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‘Universidade rural tem que fortalecer reforma agrária, não ser um caminho ao agronegócio’, defende professor

Caio Meneses, natural do Sertão do Pajeú (PE), é poeta e lançou recentemente o livro 'Política da Natureza'

Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Caio Meneses teme que o ensino superior dentro do meio rural brasileiro se volte para as práticas do agronegócio.

Formado neste mesmo campus, localizado na região de Serra Talhada, o professor com pós-graduação em agroecologia celebra o avanço das instituições para o interior do Brasil e considera um marco na educação brasileira.

“Você pensa que é uma grande transformação pra gente do nosso país estar dando a oportunidade para filhos e filhas da zona rural brasileira, da agricultura familiar camponesa, poder adquirir mais conhecimento para voltar mais fortalecido para a sua comunidade”, defende em entrevista ao Conversa Bem Viver desta quinta-feira (10).

No entanto, ele teme que esse avanço venha junto de um patrocínio do setor do agronegócio para impor seus interesses nos currículos. “O que deve ser ensinado nas universidades tem que ser a partir do conhecimento de cada território e os saberes populares dos camponeses e das camponesas.”

“A gente não pode cair nessa armadilha de pensar que a educação superior é um caminho pra acessar o conhecimento do agronegócio. Não pode ser isso. A universidade tem que fortalecer a volta ao campo, tem que fortalecer a reforma agrária.”

Natural do Sertão do Pajeú, no interior de Pernambuco, Caio Meneses é poeta, como manda a tradição da região, ele conta. Recentemente, o professor lançou seu primeiro livro de poesia, Política da Natureza. O exemplar pode ser adquirido conversando com o próprio autor nas redes sociais.

Na entrevista ele conta da onde surgiu o dito popular que diz que “no Pajeú, quem não é poeta, é louco, e quem é louco faz poesia”.

Confira a entrevista na íntegra

Da onde surgiu o dito popular “no Pajeú, quem não é poeta, é louco, e quem é louco faz poesia”?

A população diz essa frase há muito tempo. Eu não posso confirmar a autoria, mas eu posso dizer que essa frase se democratizou, se espalhou no nosso seio, no nosso território, muito partir do cantador do poeta Zeto.

São José do Egito, a minha cidade, tem pessoas que a gente facilmente categorizaria como loucos, pessoas que vivem no que hoje a gente chama de situação de rua, porque não conseguiram um diagnóstico e, enfim, foram viver nas ruas.

Mas são pessoas de uma inteligência maravilhosa que convivem até hoje muito bem com a sociedade.

Eu posso te dizer que uma parte significativa da nossa filosofia vem dos loucos, dos doidos, que, independente da forma como vivem, expressam na sua oralidade, uma sabedoria que resume muito bem o entendimento do nosso território.

E é claro que essas pessoas conviveram muito com os poetas, que também têm um pouco de doido. E essa convivência toda eu acho que fez surgir esse dito popular, essa mistura de loucura com poesia, que dá certo demais.

E da onde vem esse espírito poeta que caracteriza o sertão do Pajeú?

Você fez uma pergunta muito boa e nos leva para um outro mito que existe na nossa região.

Conta-se que certa feita, os cantadores de viola eram perseguidos pela coroa portuguesa, porque cantavam a liberdade através dos seus versos e, se sentindo ameaçados e cercados pelas pessoas que, naquele momento, representavam esse poder hostil, tiveram que enterrar as suas violas.

E enterraram as três violas no leito do rio Pajeú. E aí reza a lenda que aquelas violas encantaram o solo, encantaram a água.

E aí toda a água que desce pelo rio Pajeú e é consumida pelos seus habitantes, transforma dentro da gente essa capacidade de poesia.

Se a gente olhar no processo histórico, a formação da nossa sociedade, da invasão portuguesa e da ocupação desse território sertanejo, à época, para a criação de gado, você vai ver nos registros mais antigos que as pessoas que entraram com o gado para estabelecer as fazendas já entraram fazendo versos.

Porque, segundo os autores que se debruçam na temática, essas pessoas vinham da Península Ibérica, que foi colonizada pelos mouros durante 700 anos, e essa influência árabe dos trovadores, do aboio, da roupa de couro, isso veio pra cá… Uso da rabeca, uso do pandeiro…

E as populações que adentraram pra essa região semiárida para trabalhar nessas fazendas eram pessoas que já tinham na oralidade a palavra rimada.

É claro que isso vai se misturar, né, com a população que veio de África e com os povos indígenas.

E aí a gente vai ver que essa poesia que começa cantando gado, passa a cantar a estiagem, o abandono político da região, depois, em outra geração, passa a decantar a beleza da Caatinga, a saudade das pessoas que foram embora das suas comunidades rurais para viver em São Paulo, Rio de Janeiro na época da industrialização brasileira.

Você como uma pessoa formada na universidade rural e que segue atuando em outra, como vê o ensino superior no campo hoje?

Eu me formei em Serra Talhada, no sertão do Pajeú, na Unidade Acadêmica de Serra Talhada, uma universidade que foi criada em 2006, numa época que, no Brasil, para estudar você tinha que ser de uma família abastada que tinha condições de mandar o filho ou a filha para capital, que era onde existiam as universidades.

E aí eu costumo dizer que a universidade foi me buscar em Serra Talhada. Eu estava em São José do Egito e a universidade foi para 100 quilômetros de mim.

Eu me formei e virei professor em Bom Jesus, no sul do Piauí, numa universidade também criada em 2006, a 700 quilômetros da capital Teresina.

Eu lembro, quando cheguei para dar o meu primeiro dia de aula em Bom Jesus, em 2015, eu perguntei para os estudantes quem era filho ou filha de agricultor familiar e 80% dos meus alunos levantaram a mão.

Aí você pensa que é uma grande transformação pra gente do nosso país estar dando a oportunidade para filhos e filhas da zona rural brasileira, da agricultura familiar camponesa, poder adquirir mais conhecimento para voltar mais fortalecido para a sua comunidade.

Mas nós precisamos dar um passo mais adiante. O que deve ser ensinado nas universidades tem que ser a partir do conhecimento de cada território e os saberes populares dos camponeses e das camponesas.

A gente não pode cair nessa armadilha de pensar que a educação superior é um caminho pra acessar o conhecimento do agronegócio. Não pode ser isso.

A universidade tem que fortalecer a volta ao campo, tem que fortalecer a reforma agrária.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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