A máxima “Você é o que você come” faz parte de uma sabedoria popular antiga, que, para Bela Gil, mantém um significado importante na sociedade atual.
Segundo a apresentadora e chef de cozinha, a banalização do consumo de ultraprocessados, como refrigerantes, macarrão instantâneo, bolachas e afins, tem impacto no humor e jeito de agir e reagir das pessoas.
“Esse comportamento agressivo, violento, que a gente tem inflamado, esses discursos inflamados têm muito a ver com a nossa dieta, que é inflamatória, que é essa dieta à base de ultraprocessados. Ela traz comportamentos agressivos”, define, em entrevista ao Conversa Bem Viver desta sexta-feira (11).
Apesar de descrever um cenário preocupante, Bela Gil diz acreditar numa mudança de comportamento da sociedade que, segundo ela, vai partir de uma “consciência alimentar” que está diretamente ligada à relação da sociedade com a natureza e com a agricultura.
“Eu falo muito que existe um arquétipo muito masculino, violento e agressivo para com a agricultura, para com a terra, para com os alimentos na nossa agricultura moderna.”
“Com certeza a agroecologia é uma agricultura mais cuidadosa e carrega o arquétipo feminino”, capaz de levar a nossa sociedade a um “caminho mais harmônico”, defende Bela Gil.
Confira a entrevista na íntegra
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) acabou de completar 70 anos. Qual a importância dessa política pública?
O Pnae é uma ferramenta excelente de saúde pública, mas também de segurança
alimentar. Infelizmente, ainda no Brasil, temos muitas crianças que têm como única refeição garantida a merenda escolar.
Então, é um programa fundamental que alimenta mais de 50 milhões de crianças e jovens do nosso país.
Eu sou muito suspeita, trabalhando com alimentação há muitos anos, mas posso dizer que é um dos programas mais lindos do mundo.
O governo recentemente adotou uma resolução que garantiu a inclusão de mulheres como grupo prioritário nas chamadas públicas e a garantia de que pelo menos 50% das aquisições feitas diretamente da unidade familiar sejam registradas em nome da mulher. Como você avalia a medida?
Essa resolução é muito importante para valorizar um trabalho que muitas vezes a gente não dá valor que é o trabalho do cuidado. É algo que tem um protagonismo feminino muito grande.
Então é uma forma da gente garantir também uma certa equidade no poder dentro de casa, dentro da família para as mulheres, saindo daquele lugar de que o homem que traz o dinheiro para casa, o que muitas vezes gera um ambiente de violência, de agressão, um ambiente muitas vezes de subserviência feminina.
Fora que a gente também valoriza esse trabalho do cuidado com o alimento também. Eu falo muito que existe um arquétipo muito masculino, violento e agressivo para com a agricultura, para com a terra, para com os alimentos na nossa agricultura moderna.
Então, quando a gente traz isso para as mãos femininas, a gente está mostrando que
a gente pode e deve dar voz para uma agricultura mais cuidadosa, agroecológica, saudável, sem veneno, que é liderada majoritariamente por mulheres.
Você está dizendo que o agronegócio é uma a agricultura masculinizada?
É uma agricultura dominada pelo arquétipo masculino, eu não estou dizendo aqui exatamente em relação a gênero feminino, masculino, homem e mulher, mas do arquétipo, do que a gente entende como masculino, que é violento, agressivo.
Com certeza a agroecologia é uma agricultura mais cuidadosa e carrega o arquétipo feminino.
Este ano também o governo reduziu o percentual de ultraprocessados permitidos dentro das escolas públicas. Era 20%, agora passou para 15% e ano que vem será 10%. Podemos chamar de vitória? Ou só seria vitória se fosse 0%?
É um caminho. Chamar de vitória talvez seja muito prepotente, mas eu acredito que a gente está num caminho.
É um jeito do Estado assumir a sua responsabilidade para com a saúde das crianças, dos jovens, das pessoas que se alimentam do Programa Nacional da Alimentação Escolar.
A gente já sabe que os ultraprocessados fazem mal à saúde. Eles estão relacionados a doenças crônicas não transmissíveis, que são responsáveis por 70% das mortes no Brasil hoje.
A gente já tem um estudo que mostra que quase 60 mil pessoas morrem por ano por causa do consumo de ultraprocessados.
E é também uma atitude responsável no sentido de essa redução ser gradual, porque a gente sabe do tamanho do Brasil e que muitas vezes é mais fácil as escolas terem acesso a produtos ultraprocessados.
Então a retirada brusca assim para eliminar completamente talvez gerasse um outro problema.
Mas o importante é que o governo aponte que o objetivo é que a gente zere os produtos processados nas escolas, porque são alimentos que fazem mal à saúde, não deveriam ser oferecidos pelo Estado, não deveriam ser oferecidos pelo governo.
E você consome ultraprocessados?
Olha, a minha resposta prática é não, não como. De verdade, eu não tomo refrigerante, nada do que é considerado ultraprocessado.
Mas eu tenho muitos privilégios que me dão acesso a uma comida saudável, uma comida de qualidade.
Eu sou um ponto fora da curva nesse lugar. Eu posso porque eu tenho a consciência de que eu quero comer bem e eu tenho todos os apoios para conseguir colocar em prática esse meu desejo de comer bem.
De qualquer forma, o primeiro passo é esse: ter um desejo. Querer comer bem já é uma coisa. Agora colocar em prática são outros quinhentos.
Eu consigo fazer isso porque eu tenho muitos acessos. Eu sou uma pessoa privilegiada nesse lugar e construí isso também ao longo da vida.
Precisamos entender que a alimentação vegana é a resposta necessária para todas as pessoas ou, na verdade, é um caminho importante que parte da população precisa adotar?
Sim, é um caminho. Eu não acredito que todos no mundo precisam ser veganos ou vegetarianos, mas é claro, evidente, que a gente, a população mundial, adotando uma dieta carnívora, como a ocidental, o mundo não aguenta.
Então as pessoas precisam se conscientizar dos benefícios de uma alimentação vegetariana e vegana para a saúde individual, para a saúde coletiva e para o meio ambiente. É um caminho que a gente tem para mitigar o aquecimento global, é um caminho que a gente tem para reverter esse problema ambiental que a gente está enfrentando.
Falando com você me veio uma comparação, posso usar como metáfora a vacina, né? A gente toma vacina às vezes não só pela gente, mas pelo bem do coletivo.
Viralizou nas redes sociais pessoas oferecendo frutas como forma de fazer um detox do fígado, que é uma forma de limpar o órgão, quase como algo mágico. Ao que te remete um anúncio desses?
O ser humano tende a buscar essas soluções fáceis, mas precisamos de uma mudança de padrão comportamental e para isso a educação alimentar é fundamental.
As pessoas que se convencem facilmente de uma receita mágica, rápida, que vai salvar a sua vida, está muito condicionada a uma dieta baseada em ultraprocessados, que muitas vezes acaba viciando o nosso paladar.
Alimentos ultraprocessados são muito práticos, rápidos, fáceis, altamente palatáveis.
A gente precisa trabalhar para que as pessoas cresçam e se desenvolvam com um paladar no qual elas apreciem os legumes, as verduras, as plantas em geral, e apreciem uma alimentação verdadeiramente saudável, uma alimentação baseada em vegetais, por exemplo.
É um sintoma, o que você está me trazendo. Eu acho que é um reflexo, é um sintoma dessa sociedade doente que a gente tem, que busca numa injeção uma receita mágica, que muitas vezes não tem comprovação nenhuma, ou que vai mudar a vida.
Você está me trazendo um retrato, um reflexo, uma consequência, um sintoma dessa sociedade que realmente está doente, comendo mal e que eu espero mesmo que a gente consiga ter uma próxima geração com uma consciência alimentar.
Porque muita coisa vai mudar, o comportamento humano muda. Esse comportamento agressivo, violento que a gente tem inflamado, esses discursos inflamados têm muito a ver com a nossa dieta, que é inflamatória, que é essa dieta à base de ultraprocessados. Ela traz comportamentos agressivos.
Então eu realmente acredito na transformação da nossa sociedade para um caminho mais harmônico através da mudança alimentar, através da mudança da forma como a gente produz e como a gente consome os alimentos, menos violenta.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
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