O preço dos alimentos no país vem acumulando altas. Apenas em março, a comida subiu 1,17%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A situação preocupa especialistas, como é o caso do ex-ministro José Graziano da Silva, que atuou no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na pasta de segurança alimentar e combate à fome, e foi responsável por implementar o programa Fome Zero.
Para o especialista, dois pontos precisam ser destacados para explicar a alta. O primeiro são as incertezas globais provocadas pela “postura do presidente Trump”. “Essa turbulência acaba nos afetando a todos, porque cria uma expectativa de que as coisas vão subir”, explica em entrevista ao Conversa Bem Viver desta segunda-feira (14)
Mas Graziano também aponta para questões internas no Brasil. Por exemplo a postura de país “celeiro do mundo”, que prioriza a exportação e não o controle do preço interno, indexando alguns itens ao dólar. O especialista fala também da dificuldade do Brasil em retomar os estoques de grãos, como arroz e feijão.
Por fim, Graziano aponta como medida prática e efetiva para o momento atual um diálogo entre o governo, os donos das redes de supermercado e das cadeias produtivas.
“Os supermercados no Brasil não têm nenhum papel social, é um puro papel comercial. Isso precisava ter acompanhamento, monitoramento. Essa é uma política que falta muito”, afirma.
“Então o governo tem o direito e o dever de chamar os caras para conversar: ‘Olha, não dá para manter um preço desse’.”
Confira a entrevista na íntegra
Como o senhor viu o resultado da inflação de março?
Isso reflete bem a incerteza que estamos vivendo nos dias de hoje, muito agravada pela postura do presidente [Donald] Trump dos Estados Unidos de fazer uma alta incrível nas taxas de produtos para praticamente todos os países do mundo.
Então, isso causa uma certa turbulência nos mercados, como costumam chamar os da Faria Lima. E essa turbulência acaba afetando a todos, porque cria uma expectativa de que as coisas vão subir, e isso é o que faz a especulação. A especulação é basicamente isso, criar uma expectativa de que amanhã vai ser mais caro.
Aparentemente a inflação brasileira está não apenas sob controle, como está caindo, mostra sinais de queda. Esse IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o índice oficial de inflação do país] de 0,56% vai um pouco nessa direção. Não é o que nós gostaríamos, mas é uma queda, mostra uma tendência de queda.
Isso tem muito a ver com o remédio que nós estamos tomando, que é os juros de 14%, um dos maiores, senão o maior juros do mundo.
Como é que isso reflete nesses índices de alimentação? Essas mudanças todas estão afetando um dos preços fundamentais no mundo todo, que é o preço do dólar. Cada dia é um número diferente, você imagina fazer o cálculo de um importador ou um exportador do que ele vai comprar.
O caso do ovo é um caso exemplar. O que acontece com o ovo? Tem uma crise de produção nos Estados Unidos. Os Estados Unidos sofrem com um problema da gripe aviária, que nós já tivemos no Brasil no passado, em 2003, e isso corta drasticamente a produção de ovos, fazendo o país passar a importar.
Isso significa que o preço do ovo passa a ser indexado ao dólar. Quando um produto tem uma grande proporção para ser exportada, o preço interno do produto, do que fica no Brasil, passa a acompanhar o valor do produto exportado. E é isso que nós temos em grande parte dos nossos alimentos, uma indexação ao dólar.
De uma maneira diferente, é isso acontece com o feijão também. Quando o valor da soja aumenta, quem produz feijão pode deixar de plantar para priorizar a soja, para ganhar mais dinheiro vendendo lá fora. Mas afeta o preço do produto aqui no Brasil.
O Brasil se abre para ser um grande produtor e exportador de alimentos pro mundo, mas, de alguma maneira, ele internaliza esses preços em dólar sem ter uma estrutura preparada pra isso.
Um país que se propõe a ter essa política exportadora precisa ter mecanismo defensivo interno. Um, por exemplo, que o mundo todo tem, são os estoques. Os estoques são recomendados para prevenir problemas de secas, cheias e outras intempéries.
O Brasil, com a irresponsabilidade do governo Bolsonaro, zerou todos os estoques de alimentos. O governo Lula entrou com estoques zero e a tentativa de recompor levou um bom tempo porque falta recurso, os armazéns estavam deteriorados, os canais de compra estavam desativados.
Enfim, essa política hoje está sendo recomposta, mas ainda não temos resultados para apresentar.
Que medidas o senhor apontaria frente a essa situação?
Esse é o típico problema que não tem uma bala de prata. Ela tem uma série de circunstâncias estruturais que afetam os preços dos alimentos.
Não é de hoje que os preços dos alimentos vêm subindo. Eu acabei de ver uma pesquisa que mostra que entre 2009 e 2023, uma série de produtos alimentícios aumentaram mais de 300%.
E nessa lista é impressionante, porque inclui produtos como batata, ovos, mandioca, carne de boi, cebolas e cítricos. Mostrando que não é um problema acidental de uma seca, de uma geada. É uma questão estrutural.
Nós não tínhamos uma política de abastecimento até entrar no governo Lula. O governo precisa ter um sistema de monitorar preços, saber quando o preço está subindo demais. E a maior parte dessas cadeias produtivas dependem de recursos do governo, crédito, uma série de medidas sanitárias, etc.
Então o governo tem o direito e o dever de chamar os caras para conversar: “Olha, não dá para manter um preço desse”. Os supermercados no Brasil não têm nenhum papel social, é um puro papel comercial. Isso precisava ter acompanhamento, monitoramento. Essa é uma política que falta muito.
Falta também pensar em circuitos alternativos. Os municípios têm um papel muito importante no abastecimento. Então, feiras livres, programa de estímulo à comercialização de produtos de estação, por exemplo, que os municípios podem fazer e deviam fazer e fizeram durante muito tempo.
Essa guerra tarifárias imposta pelo Donald Trump pode afetar a ambição do Brasil de sair do Mapa da Fome até 2026?
O Brasil tem todas as condições e eu acredito que vai, sim, sair do mapa da fome novamente em 2026. O impacto das tarifas não deve afetar tanto a nossa capacidade de abastecimento interno.
Claro que nós temos um perigo grande aí, que é o que vai passar nessa guerra particular entre os Estados Unidos e China. Se a China voltar a ser o aspirador de chinês, de sair a comprar todos os produtos do Brasil, aí nós temos um problema.
Mas o chinês não gosta muito de feijão e arroz eles têm suficiente. Então eu acho que basicamente os produtos de abastecimento nosso não serão tão afetados.
Eu acredito que, particularmente no caso brasileiro, nós podemos ter, sim, algum benefício no sentido de abrir mais mercados. Mas tem também muitos riscos, por exemplo, aumentar a dependência da China.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
O programa de rádio Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil de Fato. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo. A versão em vídeo é semanal e vai ao ar aos sábados a partir das 13h30 no YouTube do Brasil de Fato e TVs retransmissoras: Basta clicar aqui.
A programação também fica disponível na Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver está nas plataformas: Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.
Assim como os demais conteúdos, o Brasil de Fato disponibiliza o programa Bem Viver de forma gratuita para rádios comunitárias, rádios-poste e outras emissoras que manifestarem interesse em veicular o conteúdo. Para ser incluído na nossa lista de distribuição, entre em contato por meio do formulário.