basta clicar aqui.
A programação também fica disponível na Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver está nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para ser incluído na nossa lista de distribuição, entre em contato por meio do formulário.