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‘Toda pessoa tem lugar de fala no combate ao racismo’, cobra escritora Midiã Noelle

Autora foi incluída na lista de Mulheres Inspiradoras da Think Olga, em 2016

Lançado neste ano, o livro Comunicação antirracista: um guia para se comunicar com todas as pessoas, em todos os lugares (Editora Planeta), de Midiã Neolle, propõe uma reflexão sobre como o combate ao racismo pode ser aplicado por toda população em ações do cotidiano.

“Comunicação antirracista é não naturalizar expressões racistas ou desumanizantes de pessoas negras”, resume a autora em entrevista ao Conversa Bem Viver desta terça-feira (8).

“É você reconhecer que todas as pessoas têm lugar de fala no combate ao racismo. Muitas pessoas se escondem afirmando: ‘Eu não posso falar sobre isso, porque eu não estou no meu lugar de fala, poxa, é uma coisa que é da pessoa’.”

“Lugar de fala é diferente de representatividade. É um dever de todas as pessoas a partir de sua realidade falar”, finaliza Noelle.

Segundo a autora, um dos objetivos da obra é pôr a comunicação como um elemento fundamental para o combate ao racismo, ampliando o aspecto de políticas públicas necessárias para enfrentar esse tipo de violência.

“Acabou essa lógica ferramental, de que a comunicação é fazer cards, fazer texto. Nós somos pensadores, a gente constrói estratégias. A comunicação, junto com a tecnologia e educação, consegue levantar e derrubar presidentes.”

“Este livro tem o objetivo de explicar como algumas palavras beneficiam uma continuidade de uma percepção racista na sociedade.”

Confira a entrevista na íntegra

Como você define comunicação antirracista?

Apenas aquela pessoa, seja negra ou não negra, que se reconhece num processo de semelhança, de entendimento com outra pessoa, consegue exercer uma comunicação antirracista.

Comunicação antirracista é transformação. Não há outro caminho hoje pra gente poder combater a desinformação e promover uma real democracia se não for a partir dela.

Eu costumo falar que, por exemplo, as palavras, no ponto da linguagem, também geram sentido.

Então, por exemplo: buraco negro, buraco negro é um buraco negro e ponto. Ele não é melhor ou pior porque ele é um buraco negro, ele é um buraco negro, um buraco escuro.

O que é totalmente diferente de lista negra. Quando você traz na fala lista negra você está adjetivando, colocando ali um sentido de que é negativo, é uma lista negativa, assim como inveja branca, inveja não precisa ser inveja branca para atenuar aquilo que é inveja.

Então, a gente precisa entender que a construção das palavras do nosso dia a dia vem de um processo histórico de significados.

Acabou essa lógica ferramental, de que a comunicação é fazer cards, fazer texto. Nós somos pensadores, a gente constrói estratégias. A comunicação, junto com a tecnologia e educação, consegue levantar e derrubar presidentes.

Este livro tem o objetivo de explicar como algumas palavras beneficiam uma continuidade de uma percepção racista na sociedade.

Lembrando que pessoas negras não são racistas, porque não tem como a gente ser vítima ao mesmo tempo algoz da mesma construção de violência.

Muitas pessoas falam “ah, as pessoas pretas também são racistas”, não tem como.

E aqui eu cito Neusa Santos Souza, quando ela escreveu Torna-se Negro. Ela fala como esse processo da violência impacta a gente no reconhecimento do ser negro.

Denegrir a nossa mente, que é tornar-se negro, é um processo como a pílula de Matrix. Depois que você toma, não há outro caminho.

Como foi o processo de construção do livro?

Eu costumo dizer que esse livro não foi construído em três meses, que foi o tempo que eu escrevi, porque eu trouxe toda a minha vida, minha bagagem, minha vida toda pra esse livro.

Eu tive muita sorte do movimento feminista negro me abraçar e me conduzir nessa lógica de uma puxa a outra e abrindo no meu olhar, descortinar mesmo meus olhares.

Tem uma frase da Clarice [Lispector], e não é frase de Facebook nem de Instagram, é frase dela mesmo, que é “ou toca ou não toca”. O sentido é isso, ou você sente ou você não sente.

Comunicação antirracista é não naturalizar expressões racistas ou desumanizantes de pessoas negras.

Esquecer essa lógica de campanhas que vão falar sobre uma criança e vão colocar ela chorando, uma campanha publicitária pedindo dinheiro pra ajudar essa família, sei lá, de África, que é o que fazem muito.

Não é isso. É mostrar como que sua doação quer contribuir para essa pessoa se empoderar e ter uma vida mais bonita, ter uma vida com garantia de direitos. Isso é uma comunicação que respeita a dignidade humana de pessoas negras.

É você reconhecer que todas as pessoas têm lugar de fala no combate ao racismo. Muitas pessoas se escondem afirmando: “Eu não posso falar sobre isso, porque eu não estou no meu lugar de fala, poxa, é uma coisa que é da pessoa.”

Aí eu falo: “Não leu o livro, hein, não entendeu o conceito de Djamila [Ribeiro]’’.

Porque Djamila, quando populariza o lugar de fala, que também não é um conceito que surge com ela, mas ela populariza, brilhantemente, ela fala que toda e qualquer pessoa tem lugar para falar sobre qualquer assunto, porque lugar de fala é diferente de representatividade.

Por exemplo, essa ideia de que uma pessoa, um homem branco, não vai poder falar sobre um caso de racismo só porque ele não é um homem negro. Não, ele tem que falar. É um dever de todas as pessoas a partir de sua realidade falar.

O livro tem um lançamento marcado para Nova Iorque, certo?

A gente vai ter um evento paralelo ao foro internacional de povos afrodescendentes, que é um evento das Nações Unidas, que acontece anualmente para poder debater tanto essa agenda da década dos povos afrodescendentes, como também para trazer o que os países estão pensando para a pauta e a gente se organizar internacionalmente.

Então lá a gente vai ter o Diálogos Antirracistas, que está sendo promovido pelo projeto de educação antirracista com várias organizações que pensam a educação antirrracista aqui no Brasil, como o Geledés ou a Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

E eu estarei lá falando sobre o livro e trazendo também esse momento de autógrafos para falar com a comunidade internacional, mas também com aqueles brasileiros da diáspora, que estão aí também ocupando os Estados Unidos em espaços nesse momento que a gente está vivendo.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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